terça-feira, 15 de dezembro de 2009

“Nada a pedir, somente agradecer...”


Ouvi uma música com esta frase há alguns anos atrás quando ainda estudava educação religiosa e muito sinceramente confesso que por mais simples que esta frase possa ser, meu coração não a compreendia. Eu sempre tive dificuldades em ter um coração grato, porque pessoas insatisfeitas não são agradecidas. Mas a dezesseis dias do final de um ano e diante de um outro ano completamente novo, penso que este é um bom momento para simplesmente agradecer em vez de ir na direção da minha tendência de olhar mais o que me falta do que para o que conquistei.
Mas ingratidão não é só problema meu. Lembro-me de uma história bíblica que conta da passagem de Jesus por uma aldeia entre a Samaria e a Galiléia. Nesta aldeia ele encontrou 10 (dez) leprosos. Lepra é uma doença que faz a pessoa apodrecer literalmente ainda vivo e naquela época, quem contraia lepra era banido do convívio social. Pois então aquele grupo de leprosos já conhecia a fama curadora de Jesus e o chamou. Jesus os curou. Eles estavam enfim livres da vergonha e da alienação social, podiam voltar para suas famílias, para seus negócios, para sua sociedade, que felicidade! No entanto, somente 1 (um) deles, o estrangeiro, voltou para agradecer a Jesus pela cura.
Por que não tenho um coração grato? Como já afirmei, pessoas insatisfeitas não são agradecidas. Quem é satisfeito, tem um coração grato. É bom lembrar que satisfação nada tem a ver com acomodação, estagnação, resignação. Quando penso em satisfação, penso em contemplação, quando penso em contemplação penso numa boa digestão da vida. Os nutricionistas afirmam que devemos comer devagar, bem devagar, mastigar bem os alimentos para que mesmo com uma quantidade menor de comida no prato possamos nos sentir satisfeitos, em estado de plenitude gástrica. Penso que com a vida acontece algo semelhante, temos que ir devagar, não pular etapas, respirar, nos movimentar seja lá como for para que a satisfação então surja e cumpra o seu papel.
Satisfação e gratidão exigem visão além do alcance, que é apenas olhar a vida como ela é, com simplicidade...
Sentir satisfação e gratidão é andar na contra-mão, pois esta sociedade onde nos localizamos é movida pelo consumo e consumo pelo próprio consumo. Além de consumo por prazer, por status, por esporte... Consome-se para dar conta de demandas existenciais, pois o capitalismo quer despertar desejos em nós travesti-los de necessidades a fim de que possamos consumir cada vez mais. Somos lembrados a todo tempo daquilo que ainda não temos, o que nos deixa cada vez mais inseguros e é claro, insatisfeitos. É difícil, muito difícil andar na contra-mão porque o apelo do consumo é sedutor demais, são os filmes, as novelas, as propagandas, o glamour das revistas, quem é que não quer tudo isso? A satisfação existe, mas é muito efêmera superficial, dura apenas uma noite, um dia, uma semana. Lembro-me de ter lido sobre um ator que rompeu com sua esposa assim que voltou de sua lua de mel, segundo a informação, ele alegou que não estava preparado para uma relação permanente. Semanas depois ele estava namorando outra colega de trabalho.
Além do consumo desenfreado, em busca de satisfação e alívio, às vezes comemos demais, bebemos demais, trabalhamos demais, estudamos demais e até amamos demais. São nossas vãs e doentias estratégias para conseguir satisfação.
Mas e a gratidão?
Ela vem quando descobrimos porque e para quem realmente vivemos,
Ela vem quando nos ouvimos e somos coerentes conciliando aquilo que queremos com nosso estilo de vida.
Muitas vezes não somos gratos porque permanecemos insatisfeitos mantendo desejos tolos que ocultam nossas verdadeiras necessidades.
A gratidão é um espírito de reverência pela vida, pelo humano, pelo divino.
A gratidão nos acalma e nos eleva. Nos faz descansar e aquieta nossa alma...
Eu quero essa vida pra mim!!!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eterna Repetição

Um dia desses estava andando por aí entre os blogs e achei um interessantíssimo, o do Ivandro de Laguna Santa Catarina. Entre posts e artigos interessantes achei este de um livro que eu também li a cerca de um mês atrás. Posteriormente pretendo escrever um artigo sobre ele, mas por enquanto, deliciem-se com o artigo do Ivandro:

Somos seres repetitivos. Metade da nossa vida – ou mesmo a vida inteira – tentamos confirmar e concretizar as crenças que adquirimos quando crianças, sobretudo no relacionamento com o pai ou a mãe. “O garoto cuja família sempre passava as férias numa cabana de Rainbow Lake cresce e insiste em levar a família para a mesma casinha em Rainbow Lake – às vezes para o desespero de sua família atual”, escreve o psicólogo americano Stanley Rosner no livro O Ciclo da Auto-sabotagem. Outros cozinham da mesma maneira que sua mãe cozinhava, frequentam o mesmo templo, adotam as mesmas diversões e, às vezes, até moram na mesma casa. “Para esses indivíduos, tanto na vida real quanto na íntima, não há espaço para a mudança, para a inovação, não há espaço sequer para a imaginação”, afirma Rosner.Essas pessoas (ou seja, a maioria de nós) são ensinadas desde pequenas que a única maneira de serem amadas e aceitas é serem iguais a seus pais. Por isso, prezam tanto as crenças deles – porque, basicamente, precisam sentir-se consideradas e acolhidas. Ou seja, elas não são aceitas pelo que realmente são, mas pelo que seus pais querem que elas sejam. Esse desejo de repetir o exemplo dos pais para obter seu amor é o que algumas correntes da psicologia chamam de “identificação arcaica”. Já é ruim quando os filhos são pequenos, mas é pior ainda quando eles se tornam adultos e procuram cumprir o que era pedido pelos pais, sem escutar suas próprias preferências, atender suas reais potencialidades ou sequer olhar para o ambiente atual e constatar que essas exigências são descabidas.Há uma gama enorme de emoções negativas associadas ao autoboicote. A culpa, por exemplo, vem em primeiro lugar, quase sempre de mãos dadas com o medo. Geralmente, a culpa nasce por se romper uma crença de infância. É preciso se deter sobre isso, ver se realmente tem sentido. O medo também pode também vir sozinho: grandes expectativas, por exemplo, podem gerar pânico. Se ele não for bem administrado, pode se tornar paralisante. Também chega o medo de perder lá na frente o que se conseguiu até esse momento ou de não levar adiante a realização com o mesmo sucesso. Enfim, de que a história, no fim das contas, não dê certo. E, como pode não dar certo no fim, a gente está sempre disposto a dar um empurrãozinho para não dar certo no começo, não é?O mais saudável seria que, ao se conhecerem outros estilos de vida e comportamentos durante a vida, escolhêssemos o que mais tem a ver conosco. Sem culpa, sem medo. E, depois de uma análise mais racional e adulta da situação, tentar ignorar aquela voz insistente vinda lá da infância que diz: “Você não vai abandonar tudo o que a gente ensinou para você, vai?”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Meu tributo a Carlos Henrique, meu Mozão!!!

