segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Entenda como puder...


Eu enxerguei melhor quando me afastei,
E então pude entender porque sempre falavam que eu sofria demais.
Agora acredito que sofro mais do que deveria,
E não posso culpar ninguém além de mim mesma por isso.
É a minha cosmovisão que acrescenta pesos extras à minha jornada.
Agora mesmo me pergunto se serei capaz de abandonar algumas bagagens pelo caminho,
Porque não há como seguir viagem sem fazer escolhas importantes.
Só de pensar meu coração se aperta, pois perder ainda não é um assunto que trato com a naturalidade que deveria...
Como se não fossem as perdas que me ocorreram, o substrato que fizeram de mim quem sou hoje.
Mas à medida que avanço como é de se esperar, o caminho se torna ainda mais difícil.
Devo abandonar minhas certezas e até a imagem que faço de mim mesma.
Tenho descoberto que não sou o que penso que sou.
Este encontro será menos dolorido, menos sofrido, se eu abandonar minhas certezas aqui neste chão.
E seguir neste caminho sem nada em minhas mãos.
Já houve um tempo em que eu tinha tanto medo, que eu me alimentava dia e noite de atitudes insanas...
Eu não conseguia me ver de mãos vazias, desocupadas, livres...
Liberdade era apenas um sonho, um desejo, um ideal. Eu falava dela pelos quatro cantos da cidade.
Agora que a liberdade me possuiu, deixei de falar em liberdade. E estou pronta para o próximo passo.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O nome do outro


O outro é o diferente,
É o que instiga, o que provoca.
É o que chama para olhar para fora.
O outro é o desconhecido,
É o incompreensível, o que não se pode prever ou controlar.
O outro dá medo,
É o que mexe, o que desestrutura, bagunça e desorganiza.
O outro pede passagem, pois ele deseja um espaço para nos fazer crescer.
O outro pode ter um nome para mim e outros nomes para você. O outro pode ser a pessoa amada, um amigo ou amiga, um bebê, um livro diferente, uma viagem, um trabalho novo, um novo ciclo ou etapa da vida, enfim, o outro pode ser até eu mesmo.

sábado, 3 de setembro de 2011

A mártir

Cheia de amarras, ela se recusa a ceder lugar à vida...

Desconhece os seus mistérios, as suas maravilhas.

Investe seu precioso tempo embalando, alimentando, fortalecendo sua dor.

Este é seu principal motivo para viver, uma perda que não consegue superar, resolver...

Não percebe como é tão centrada em si mesma,

Nem como seu mundo é sem graça, monocromático.

Pois eu digo que para mim já basta, não quero um peso morto em meus ombros!

Não quero receber influências de mulheres cronicamente tristes!

Que vão se arrastando pela vida sem o mínimo de dignidade.

Não me entendam mal, não estou sendo cruel, apenas impondo limites.

Eu tenho este direito e este dever.

Será que você não entende que a tristeza é um fenômeno passageiro?

Deixe-a ir!

Descubra o lado festivo da vida,

Imponha limites à sua dor, não se entregue a ela!

Talvez ela não entenda o que quero dizer, está apaixonada demais,

Ocupada demais mantendo este romance com seu próprio sofrimento.

Ela já decidiu que quer ser mártir.

Só me resta dizer que as risadas se vão,

Que o calor do contato produzido pela amizade se vai,

Que as possibilidades de intimidade e crescimento se vão,
Que vida se vai,

Justamente porque ela não permite que quem deva partir se vá.
Então querida, um beijo e adeus.





domingo, 31 de julho de 2011

Minha paráfrase do Salmo 126



Quando o Senhor me libertou da dor, da angústia, do cativeiro em que me encontrava, minha vida parecia um sonho! Eu sorria demais porque me sentia muito feliz e cheia de alegria. Eu havia encontrado o meu caminho estava completamente livre! E algumas pessoas puderam constatar o milagre que o Senhor havia feito em mim e por mim.
É verdade! Deus fez grandes coisas por mim, e por isso me sinto tão feliz! Ele encheu novamente minha vida de bênçãos e de alegria, assim como a chuva enche de tempos em tempos o leito seco dos rios.
Eu bem sei e como sei, que quem planta suas sementes chorando fará sua colheita com alegria. Aqueles que saíram chorando levando suas sementes para semear, voltarão assim como eu, cheios de alegria, trazendo nos braços uma grande porção de sonhos tornados realidade!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um presente do Ricardo para Paula em seu aniversário...

