terça-feira, 17 de novembro de 2009

CONSCIÊNCIA NEGRA 1

É uma ficção, mas baseada em fatos reais.
Baseada na história de Besouro Mangangá, capoeirista que viveu na década de 1920.
É uma história linda que fala da capoeira, do candomblé e acima de tudo fala de nós negros.
Bom para os negros,
Bom para os brancos,
Bom para os brasileiros que todos nós somos!!!

Me esvaziando...


Ontem quando deitei sabia que não iria dormir...
Rubem Alves disse que para dormirmos nossa cabeça precisa estar vazia de pensamentos,
E eu lhe entendi perfeitamente.
Ontem minha cabeça não estava apenas cheia de pensamentos,
Eles pulavam aqui dentro, agitando-me...
Mas eu decidi não tomar nenhuma providência.
Acreditando que eles podiam ir embora sozinhos.
No meu peito um bolo, um novelo embolado que eu não estava muito a fim de desembolar,
Não naquele momento.
Fingi que acreditava que ele iria desembolar sozinho.
No fim na noite, início da manhã,
Senti com urgência o quanto precisava me esvaziar...
Acho que na verdade eu deveria cancelar todos os meus compromissos,
Para dar conta de tamanha tarefa.
Eu quero ir além, mas estou com assustada com a quantidade de coisas que estou vendo e percebendo ultimamente.
Acho que estou tendo uns vislumbres de mim mesma
E não vou hesitar em afirmar que tenho medo disso.
Tenho medo do abismo que há por trás das máscaras que eu uso.
Tenho medo daquilo que não vejo,
Daquilo que não percebo, mas que está o tempo todo debaixo do meu nariz.
Ainda não sei viver sem o meu senso de onipotência
E estou muito, muito assustada com estas revelações.
Durante muito tempo eu pensei que fosse forte,
Mas não sei de onde tirei esta idéia,
Sempre evitei situações que pudessem me fortalecer de verdade e me fazer crescer.
Sempre gostei de conforto e estabilidade,
E isso sempre me limitou.
Eu sempre soube que tinha potencial para ser uma grande mulher e achei que por si só isso fosse alguma coisa,
Ingenuidade,
Imaturidade e arrogância.
É preciso me esvaziar destas coisas que estão tão enraizadas...
Mas não suporto ver minhas fraquezas,
Elas me ameaçam,
Mas preciso enxergá-las para que eu não seja derrotada por elas.
Possuir pontos fracos não significa que você vai carregá-los durante toda a vida.
Pontos fracos não são marcas definitivas, não são rótulos, estigmas...
Pontos vulneráveis significam que algo pode ser transformado
Se quisermos ver, se resistirmos ao impacto da visão,
Que na realidade nem é tão aterradora assim
Por mais que os fatos nos surpreendam, nos choquem, nos arranquem o chão debaixo de nossos pés,
Você integra mais uma peça ao seu quebra-cabeças,
As coisas vão se encaixando perfeitamente por mais doloroso que possa ser
E então você sente paz.
E dorme profundamente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Escolhas

Escolhas, afinal de contas o que são escolhas?
Escolher pressupõe ser livre, mas ao mesmo tempo não temos o poder de fazer escolhas ilimitadas.
Escolhemos até onde nossa história pessoal nos permite escolher...
Escolhemos até onde nossa família nos permite escolher...
Escolhemos até onde nossa classe social nos permite escolher.
Penso que é isso que nos faz diferentes quando todos viemos ao mundo de uma mesma maneira.
Fico me perguntando se é possível transcender todas essas coisas...
Sei que a resposta desta pergunta está na palavra consciência,
Mas hoje não me pergunte sobre consciência,
Não me peça para ir além,
Minha visão está turva demais...



Paula
16.11.2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O GRITO

Martha Medeiros
Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio. Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar este grito com conversas tolas, elocubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe.



É Martha, eu também sei...