Hoje é dia 10/12/2009
Faz 3 décadas ou 30 anos que meu marido Carlos Henrique Bento da Silva veio ao mundo.
Nós ganhamos um presente...
Ontem ele me disse que ao contrário dos últimos anos em que costumava se sentir angustiado e triste nesta época estava muito bem!!
Mas lembrei-me de que há alguns meses atrás seu mar não estava nesta calmaria...
Ele dizia que estava em crise: “...trinta anos e o que sou? O que tenho? O que fiz?” Eram umas cobranças tão esquisitas... Em minha ignorância, eu pensava que só as mulheres passavam pela crise dos 30...
Carlos Henrique não é uma dessas pessoas com uma “trajetória brilhante”, do tipo: “De engraxate a dono da maior prestadora de serviços de saúde do Brasil”, mas nem por isso deixa de ser vencedor!
Como já afirmei, Carlos Henrique chegou há trinta anos atrás...
Foi o quarto filho de Luzia e Valdemir.
Teve uma infância pobre e cheia de limitações.
Limitações de ordem afetiva, materiais, educacionais...
Entretanto era um menino muito levado e criativo.
Gostava muito da escola, pra farrear e merendar é claro...
Não é por causa das farras que deixava de ser inteligente e inventivo.
Além de ser trabalhador e muito prestativo.
Quando a adolescência lhe batia a porta, um amor lhe partiu o coração,
Era o amor de uma garota que anos antes se tornou mãe sem desejar, sem saber lidar com esta e com muitas outras questões...
E aí, o garoto Carlos Henrique teve que seguir em frente mesmo com a vida lhe fazendo latejar de dor o coração.
Ainda era alegre, mas ocultava uma grande dor.
Até que encontrou uma família, que o acolheu e lhe deu uma nova perspectiva de vida.
Eu estava lá e presenciei este momento.
Carlos Henrique era um misto de angústia, liberdade, com uma tenacidade, uma força e resistência muito grande. O sofrimento lhe produzira marcas, mas ele era incrivelmente leve, agradável e prazeroso.
Me apaixonar por ele foi natural, ele era mesmo uma figura cativante, apaixonante... Sempre tivemos uma química muito boa e uma ligação muito forte. Desde aqueles tempos até hoje é só pensar nele que ele me liga ou como antes quando aparecia de repente sem avisar.
Carlos Henrique sempre foi e é um pássaro livre, canta, voa ou permanece num lugar quando bem quer, talvez este traço dele seja o que mais me atraiu.
Antes de namorarmos, eu dizia que saberia quem deveria namorar se sentisse a mesma coisa boa que sentia quando estava com Carlos Henrique. O namoro só aconteceu depois de 5 anos de amizade. O casamento, 2 anos depois do namoro, tínhamos pressa em consumar nossa união.
Quando casei com ele, pensava que Carlos Henrique precisava mais de mim do que eu dele. Eu o via como um garoto abandonado que precisava de uma casa, de uma estrutura, cuidados, carinhos e mimos... Eu achava que ele precisava de uma mãe, mas na verdade ele nunca me pediu isso. Na verdade, era eu quem mais precisava dele, não do garoto, mas do homem, do pássaro livre que ele é para me ensinar a voar.
Além da sua característica liberdade, outra marca forte do Carlos Henrique homem é o bom humor e sua capacidade de descontrair os lugares por onde passa. Ele está sempre brincando, aliás, esta é a sua forma preferida de se apresentar às pessoas. Por brincar constantemente, Carlos muitas vezes é tido como ingênuo e até mesmo como um alguém imaturo, o que passa bem longe da verdade. Carlos Henrique homem é alegre, otimista, influencia as pessoas facilmente, muitas vezes sem que elas mesmas percebam, pois é um líder nato! É muito responsável e decidido, por isso neste momento aos 30 anos, graças a Deus e à sua competência, ele vive um grande desafio pessoal e profissional.
Carlos Henrique não tem medo de riscos, é sempre aberto a novidades e a diferentes possibilidades, além de não demorar em encontrar soluções para problemas de ordem prática (como usar a peneira grande em vez da pequena, construir suportes para livros no computador, etc...).
Carlos Henrique nunca nega ajuda a quem o procura, mesmo se estiver atolado de serviço. Um de seus dons é servir, pois ele gosta de colocar os interesses dos outros acima dos seus. Ele ainda gosta de elogiar as pessoas, suas roupas, suas comidas... Gosta de destacar delas suas características positivas, aquilo que elas tem de melhor.
Carlos Henrique também é um exímio observador, porém crítico, exigente, dengoso e muito encrenqueiro (nada é perfeito né...). Ah! E concentração não é lá o seu forte, é um avoado, além de ser muito bagunceiro, mas é um grande parceiro e eu estou muito feliz por mais uma oportunidade de agradecermos a Deus pela sua vida!
O aniversário é dele, mas somos nós quem ganhamos o presente!!!