Teu aniversário...

Tua alegria que renasce mais uma vez
E com tamanha suavidade
Pois tu és grande
Tu és amiga
Imortal

Tua alma alegre e viva
Permanece serena nas tantas delicadezas
Transgressoras... E tu, caminhas!

Forte como nunca
Amante da liberdade - sem censura
Paula: amiga-única!

Beijo e parabéns!Aceitar depoimento

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O que aprendi sobre ser lúcida e sensata


Tenho sim medo da minha lucidez,
Porque em vez de luz, ela traz escuridão.
Tenho sim medo da minha sensatez,
Porque em vez de me fazer entender, ela só me traz confusão.
Procuro confissões fora de mim e só encontro perguntas feitas em minha direção.
Procuro respostas em outros, mas é para mim que os dedos estão apontados.
Até quando manterei estes olhos pequenos, uma vez que digo que cresci?
Até quando manterei fechadas as janelas que me colocam em contato com tudo que não é eu?
Até quando impedirei que o espinho que me fere se transforme numa ação positiva e criativa?
Agora entendo que lucidez definitivamente não combina com palavras estéreis, sem sentido, que são frutos de um imaginário que não foi fecundado pela coragem de romper com caminhos pré-determinados, feitos para serem trilhados em segurança.
Lucidez tem mais a ver com a admissão e a aceitação de uma dor fundamental, uma dor profunda, nem sempre consciente, que é existencial, que se traduz em vazio, incertezas, ausência de respostas, silêncio...
Sensatez nem sempre está relacionada com calor, com o que conhecido ou com o que soa familiar, tem mais a ver com uma solidão que é salutar.
A saúde da alma, assim como a saúde de forma integral, se apresenta das mais variadas formas possíveis, já as doenças da alma são monocromáticas, pulsam num mesmo tom conduzindo a todos que são acometidos por ela a um mesmo destino chamado infelicidade.
Paula 06/07/11