Mozudo, te amo!!!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Assim é a vida...

Ser profundo, sábio, o contrário de superficial não é buscar uma resposta metafísica para tudo.
Às vezes é parar de pensar, de dar explicações lógicas e experimentar a "falta de sentido" da vida desfrutando sentimentos, impressões, sensações que nem sei de onde vieram e nem para onde vão...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

CONSCIÊNCIA NEGRA 1

É uma ficção, mas baseada em fatos reais.
Baseada na história de Besouro Mangangá, capoeirista que viveu na década de 1920.
É uma história linda que fala da capoeira, do candomblé e acima de tudo fala de nós negros.
Bom para os negros,
Bom para os brancos,
Bom para os brasileiros que todos nós somos!!!

Me esvaziando...


Ontem quando deitei sabia que não iria dormir...
Rubem Alves disse que para dormirmos nossa cabeça precisa estar vazia de pensamentos,
E eu lhe entendi perfeitamente.
Ontem minha cabeça não estava apenas cheia de pensamentos,
Eles pulavam aqui dentro, agitando-me...
Mas eu decidi não tomar nenhuma providência.
Acreditando que eles podiam ir embora sozinhos.
No meu peito um bolo, um novelo embolado que eu não estava muito a fim de desembolar,
Não naquele momento.
Fingi que acreditava que ele iria desembolar sozinho.
No fim na noite, início da manhã,
Senti com urgência o quanto precisava me esvaziar...
Acho que na verdade eu deveria cancelar todos os meus compromissos,
Para dar conta de tamanha tarefa.
Eu quero ir além, mas estou com assustada com a quantidade de coisas que estou vendo e percebendo ultimamente.
Acho que estou tendo uns vislumbres de mim mesma
E não vou hesitar em afirmar que tenho medo disso.
Tenho medo do abismo que há por trás das máscaras que eu uso.
Tenho medo daquilo que não vejo,
Daquilo que não percebo, mas que está o tempo todo debaixo do meu nariz.
Ainda não sei viver sem o meu senso de onipotência
E estou muito, muito assustada com estas revelações.
Durante muito tempo eu pensei que fosse forte,
Mas não sei de onde tirei esta idéia,
Sempre evitei situações que pudessem me fortalecer de verdade e me fazer crescer.
Sempre gostei de conforto e estabilidade,
E isso sempre me limitou.
Eu sempre soube que tinha potencial para ser uma grande mulher e achei que por si só isso fosse alguma coisa,
Ingenuidade,
Imaturidade e arrogância.
É preciso me esvaziar destas coisas que estão tão enraizadas...
Mas não suporto ver minhas fraquezas,
Elas me ameaçam,
Mas preciso enxergá-las para que eu não seja derrotada por elas.
Possuir pontos fracos não significa que você vai carregá-los durante toda a vida.
Pontos fracos não são marcas definitivas, não são rótulos, estigmas...
Pontos vulneráveis significam que algo pode ser transformado
Se quisermos ver, se resistirmos ao impacto da visão,
Que na realidade nem é tão aterradora assim
Por mais que os fatos nos surpreendam, nos choquem, nos arranquem o chão debaixo de nossos pés,
Você integra mais uma peça ao seu quebra-cabeças,
As coisas vão se encaixando perfeitamente por mais doloroso que possa ser
E então você sente paz.
E dorme profundamente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Escolhas

Escolhas, afinal de contas o que são escolhas?
Escolher pressupõe ser livre, mas ao mesmo tempo não temos o poder de fazer escolhas ilimitadas.
Escolhemos até onde nossa história pessoal nos permite escolher...
Escolhemos até onde nossa família nos permite escolher...
Escolhemos até onde nossa classe social nos permite escolher.
Penso que é isso que nos faz diferentes quando todos viemos ao mundo de uma mesma maneira.
Fico me perguntando se é possível transcender todas essas coisas...
Sei que a resposta desta pergunta está na palavra consciência,
Mas hoje não me pergunte sobre consciência,
Não me peça para ir além,
Minha visão está turva demais...



Paula
16.11.2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O GRITO

Martha Medeiros
Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio. Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar este grito com conversas tolas, elocubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe.



É Martha, eu também sei...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ainda no mês dedicado aos professores, um convite à reflexão através da imagem...

O que mudou em 40 anos????
Hoje não oferecerei as respostas, apenas a pergunta!!!

Desconstruções do ser, o caos, estado da minha alma...

Nesta imagem ainda está arrumadinho, porque lá dentro mesmo tem muito mais bagunça e poeira, eiiiiita!!!

O amor não acaba, nós é que mudamos

Martha Medeiros

Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?

O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.

Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ansiedade hoje

Hoje estou agitada
Mas não chega a um surto de ansiedade...
Hoje me sinto exposta, vulnerável, sensível...
Como se os muros ou redoma que eu usava para me proteger fossem implodidos.
Ainda não vejo o que está além deles,
Só vejo o caos...
Mas isso não me perturba
Quem disse vou arrumar tudo de uma só vez?!
Para cada tarefa há um dia,
Para cada dia há uma tarefa.
Ainda há assuntos que me ameaçam, claro!!
Mas não quero perder o sono os antecipando já que não estão aqui agora.
A ansiedade faz parte da minha natureza, por isso, espero que na próxima vez em que ela vier eu possa tratá-la de como uma querida amiga e não como uma intrusa.
Hoje estou aprendendo a me aceitar por inteiro e não apenas partes,
Aprendendo a viver...
Nada de verdades acabadas,
Nada definitivo,
E hoje apenas estou aprendendo, mas não sei
O que ontem eu pensava que sabia
Descobri que não sabia...
Hoje estou aprendendo,
Aprendendo a desaprender no meu ritmo.
Aceitando minha ignorância,
Em busca de humildade,
Para desfazer-me dos dogmas que construí.
Caminhando ao encontro de novas verdades e um novo sentido para minha existência.