sábado, 2 de julho de 2011

Julho: abrindo o baú de memórias


Julho chegou ontem e trouxe consigo mais um aniversário. Mesmo que eu não chegue até ao dia 13, julho já trouxe meu aniversário!
Julho chegou trazendo nevoeiro. Eu adoro nevoeiros! O nevoeiro de ontem me lembrou Saracuruna... Férias do meio do ano, casa da minha avó... Fiquei tentando recuperar na névoa e na memória o cheiro destas coisas, mas não consegui... Lembrei do bolo maravilhoso que minha avó fazia e da minha paixão por eles até hoje... Até hoje eu adoro bolos, principalmente os que lembram os bolos da minha avó. Quando estudei em escola particular levava bolo todos os dias para a escola, tinha dia que enjoava levar todos os dias a mesma coisa enquanto as outras crianças levavam biscoitos ou então levavam dinheiro e compravam coisas na cantina. Ah, as coisas da cantina, refrigerante, batata frita, proveta, salgadinhos, quanto eu desejava isso... Hoje agradeço a Deus por comer bolo todos os dias, não aprendi a ter hábitos alimentares tão devastadores quanto meus colegas... É verdade há males que vem para bem e sempre há dois lados de uma mesma coisa... Mas como era sedutor... Tinha a barraca de doces da dona Marli, ahhh...
Rubem Alves fala bastante da sua infância em Minas, Ziraldo também fala da sua feliz infância... Minha infância feliz foi na casa da minha avó Eunice. Apesar dela ser “canguinha”, pão dura, eu adorava ir para Saracuruna, dormir na cama junto com ela, ouvir o galo cantando, acordar bem cedinho para bater perna com ela, catar pacotes de café pilão no lixão para trocar por livros de receitas... Comer sua comida nem sempre tão maravilhosa, mas com aquele tempero diferente, inconfundível, posso até sentir o gosto de louro sempre tão presente em seus pratos. Agradeço a Deus por ter tido avó, duas avós que na minha concepção foram maravilhosas para mim e que marcaram minha vida. Uma avó já se foi há 07 anos, hoje a saudade dói menos, às vezes, parece que ela nunca existiu, mas aí ela aparece rindo, gorda e feliz nos meus sonhos. Minha avó Eunice está velha, aquele mundo que era a casa dela está todo resumido num quartinho na casa da minha mãe. Reconheço ali muitos cheiros de antigamente, mas parece que muita coisa também deixou de existir... Minha avó não cozinha mais, não faz bolo, não faz nada... Mas o bolo que faço, o faço pensando nela, e a sopa de feijão também! A debilidade, ou melhor, a fragilidade atual da minha avó, é uma outra história, hoje dentro de mim competem duas visões dela, a de hoje e a de antigamente. Será que eu posso manter as minhas doces lembranças da infância sem prejuízo da mulher adulta? Ás vezes quanto a gente cresce embrutece... Crescimento não é sinônimo de embrutecimento, mas para meu coração às vezes parece que é, alguém me contou isso e eu acreditei, e hoje é difícil desacreditar, por isso, eu luto, eu tenho que lutar para não ficar embrutecida. Por hoje, não ficar embrutecida é manter contato com essas minhas doces lembranças. Assim como nunca esquecerei aquela foto que tirei no colo do meu pai na praça de Magé quando tinha cinco anos, que ele passava óleo na minha canela no frio para não ficar russa (sou preta né...), que ele penteava meus cabelos com mais delicadeza que minha mãe, que foi ele que me deu meu primeiro baton e o meu primeiro conjunto de calcinha e sutien. Isso tudo é meu e foi assim que essas pessoas passaram pela minha vida.
È, julho chegou trazendo tudo isso! LEMBRANÇAS. Um baú de memórias que a gente vai abrindo quando sente saudades...

Quanto merecemos



Um psicanalista me disse um dia: “Minha profissão ajuda as pessoas manterem a cabeça à tona d’àgua. Milagres ninguém faz”.
Nessa tona das águas da vida por cima da qual nossa cabeça espia – se não naufragarmos de vez -, somos assediados pela idéia de que o ser humano é um animal que deu errado.
A maioria das pessoas que conheço, se fizesse uma ainda que breve terapia, haveria de viver melhor. Os problemas continuariam ali, mas a gente aprenderia a lidar com eles.
Sem querer fazer uma interpretação barata ou subir além do chinelo, mas como qualquer pessoa que tenha em sua hora lido Freud e companhias, penso nas rasteiras que o inconsciente nos passa.
Uma delas: o quanto nos atrapalhamos por achar que merecemos pouco.
Eu acho que merecemos muito. Nascemos para ser bem mais felizes do que somos – mas nossa cultura, nossa sociedade, nossa família não nos contaram essa história direito. Fomos onerados com contos de ogros sobre culpa, dívida, deveres e... mais culpa.
Somos demais rígidos, ou controlados: somos pouco naturais.
Nas armadilhas do inconsciente, que é onde nosso pé derrapa, lemos um letreiro pérfido: Eu não mereço ser feliz. Quem sou eu para estar bem, ter saúde, ter alguma segurança e alegria? Não mereço afetos razoavelmente seguros, menos dissabores. Não mereço nova chance. Nada disso. Não nos ensinaram que “Deus faz sofrer a quem ama?”
Portanto, se algo começa a ir muito bem, possivelmente daremos um jeito de que desmorone.
Vivemos o efeito de muita raiva acumulada, muitos mal-entendidos nunca explicados, mágoas infantis, obrigações excessivas e imaginárias. Somos ofuscados pelo ideal da mãe santa, da esposa imaculada e do marido poderoso, dos filhos mais-que-perfeitos, do patrão infalível e do governo confiável. Sofremos ao peso do quanto “devemos” a todas essas entidades, inventadas: por trás delas existe apenas gente, tão frágil quanto nós.
Velhos fantasmas que nos questionam, mão na cintura, sobrancelha irada:
“Ué, você está quase se livrando das drogas, está quase conquistando a pessoa amada, está quase se equilibrando sua relação com a família, está quase obtendo sucesso, vive com alguma tranquilidade financeira... será que você merece? Veja lá!”
Ouvindo isso, assustados réus, num ato nada falho damos um jeito de nos boicotar – coisa que, aliás, fazemos demais nesta curta vida.
Escolhemos a droga em lugar da saúde; nos fechamos para os afetos em lugar de lhes abrir espaço; corremos em busca de mais dinheiro do que precisaríamos; se vamos bem em uma atividade, queremos trocar; se uma relação floresce, viramos críticos mordazes ou traímos o outro, dando um jeito de podar carinho, confiança ou sensualidade.
No território obscuro do inconsciente – que a psicanálise nos ensinaria a arejar -, ainda nos consideramos meninos e meninas malcomportados que merecem castigo.
Quem sabe precisamos de conserto: se encontrarmos uma oficina de almas boa, barata, perto de casa – ah, e que não seja desonesta demais.