Paula 21.10.2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um surto de ansiedade há um ano atrás...




Estou num surto de ansiedade.
Ele já dura muitos dias, ou mais dias do que eu gostaria que durasse...
Não gosto de me sentir assim...
A minha ansiedade parece um furacão que passa e vai levando tudo, vai destruindo tudo e no fim deixa tudo bagunçado.
Pior é eu ter que arrumar tudo depois...
Pior mesmo é não querer enxergar o que está causando tudo isso.
Eu até sei o caminho, mas como estou tão aérea, etérea, minha mente não contribui...
Sempre ponho o carro na frente dos bois, pois a princípio quero justificar, racionalizar, e não apenas sentir, deixar a emoção falar, isso é ameaçador demais para mim...
Vejo presente em meus surtos de ansiedade o meu desejo de ser indomável, incontrolável, livre, tal qual as forças da natureza.
Vejo também a minha ansiedade fosse uma manifestação contra meu estilo de vida tirânico, controlador, rígido...
Se minha ansiedade for uma mensagem, talvez a seja um grito me mandando parar tudo, fazer uma greve geral!!
Sinto necessidade de tratar minha ansiedade de outra forma, mas quando ela aparece, fico tão enlouquecida que torço para que ela se vá logo.
Se minha ansiedade se materializasse, eu me vejo tentando estrangulá-la, abafá-la, ou então, ignorá-la, fingindo que ela não está ali, torcendo para que da mesma forma que veio, ela se vá...
Mas quanto mais negativamente a trato, mais ela persiste e insiste comigo.
A minha ansiedade é produto da minha personalidade, do meu estilo de vida e eu já devia entender isso, no entanto, quando ela aparece, eu a trato como um corpo estranho, um visitante incômodo e indesejado no meu mundo “perfeito e ordeiro”.
A ansiedade incomoda, mas eu poderia entender que pode ela pode ser um convite para chegar mais ...
Sei que há formas melhores de lidar com minha ansiedade, mas agora eu não consigo agir de outra maneira...
Tudo isso é prova de que não sei lidar com minhas emoções, comigo mesma, com meu mundo interior, com meu universo psíquico.
Saber lidar com nossas emoções não é um aprendizado que nasce conosco, não é algo natural, é adquirido, melhor, construído através da experiência...
Nessas horas seria bom que eu me enxergasse como um ser humano e não como uma extraterrestre.
O ser humano é um ser dual e paradoxal por natureza: “aquilo que eu quero fazer, não faço...”
Olha, eu já aprendi muitas coisas, mas ainda muitas outras que preciso aprender...
Há momentos em que sinto muita preguiça, mudar exige esforço e parece tão bom continuar do jeito que está... É a idéia da zona de conforto. Não mudar é confortável, porém gostaria que entrasse em minha cabeça que a preferência pelo conforto em algumas ocasiões pode ser por demais destrutiva.
O que eu chamo de preguiça, pode muito bem ter outro nome, resistência.
A resistência diz que mudar é perigoso, desconhecido, inseguro ou impróprio...
A resistência diz que não estou autorizada a mudar!
A resistência alimenta minha rigidez, e juntas elas impedem que eu tenha contato com qualquer coisa que seja nova ou diferente, com qualquer coisa que produza mudança...
Mas mudar é inevitável, é algo que não se pode controlar depois de algumas escolhas que fiz...
Eu escolhi entrar em contato, logo, mudamos toda vez que entramos em contato com nossa alma através de outros e com outros, isso é bom apesar de ser ameaçador em algumas vezes...
O medo do novo traz a ansiedade, mas é você e só você decide se quer ou não ir adiante.
Paula
20.10.2008

domingo, 18 de outubro de 2009

O que é certo? Um diálogo entre duas mentes inconformadas Parte II - Paula

Ligia
Acima de qualquer coisa, vejo no teu texto um desabafo...
Não há o que comentar, tudo isso me fez pensar...