Lya Luft
Em outras palavras – Record 2006. p. 183-185.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O menino é pai do homem


A frase do poeta inglês Wordsworth serviu como título para uma crônica de Machado de Assis, e agora eu a “roubo” ao comentar o peso da infância em nossa vida adulta: pois nascemos da criança nascida de nossa mãe.
Nossa primeira raiz, a mais funda, vem do garoto alegre correndo com seus amigos ou maltratado numa família doente; está na menina que se sentia amada ou na que foi brutalizada.
Somos filhos daquelas crianças. Somos frutos do clima que havia em nossas casas: crescemos com o adubo do afeto, do bom humor e do respeito, e definhamos no veneno da excessiva exigência, ou da aridez – mesmo que houvesse brinquedos caros pelo quarto.
Nosso comportamento adulto é marcado, mas não fatalmente determinado pela infância. Ela deixou rastros, como sulcos no rosto ou num campo lavrado, em nossa memória consciente e, mais grave, naquela inconsciente - para serem decifrados e superados, e a gente se tornar mais livre e melhor.
As eternas lamentações sobre o pai ausente, a mãe controladora, poucos amigos ou irmãos indiferentes, nos impedem de abrir janelas para a vida, e dificultam inventar outros jeitos de construir nossa própria família quando adultos. Pois nos construímos até morrer.
Também até o fim guerreamos com aquelas arcaicas realidades ou fantasmas: anistiar uma infância difícil é trabalho de guerreiros, e guerrear é parte do destino humano.
Neste mundo em mudanças rápidas e complicadas, a família, a que nos foi legada sem escolha nossa, e a que criamos para nós (felicidade ou desastre), volta a ter grande importância.
Essa ênfase no conceito “família” como ponto de apoio e construção numa sociedade fragmentada se dá quando ela mesma sofre grandes transformações: os casamentos já não são para sempre (com exceções felizes ou sofridas). Crianças aprendem a lidar com novos sentimentos em relacionamentos novos: a namorada do pai, o companheiro da mãe, os meio-irmãos. Filhos tem muito mais liberdade: os pais, por medo ou desconhecimento, menos autoridade; quebraram-se padrões de comportamento que duraram décadas ou séculos, e ainda não se cristalizaram novos. Talvez nem se cristalizem mais, nessa cultura do efêmero que é a nossa.
Mas continuamos filhos das crianças que fomos (...)
...Ou nos ensinaram que filhos eram objeto nosso, nossa total responsabilidade – coisa assustadora -, ou que chegavam ao acaso às nossas mãos, numa relação impossível, pois não os devemos pegar com força para não maltratar, e danem-se limites e autoridade.
No meio de conceitos tão opostos, pode haver uma postura equilibrada, até onde se equilibram relacionamentos humanos. Filhos são pessoas: precisam crescer, amparados e cuidados pelo nosso amor – não podados pela nossa insegurança.
Se a vida é um desafio (por isso tão interessante), construir uma família pode ser – mais do que contratempo e contrariedade – fonte de crescimento e sabedoria.
Não se pode prever em que dose teremos tudo isso: depende da sorte, e depende de nós. Como agricultores, há de por mãos à obra: às vezes no barro, lidando com produtos agrotóxicos (ah, alma intoxicada...), esperando a chuva que não vem, combatendo a seca que mata e a peste que estrangula.
Mas quando a planta espia da terra escura e começa a crescer com folhinhas no vento e caule forte, tudo passa a ter outro sentido, sobretudo a nossa existência.
A criança que fomos continua nos parindo pela vida afora, como nós parimos, com amor e dor e encantamento, cada dia e cada noite, a esses filhos nossos – e a nós mesmos neles.


Lya Luft
Em outras palavras – Record 2006. p. 167-170.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Que choro é esse??


Hoje pela manhã em meu trabalho quando acompanhava crianças de uma creche a uma visita ao Jardim Zoológico, notei que uma criança chorava enquanto as demais estavam alegres ou apreensivas pelo que estava por vir. Enquanto ela chorava, eu quase podia sentir aquela angústia que a tomava solicitando urgentemente a presença da mãe.

Diante deste quadro, tentei imaginar o que estava acontecendo, por que justamente hoje ela estava a chorar, logo ela que estava acostumada a se despedir da mãe todas as manhãs? Seria um mau presságio? Seria um mau trato ou alguma palavra atravessada na creche? Teria ela presenciado alguma cena violenta em sua casa na noite anterior? Quero acreditar que não foi nada disso, mas apenas um daqueles dias em que é difícil nos levantar de nossa cama para ir à escola ou, ao trabalho e nos separar daqueles que tanto amamos. É a mesma angústia, o mesmo incomodo que todos sentem vez ou outra, só que a criança chora e se aborrece com facilidade por que ainda não tem recursos para lidar com sentimentos tão fortes. Às vezes, mesmo adultas há muitas pessoas que não possuem habilidades para lidar com suas emoções.

Num primeiro momento, pode parecer frieza, mas mesmo morrendo de vontade de acabar com aquele chorinho, não pude supervaloriza-lo. É claro que quem convive com crianças em casa ou trabalhando deve ficar atento a toda variação emocional que esta apresente, mas reitero que há atitudes que não podem ser supervalorizadas, sob pena de desequilibrar a criança. A forma como o adulto lida ou interpreta as emoções da criança vai ser um espelho constitutivo de sua personalidade, um elemento que será decisivo para que ela lide com suas próprias emoções no seu futuro. Este futuro, talvez não seja tão distante como tendemos a imaginar, às vezes, basta que se passem alguns minutos para que ele chegue.

sábado, 9 de abril de 2011

Apenas feliz!


Sinto-me tão feliz apenas porque respiro novos ares e contemplo outros horizontes.
O que vejo, o chão que piso, está longe de ser um lugar seguro e/ou perfeito, mas é onde meu coração se agita, palpita, se mexe, enlouquece! Neste lugar eu tenho prazer!
Sinto-me feliz porque finalmente a liberdade não é mais um sonho, e sim uma realidade que posso tocar com minhas mãos!
Sinto-me feliz porque a cada passo que dou posso enxergar mais longe, em oposição à quando somente meio passo me bastaria a fim de ver mais além, e no entanto, eu não conseguia porque meus pés presos me mantinham numa mesma posição, ou seria em uma mesma situação?
Estou feliz porque já não me encontro mais imobilizada, paralizada, engressada, cristalizada... Um dia acordei suspensa em uma posição mais alta e ela é mais alta do que eu mesma.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Esquecimento