Certo, o que é certo?
Certo é ser autêntico ou se enquadrar nos tempos e padrões sociais?
Ninguém deve, ninguém pode ficar à margem daquilo que a sociedade pensa e exige?
Esta palavra certo, do verbo acertar, me fez pensar da forma como fomos criadas, quando falo da forma em que fomos criadas, falo da educação religiosa que tivemos e falo também de tantos outros que não tiveram educação religiosa, mas que são neuróticos, congelados, sementes embotadas no afã de acertar.
No que diz respeito à educação religiosa, a ênfase no acertar é bastante forte, ou melhor, a ênfase no erro, no pecado é muito forte, pois quem quer errar, quem quer pecar?
Todo mundo é incentivado a ser certinho, semi-deuses...
Ninguém fala abertamente que em se tratando de seres humanos, muitas vezes o que é certo só vem depois de se errar bastante e de se pecar bastante também...
Deus nos fez únicos, insubstituíveis, diferentes, diversos...
Somos de etnias diferentes, falamos línguas diferentes, produzimos culturas diferentes, entretanto há sempre uma instituição social tal como igreja, escola, a indústria cultural e até mesmo a família tentando nos padronizar, tudo isso para nos controlar melhor.
Como vc bem destacou no seu texto, existem vivências que são coletivas, isto é, todo mundo passa por elas, tais como infância, adolescência, juventude, adultícia e a maturidade, só que a maneira com que cada um vive cada tempo é particular e só a nós diz respeito.
Eu fico muito, muito irritada quando alguém pergunta pelo neném que ainda não veio, ou quando alguém teima em enxergar uma barriga de grávida debaixo das minhas batas (que eu adooooooooro usar desde cça) ou de um vestidinho mais solto.
Eu acho que deveriam me perguntar sobre qualquer coisa, sobre meus projetos, sobre o que estou fazendo no momento, meus sonhos, meu casamento, mas sempre me perguntam pelo raio do filho e de uma forma como eu só fosse ser alguém depois de parir... Quando respondo que não penso nisso ou que não tenho planos para filhos em curto ou médio prazo, vc precisa ver as caras...
Me sinto como se fosse de outro mundo, ou será que surtei?
Já ouvi tanta coisa como "Vc vai se arrepender!!!" (uma profecia ou uma maldição?!),
"Como vai ser quando envelhecer, quem vai cuidar de vc?" (Então quer dizer que parir é um ótimo investimento para o meu futuro?)
"É tão bom... vc não sabe o que está perdendo..." (Sei sim queridinha, será que vc não entende que o que é bom para vc, não é bom para mim?!).
Tem ainda aqueles que dizem que concordam comigo, dizem que tudo bem, que ainda sou nova, mas acreditam que um dia ainda vou me converter... E se não?!
É muito difícil encontrar alguém que respeite e que admire minha decisão, meus pensamentos e o que eu sinto a respeito de ser mãe... realmente Lígia não é fácil encontrar alguém que me entenda, que nos entenda...
Vejo no teu texto um desabafo e também um clamor por autonomia.
Um clamor pra dentro de você mesma.
As pessoas nos irritam com estes comentários insensatos, mas vejo ainda forças internas que nos empurram em direção ao que os outros pensam que é certo. Permita-me dizer que a luta não é tanto com que está fora de nós, mas com o que está dentro de nós.
Autonomos - Auto = si mesmo Nomos = leis
Sermos autonomos é sermos donos de nossas próprias leis.
A glória do ser humano é ser autonomo, mas a forma como fomos e como somos criados conspira contra a autonomia.
Uma vez comecei a me questionar sobre o porque ficava tão reativa quando alguém me perguntava se eu não achava que estava passando da hora de ter um neném, diante disso me questionei se estava bem resolvida com a questão e na verdade não encontrei nada de "errado" em mim, assim como não há nada de "errado" com muitas que não querem casar, com os insatisfeitos com suas profissões e que decidem mudar mesmo tendo 70 anos ou com qualquer outro que se lixe com as convenções sociais. Errado mesmo era a minha vontade de fazer o certo só para agradar os outros, para ser reconhecida como a certinha, como a boazinha violentando a mim mesma.
Seu desabafo serve para nos mostrar que viver em sociedade, na sociedade e diante da sociedade exige uma alta dose de equilíbrio porque a socialização desde a primeira infância é importante para que não nos tornemos individualistas, nem insensíveis às necessidades alheias, mas de forma alguma não podemos em função do grupo, ou dos grupos perder contato com aquilo que nos faz essencialmente únicos, especiais, diferentes...
Essas cobranças não mudam, vão sempre querer nos enquadrar nos moldes socialmente aceitos e o que temos que fazer amiga é enfrentar as certezas dos outros aceitando as suas incertezas ao nosso respeito, talvez isso os escandalize e os faça pensar...
Se bem que há os que são tão condicionados que há muito não fazem isso, se é que fizeram um dia...

bjssssss
Paula 16/10/09

O que é certo?! Um diálogo entre duas mentes inconformadas... Parte I Ligia S Santos

O que é certo?
Meditando sobre a vida não chego nem a 50% do que ela realmente representa. Aliás, acho que nem a 10%. Seria muita pretenção.
Enfim, sei que nunca chegarei a uma porcentagem significativa, mas independente disso, não deixo de meditar sobre ela.
Vivo numa sociedade de cobranças sem fim. Nasci... como é linda, mas está tão magrinha ou está gordinha essa bebê...
Quando criança... essa menina não fala, o gato comeu a língua dela? Parece bicho do mato...
Adolescente... quanta espinha, precisa fazer um tratamento. já ficou mocinha? já tá namorando? vai fazer vestibular para quê?
Jovem... já terminou a faculdade? e o emprego? já casou? se casei, quando vem o primeiro fiho? com o primeiro filho, e o segundo?
Adulta... ainda não casou? largou a profissão e está em busca de outra? mas já está velha para isso... que roupa é essa?
Idosa... ainda quer estudar? vai casar de novo? como assim, dançando nessa idade?
Fases... são apenas fases... não impotam...
Quem determina o tempo interno sou eu. Já me basta ser escrava do tempo cronológico e fisiológico.
Quem determinou que existe tempo certo para casar, ter filhos ou não tê-los, para retomar o sonho de adolescência, para, enfim, fazer o que se quer?
Já me basta ser escrava de mim mesma, dos meus pensamentos, traumas, culpas, complexos, neuroses, preconceitos...
Quero liberdade para fazer o que quiser e quando quiser sem ter que dar satisfações a ninguém...
Estou cansada das minhas próprias cobranças, ainda tenho que aturar as dos outros? Não, mil vezes não!!!!!
A vida é efemera, e por isso não tenho tempo a perder procurando o que é certo e o que é errado. Esse conceito é transcendental. Nunca será totalmente revelado.
O que me faz feliz e não fere ao outro, para mim é certo. Acho que estou sendo pretenciosa, mas é o que penso.
Não vou desistir do que acredito, mesmo que tenha passado da idade...

Paula, pode falar o q quiser, confio plenamente em vc. bjussss

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

De uma das minhas mestras Lya Luft: Pensar é Transgredir

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos, para não morrermos soterrados na poesia da banalidade, embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência : isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante : "Parar pra pensar, nem pensar !"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar : reavaliar-se .
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondemos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se : a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado. Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Angústia: Uma dor que reorganiza...


“A angústia arrasa. Demole certezas, aniquila, mas pode ser educativa (...)
A angústia é um pleno conhecimento do nosso interior, ou seja, ela é intrínseca à experiência da liberdade (...) É a angústia, inclusive, que auxiliar o indivíduo a elaborar quem ele é realmente, onde se encontra existencialmente e para onde ele deve ir através de suas escolhas”.