“Nós humanos para renascer, temos de esquecer – abandonar a casca velha para que a nova apareça -, as cascas vazias das cigarras presas aos troncos das árvores são um passado subterrâneo que teve de ser abandonado para que o ser voante nascesse. A educação é um processo de sucessivas demãos de tinta sobre o corpo: cascas. O esquecimento e a desaprendizagem são sucessivas raspagens em busca do esquecido (...)
As culturas e os saberes se sedimentam sobre o corpo – e é como se camadas de materiais estranhos lhe fossem acrescentadas: a craca de moluscos que gruda no casco dos barcos, as demãos de tinta com que a superfície vai sendo pintada... Enquanto nos lembramos e sabemos os saberes, o corpo dorme no esquecimento(...)
Álvaro de Campos num lamento, disse que ele era o intervalo entre os desejos dele e aquilo que os desejos dos outros haviam feito dele. Será isso a educação? O processo pelo qual as gerações mais velhas vão jogando as redes de seus desejos, sob a forma de palavras, sobre as gerações mais novas? A educação vai cobrindo nossa pele com sucessivas camadas de tinta. É preciso que a tinta seja raspada para que o corpo ressuscite. Desaprender e esquecer é raspar a tinta. Raspando-se a tinta volta-se ao corpo tal como ele era antes de ser enfeitiçado por palavras.”

Rubem Alves - Variações sobre o prazer p. 55, 56.

terça-feira, 15 de março de 2011

O toque


Talvez eu jamais soubesse o que é dor crônica se eu meu corpo tivesse sido alimentado de amor através de toques...
Para muitas pessoas, inclusive eu, a dor é um alerta que soa quando há dureza demais e carinho de menos em forma de toques na nossa história.
Não quero afirmar que quem é tocado ou toca, não experimentam dor, pois esta faz parte do humano. Entretanto, existem dores que são privações acumuladas, que poderiam perfeitamente ser desfeitas com alguns toques oriundos das mãos do amado.
Dores também podem ser aliviadas e sanadas abrindo nossos porões e colocando os corações em contato. Porque basta colocar dois corações em contato para que eles saibam o que fazer. Dois corações sabem muito bem como se amar.
Coração que desaprendeu o contato é coração encarcerado, que se traduz em corpo pesado, retesado, transbordante de dor...
Conclui que, a fim de que o amor volte a circular em meu corpo, em qualquer corpo, basta um toque, sem prever, sem pensar, para amolecer, relaxar e fazer transbordar espontaneidade...

A tela vazia


Basta uma tela vazia para que surja a inspiração para criar...
Porém, quantas vezes em vez de criar, inventar, é mais fácil repetir?
Quem pode imaginar que inovação é um outro lado da frustração, da insatisfação?
Só quem está insatisfeito e frustrado, cria!
Eu sempre procurava encaixar alguma coisa no espaço que está vazio.
Não me importa o que seja desde que não me mostre a lacuna e o seu tamanho...
Entretanto, ultimamente tenho pensado que talvez o espaço vazio, tenha que permanecer assim como está...
Esta lacuna tem que permanecer vazia a fim de produzir o incomodo que precede toda mudança significativa.
E então da tela vazia brotam dor, perplexidade, assombro...
Hoje, ainda vejo uma tela vazia, mas sinto paz.
A mesma paz que senti quando entendi que nem tudo depende de mim.
Não sou tão poderosa quanto acreditava.
Saber que nem tudo depende de mim me enfraquece, me desempodera, me humilha, mas também liberta!
E enfim destronada, estou livre para viver as alegrias de uma simples mortal.