Um bolo do estômago.
Algo que não digeri, nem processei...
Está entalado, atravessado, obstruindo a passagem
Acabando com a circulação.
Na verdade há uma batalha sendo travada em minha mente e em meu coração,
Ela está acontecendo no subterrâneo do meu ser,
Onde o meu raciocínio não chega, a razão não alcança...
A luta acontece onde eu não posso entender.
Só sinto o bolo, o enjôo, o mau estar,
A letargia, o peso da morte...
Alguma coisa morreu dentro de mim
Olho no espelho e vejo os olhos baços, sem vida...
Quisera eu que um buraco abrisse debaixo de mim e me engolisse, seria tão bom...
Mas será que este não é meu desejo de não querer enfrentar a vida,
Admitir a ferida e fazer eclodir a dor?!
Morto não sente dor...
Só sente dor quem está vivo
Minha dor é a vida latejando dentro de mim.
A dor é uma amiga,
Que eu tento a todo instante calar, silenciar...
E com isso me infantilizo, vivendo uma fantasia onde não há perdas significativas,
Para não viver a dor.
Porém sem dor não há amor.
Amor não é masoquismo, não é se comprazer no sofrimento...
Amor não é co-dependência,
Ou qualquer outra anulação da personalidade em função do outro.
Amor é um exercício da maturidade.
Deixo de amar porque insisto em ficar agarrada às minhas fantasias do que poderia ter sido
E não abraço e aceito a realidade daquilo que é.
Aquilo que é dói demais,
Mas não mata mais do que aquilo que poderia ter sido e não é...
Às vezes flertamos mais que a morte, com a destruição do que com a vida
E com isso perdemos muito tempo até entendermos o que é viver.
Pena que para alguns esta compreensão chega tarde demais,
Chega apenas para não deixar o indivíduo partir para a outra vida com o gosto de fel na boca.
Quem ama a fantasia nada pode mudar,
Mas quem aceita aquilo que é e quem é, pode realmente alterar o rumo da sua história...
É assim que eu me sinto: desestruturada,
Sem eira, nem beira,
Como se eu tivesse perdido o rumo, o meu norte...
Estou solta, perdida, desligada,
Uma pipa avoada!
Interessante é que uma pipa voa ao sabor do vento, mas o tempo todo ela está presa pelas mãos do seu condutor e somente quando é cortada que voa livre pelo céu, levada pelo vento até ser apanhada outra vez ... ou não...
Ser livre dói,
Não há controle, não há condutor
Apenas eu e o outro, eu e o mundo, eu e algo que não é eu,
Algo com quem tenho que aprender a interagir e não me perder nele.
Ser livre é ser dono de suas próprias leis: auto nomos.
Ser livre é ser dono de si mesmo e isso inclui ser dono das suas alegrias, dos seus medos, das suas angústias e das suas incertezas.
Ser livre é ser dono de sua própria dor e liberá-la, deixar que cumpra seu propósito.
Ser livre é colocar a cabeça em cima do travesseiro, respirar bem lenta e profundamente dormindo o sono dos anjos.
Ser livre é ser desapegado...
Ser é livre é viver focado naquilo que só nos faz bem.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pensando no dia das crianças...

O que o ser criança desperta em vc???
Existe uma criança que mora em você, como ela está???
No dia das crianças, celebre a criança que você ainda é!
Porque a infância passa, mas de uma certa forma ela é atemporal!!!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Essa Mônica é das minhas hehehehe


"O Bom Samaritano” ou “ O Bom Travesti"

E perguntaram a Jesus: "Quem é o meu próximo?" E ele lhes contou a seguinte parábola:Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: "Vá passando a carteira". O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: "Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você." Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: "Ego te absolvo..." Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: "Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!" O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, "aleluia!" e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: "Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir." Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: "Quem foi o próximo do homem ferido?" Rubem Alves

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

LEMBRETE AOS AMIGOS


Negra ou Morena?


"Vá em busca do seu povo. Ame-o.
Aprenda com ele.
Comece com aquilo que ele sabe.
Construa sobre aquilo que ele tem."
Rwame N’Krumah

Não tem pra onde correr, sou negra, negra de verdade!
Identificar-me como negra num país como o Brasil que dá ênfase à hibridização, à mestiçagem é um desafio. Muitas vezes é quase que sair no tapa com quem me interpela!
A ênfase na hibridização, na fábula de que aqui não há negros, brancos, amarelos e/ou vermelhos e que somos todos misturados, é um entrave à construção e ao fortalecimento de uma identidade negra, se alguém porventura se assume como negro e diz ter orgulho de sê-lo corre o risco de ser taxado de racista ao inverso.
Penso (é claro bem alicerçada nos teóricos das Ciências Sociais tais como o MUNANGA e o DAMATTA) que a mestiçagem é um mito que serve para mascarar a forte hierarquização sócio-racial na qual foi e está instituída a nossa célebre sociedade brasileira. Daí a dificuldade para estabelecer e fortalecer uma identidade negra.
Assim sendo, não existem negros, ou se existem são apenas minoria como apontam os censos, somos “com muito orgulho” moreninhos e moreninhas.
Por isso, ser negro no Brasil é fazer uma opção, não basta nascer negro, é preciso tornar-se negro. Ser negro é ir além das características fenotípicas e identificar-se social e culturalmente com um grupo que possui as mesmas origens e uma contribuição cultural própria.
Um negro se descobre como tal em pelo menos três situações:

1) Quando sofre discriminação por causa da cor da sua pele – Embora muitos de nós tentemos não ser discriminados apelando para o bom comportamento, outros tendo um poder aquisitivo acima da média e ainda outros estudando muito além que a maioria. Nos esforçamos para sermos negros especiais e então passarmos por brancos a fim de evitar a discriminação, em muitos casos funciona, e como! Mas nem sempre, viu?!

2) Quando se olha no espelho e reconhece o cabelo crespo, os lábios grossos, talvez um nariz largo e pouco achatado... É bom lembrar que a estética negra é uma estética diferente da estética dominante que é a branca, preferencialmente branca européia, enaltecendo as criaturas louras de olhos claros. Meu cabelo não é ruim em relação ao cabelo dos brancos, ele é diferente, é crespo, ou melhor, crespíssimo (como li numa revista há anos atrás), afirmar que meu cabelo é ruim, é afirmar que ele é inferior, pior que o cabelo do não-negro e isso não é verdade (mas vai enfiar isso na cabeça de negros e de brancos também!).


3) Quando se reconhece nas culturas negras existentes, digo culturas negras porque não existe apenas uma cultura negra como matriz da sociedade brasileira, penso que não é preciso ser praticante de candomblé, nem passista de escola de samba para produzir cultura negra e expressar-se como negro.

Realmente, o Brasil é um dos países mais híbridos do mundo, isso não dá pra negar, em minha família há portugueses, índios e negros em sua composição, mas não há como deixar de me posicionar, ser negro além de tudo que foi dito é uma postura política, e é esta minha opção. Muitos podem me chamar de moreninha, mulatinha, mas para mim (e esta também é a forma de me apresentar) eu sou é NEGRA!!!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quando três é demais

seg, 28/09/09
por Martha Mendonça

No sábado fiz um post sobre as mudanças na vida sexual dos casais depois que nascem os filhos, com base em uma pesquisa inglesa. A maioria dos comentários era de leitores casados, contando as transformações que vieram a reboque da chegada das crianças. Mas um deles foi contra a corrente. “Não ter filhos é uma boa opção!!!!!”, afirmou a leitora Regina. De fato, para a grande maioria das mulheres, ter filhos é essencial para a felicidade. Mas, aos poucos, e enfrentando o preconceito, cresce o time das que preferem não ser mães.
Tenho duas amigas por volta dos 40 anos que sempre disseram que não queriam filhos. Não era uma questão de “tanto faz”. Desde muito jovens, elas já haviam se decidido por este caminho. Não que não gostem de crianças. São sempre amáveis e jeitosas com as minhas. Mas apresentam um número grande de motivos para esta opção: prezam sua rotina tranquila, o trabalho sem culpa, os fins de semana livres. “A ideia de poder ficar um domingo inteiro de bobeira, sem nada pra fazer, é um dos pontos altos da minha vida”, diz uma delas. A outra não trocaria seu cotidiano cultural de leituras, peças, cinema e cursos de todo tipo por fraldas, mamadeiras e parquinhos. Sem falar na vida a dois, que sempre fica comprometida com os rebentos. Encontrei outro dia na rua uma terceira amiga, também casada - e há muito tempo. Perguntou pelos meus filhos e eu questionei quando ela encomendaria os dela (essa pressão abominável que todo mundo acaba exercendo contra os casais sem filhos). “Não sei se quero, estou confusa. A ideia me apavora, mas tenho medo de me arrepender na hora em que não puder mais”.
Recém-lançado nos Estados Unidos, o livro Two is Enough (Dois é Suficiente), tenta destruir alguns mitos da paternidade - ou da ausência dela, fazendo com que as mulheres que optam por não ter filhos deixem de se sentir alienígenas. “Existe um estigma enorme sobre as mulheres que não têm filhos por opção. Não ser mãe é percebido como egoísmo, com uma pitada de trágico: esta mulher vai morrer sozinha com dez gatos”, diz a autora, Laura S. Scott, casada e sem filhos, que conversou com 170 pessoas sem filhos e especialistas. No site da Marie Claire americana, ela comenta, com bom humor, 10 mitos sobre a paternidade.
TODAS AS MULHERES TÊM INSTINTO MATERNO“Não é verdade, existe um número enorme de mulheres que jamais tiveram este desejo - inclusive muitas que acabaram tendo filhos”
A PATERNIDADE FAZ DE VOCÊ UMA PESSOA MELHOR“Melhor do que quem? Gandhi? Oprah?”
TER FILHOS É, POR DEFINIÇÃO, COMPENSADOR“Para alguns, sim. Para todos? Não. Numa pesquisa com 20 mil pais, um terço afirmou que, se soubessem antes como era, não teriam iniciado uma família”
É DIFERENTE QUANDO O FILHO É SEU“Se você não gosta de crianças por perto, não será mais tolerante só porque são seus. Especialmente quando dão um escândalo no supermercado”
A PATERNIDADE AMADURECE“A sociedade propaga essa ideia, mas vamos encarar a verdade. Ter filhos não faz ninguém se comportar de forma mais madura. Muitos pais e mães agem infantilmente”
UM BEBÊ FORTALECE O CASAMENTO“Toda pesquisa entre casais mostra que o relacionamento conjugal piora - especialmente para as mulheres - depois da chegada do primeiro filho. E jamais volta para o nível de lua-de-mel antes de eles saírem de casa”
VOCÊ VAI SE ARREPENDER DE NÃO TER TIDO FILHOS“Não existe estudo que mostre este arrependimento, quando foi uma opção pensada”
FILHOS SÃO UMA SEGURANÇA PARA QUANDO VOCÊ ENVELHECER“Filhos adultos têm suas vidas e às vezes moram a centenas de quilômetros de distãncia. Para garantir de verdade o futuro, é melhor fazer um plano de previdência privada”.
A minhas amigas que vivem dilema do “ter ou não ter”, sempre digo a mesma coisa: eu adoro ter filhos, mas é algo que eu sempre quis, sem dúvida alguma. Se você não tem certeza, o melhor é não ter. Porque ser pai ou ser mãe é algo que requer mudanças drásticas, dedicação e sacrifícios. E o retorno disso tudo, a felicidade de vê-los crescer, talvez só seja compensadora para quem optou de verdade por essa aventura.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Hoje eu quero ser criança


“Se vocês não deixarem a rígidez, os preconceitos, a ânsia pelo controle da própria vida e da vida dos outros, o orgulho, entre outras coisas, e se tornarem iguais às crianças nunca serão felizes.
Quem é feliz, é humilde e tem o coração idêntico ao de uma criança.”