Paula 11.03.11

terça-feira, 8 de março de 2011

O cisne negro


Sombrio.
Esta é a primeira palavra que vem à minha mente quando penso no filme “O cisne negro” que consagrou Nathalie Portman como melhor atriz no Oscar 2011.
Adoro filmes sombrios e dramáticos como “O cisne negro”!
Nina, é uma menina tão doce, mas para conseguir o que tanto quer na vida, precisa encarar e vivenciar o seu lado sombra.
Encarar seu lado sombra no filme, significa cortar o cordão umbilical e romper com sua mãe, além de experimentar a mulher que adormece seu corpo de menina.
Encarar o seu lado sombra também significa quebrar a redoma de vidro construída em torno de si mesma e flertar com tudo o que é perigoso, com as ameaças de outrora...
O Cisne negro explicita os conflitos que um ser humano experimenta para ser ele mesmo e brilhar... Mostra também que uma relação conturbada com nosso lado sombra pode nos levar à autodestruição. Nosso lado sombra que em muitas vezes gostaríamos tanto de colocar à parte de nós, na verdade é uma parte de nós mesmos que precisa ser aceita e integrada ao nosso eu.
Adoro roupas brancas, coloridas, mas fico impressionada em como o preto me atrai. Só neste ano já comprei duas peças de cor preta. Eu acho que está muito ligado ao meu lado misterioso, introspectivo, introvertido. Para muitas pessoas o preto não simboliza coisa boa... Preto é o que se veste quando perdemos alguém, preto é a “cor do pecado”, é a cor sempre presente nos filmes de terror.
O cisne negro me fez pensar que talvez em nosso lado sombra, em nosso “lado negro” resida aquilo que temos de melhor... Talvez nele residam características essenciais para nosso sucesso que foram obscurecidas pelos nossos conflitos ou esquecidas, embotadas... Mas que nos farão brilhar e satisfazer os desejos latentes de nossos sofridos corações...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Minha lista


Estava revendo o que escrevi no ano passado e encontrei minha lista feita há quase um ano atrás copiada da Anabel, e resolvi atualizá-la...


Eu quero... Fazer as coisas mais devagar e ter uma vida com mais qualidade.
Eu tenho... Muita determinação.
Eu não tenho... Paciência (ai!).
Eu gostaria de ter... Um carro popular para passear bastante.
Eu gostaria de não ter... Que ficar 10 horas por dia num trabalho burocrático.
Eu acho... Tremendamente desagradável pessoas que se acham o umbigo do mundo.
Eu odeio... Omissões e hipocrisia .
Eu sinto saudade... Das brincadeiras de infância na casa da minha avó e dos meus companheiros inseparáveis que hoje não são tão companheiros assim...
Eu faço... Pilates.
Eu não faço... Musculação, nem lipoaspiração.
Eu fiz e não faria de novo... Tentar mudar as pessoas à força.
Eu fazia e deixei de fazer... Ir à igreja como uma beata.
Eu escuto... Música no ônibus cheio para me imaginar num lugar bem melhor...
Eu cheiro... Livro novo, cédulas novas que saem do caixa eletrônico (para desespero do meu marido...).
Eu imploro... Deus, quero tanto ganhar mais e fazer o que realmente gosto...
Eu me pergunto... Por que não sinto desejo de ser mãe, será que sou uma alien?
Eu me arrependo... De não ter vivido com mais qualidade antes...
Eu amo... Meu marido.
Eu sinto dor... Na coluna cervical.
Eu sinto falta... De mais contato com a natureza, de tomar sol, banho de cachoeira , de caminhar em lugares arborizados e respirar ar puro.
Eu sempre... Penso na vida.
Eu não fico... Esperando acontecer, eu faço acontecer!!!
Eu acredito... Na bondade e na misericórdia de Deus.
Eu danço... Zouk.
Eu canto... Quando estou relaxada e feliz.
Eu choro... Quando não consigo me conter e de preferência em espaços privados.
Eu luto... Por uma vida mais prazerosa.
Eu escrevo... Para me manter sã...
Eu ganho... Quando escuto os sinais que meu corpo dá.
Eu perco... Quando sou rígida e inflexível.
Eu nunca... Fui santa (Graças a Deus!).
Eu estou... Num longo processo de mudança.
Eu sou... Uma mulher muito agitada!
Eu fico feliz... Quando sou surpreendida, ou ganho presentes ou andando de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas num dia ensolarado.
Eu tenho esperança... De me tornar uma pessoa mais centrada.
Eu deveria... Acreditar mais em mim.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Curandeiro, ó

Gosto muito da Elisa Lucinda, e posto aqui neste blog, uma crônica que ela me mandou para pensar nesta semana. Compartilho então com vocês o Curandeiro.





Curandeiro, ó

Há uns bons anos inclui na minha rotina, a sessões de massagens, geralmente orientais, como complementares de outras iniciativas que visam minha saúde geral. É mesmo fundamental parar e olhar para si, seja por um processo psico-analítico, seja pela pratica de yoga, malhação e, melhor ainda, tudo isso junto. Costuma-se separar, drasticamente , o corpo da mente. Numa festa, conheci uma terapeuta corporal que me disse assim: “agora vou só cuidar da mente, quero abandonar o corpo, estou fazendo psicologia, sabe?” Ora? Então aonde é que fica a mente?Fora do corpo? Ora, esta dicotomia já não atende nossa demanda de um ser integral, cuja psico-somática condição expõe tal conceito à muitas fragilidades. Se uma coisa é mental ou psíquica não significa que ocorra fora de nós, num espaço etéreo lá longe do ser, no inatingível. Penso que uma intimidade sobre nosso corpo e seus acontecimentos é peça fundamental de autoconhecimento. Como já disse aqui, sinto falta de uma cultura ou uma educação reflexiva que nos faça perceber porque estamos ficando tortos, corcundas, encurtados, endurecidos, flácidos, frágeis, estagnados, incapazes de um pulo ou um agachamento simples. Pode ser porque fomos abandonados na infância, mimados talvez ou qualquer outro freudiano motivo, mas a representação corporal geralmente traz noticias importantes de nós. Dores e outros males podem ir do famoso complexo de Édipo a uma simples má postura no trabalho ou os dois ao mesmo tempo. Por tudo isso, aqui agradeço a esses profissionais (os de verdade), que têm sido tão imprescindíveis à nossa vida. Tenho ficado muito impressionada com as descobertas às quais, tal pratica pode nos levar e fiz até um poema para agradecer ao shiatsu, a acumpultura e à sensibilidade de Murilo Reis, este com quem faço minhas semanais sessões. Que, através destes simples versos, leitores que tal “arte” desconheciam despertem para esta qualidade de vida e, os que desta ciência vivem, com responsabilidade e competência, se sintam aqui considerados.

O curandeiro era estudioso, atento ao corpo e suas distintas palavras.

No joelho que doía e não dobrava sem que eu sentisse,

batera seu martelinho de sete pontas querendo espalhar a dor,

almejando desconcentrá-la do ponto.

Passadas as batidas e desfeito o quebranto

o bonito homem de cabelos bem cortados , olhos vivos e antepassados,

escuta o pulso , vê para que lado está correndo o rio

e qual a velocidade de sua correnteza.

Com as mãos e a escuta, ausculta o processo.

Depois, com precisão, destreza e toque de delicadeza,

cravou-lhe na cara da dor uma agulha certeira.

Era assim a coragem do doutor, era de oriental beleza o seu saber.

Com a coreografia das mãos vai deixando

coluna em ordem, harmonia entre ossos, músculos e órgãos,

pescoço devidamente estalado, alongadas e desamontoadas as costelas,

que é como o curandeiro estica o tempo pra mim, para você , para nós, para a terra.

Como energia viva em conserva o moço ensina a fazer da vida reserva,

fonte, poção mágica de um organismo vibrante e em movimento,

e também um templo de respiração e pausa com cada coisa em seu momento.

Das palavras que ele deixa na lira da estrada,

entendi que somos sozinhos mas não estamos sós na manada

É este o meu enredo. Agora, graças a mim e a este curador guerreiro,

sem dor, escrevo no chão dobrando os joelhos.

Indaguei ao homem de sua cura o segredo.

Conhece-te a ti mesmo, ele me disse: não tenha medo.