(Paula parafraseando Mateus 18.1-4)

Hoje quero ser criança e saber apenas com o coração,
Não com a cabeça.

Hoje eu quero ser criança: brincar, correr, suar, respirar rápido, forte, devagar,
O ritmo não importa, que seja como eu desejar.

Hoje eu quero ser criança e fazer da minha cama um colo grande e bem quente,
Para me fazer calar, desarmar e enfim sossegada descansar.

Hoje eu quero ser criança e ser dependente, porque não sou auto-suficiente!
Tudo o que sou, sou, porque preciso de gente!

Hoje quero ser criança e ficar leve porque criança que é criança perdoa, esquece,
Continua a brincar com quem a magoou.

Hoje eu quero ser criança e confiar na direção que aponta o meu coração através dos meus lindos sonhos.
Tratar como realidade aquilo que só existe em minha imaginação.

Hoje eu quero ser criança porque hoje eu não preciso de certezas,
Mas de possibilidades sem limites.

250909

O que é primordial ?


Falar de mim de uma forma honesta, não é tão fácil quanto parece, ou quanto eu gostaria que fosse.
Nem pensar em mim,
Nem olhar para mim,
Muito menos cuidar de mim.
É mais fácil olhar para fora, dançar conforme a música alheia.
Minha mente e meu olhar foram educados para olhar pra fora e colocar outras coisas que não eram eu em primeiro plano.
Falo tanto em liberdade, mas a conheço muito pouco.
Vivo pouco essa tal de liberdade, ela é um ideal, uma inspiração, um desejo forte, uma paixão, mas não a encontro encarnada em mim.
O que vejo e sinto em mim é rigidez (socorro!!!!!).
Na verdade, ouço as vozes da liberdade que ecoam de dentro de mim, mas tenho resistência em ceder espaço a elas.
A liberdade é aliada do auto-conhecimento, que é um desafio, pois parece e é prazeroso, mas possui muitos momentos de perplexidade e dor... E assim como a vida nos conduz a situações imprevistas e incontroláveis.
Não somos o que pensamos ser.
Não somos o que queremos ser.
Somos o que somos, apenas ser o que somos desmonta muitas fantasias e ilusões que alimentamos desnecessariamente e que nos impede de caminhar com leveza por causa do peso que estas coisas trazem.
Falo estas coisas porque parece que passamos a vida inteira inventando alguém que não somos nós, ou idealizando alguém que nunca chegaremos a ser e com isso nos alienamos do nosso verdadeiro ser e da nossa verdadeira vida.
O que é primordial?
Primordial é ouvir o que o meu coração e o meu corpo dizem.
Primordial é respirar, é ver o mar, é dormir, fazer amor, é ser gente e não máquina.
Primordial é reconhecer e respeitar os próprios limites e os alheios também.
Primordial é viver, porque a existência é única e passa rápido demais.
Primordial é encarnar a liberdade de ser e viver em minha própria vida todos os dias.
Logo, primordial é reconhecer os motivos que tenho para ser feliz hoje e não colocar a felicidade distante de mim, como um alvo a ser perseguido, ou um objetivo a ser conquistado.
Paula 11.04.2008

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pensando no meu maior companheiro de brincadeiras Carlos Henrique

* Para aperfeiçoar o casamento e torná-lo mais feliz, nossos legisladores criaram o casamento com separação de bens. Mas falta ainda um passo para que a felicidade dos cônjuges seja completa: a criação do casamento com separação de males.* Meu pai me contou que, quando era menino, no início do século passado, guardava seus brinquedos num saco. Os brinquedos que meu pai menino guardava no saco: latas vazias, pedaços de barbante, sementes, sabugos de milho, botões, pedaços de pau, pedrinhas e todo tipo de coisas inúteis. Quando alguém aparecia para visitar minha avó ele pegava o saco de brinquedos e o esvaziava diante da visita. Certamente achava seus brinquedos interessantíssimos! A mãe dele ficava furiosa e lhe aplicava o devido corretivo de chineladas depois que a visita ia embora. A chinela era um dos itens favoritos que minha avó guardava no saco de brinquedos dela. As crianças continuam as mesmas. Ainda gostam de mostrar brinquedos. A gente cresce e continua criança. “Em todo homem há uma criança que deseja brincar...“ (Nietzsche). E todos temos o nosso saco de brinquedos. A fala somos nós abrindo o saco e despejando brinquedos... O saco de brinquedos: isso é de fundamental importância, quando o amor está em jogo. A paixão acontece quando, fascinados por uma imagem – pode ser um jeito de olhar, um jeito de sorrir, um jeito de falar... - imaginamos que dentro daquele corpo de imagem fascinante estão guardados os brinquedos com que gostamos de brincar. O que vemos é a imagem da pessoa amada, mas o que imaginamos são os brinquedos que julgamos guardados dentro dela. A imagem, sozinha, logo se transforma em monotonia. Ninguém consegue ficar o tempo todo contemplando a pessoa amada, por bonita que seja. O que alimenta a paixão não é a imagem mas os brinquedos que ela guarda... Hermann Hesse dizia que a pessoa objeto do nosso amor é apenas um símbolo, uma lagoa onde o rosto da “Outra“ aparece refletido. Que Outra? Aquela que imaginamos. Veja esses versos de Fernando Pessoa. Mas leia bem devagar...“Amamos sempre, no que temos,O que não temos quando amamos.O barco pára, largo os remosE, um a outro, as mãos nos damos.A quem dou as mãos? À Outra.Teus beijos são de mel de boca,São os que sempre pensei dar,E agora a minha boca tocaA boca que eu sonhei beijar.De quem é a boca? Da Outra...“E assim vai. Mas chega um tempo em que nos cansamos de dar as mãos, nos cansamos de olhar, nos cansamos de beijar. E dizemos: “Vamos brincar?“ Hora de abrir o saco, hora da verdade... Os brinquedos espalhados pelo chão, descobrimos que não eram os brinquedos que imaginávamos. O saco era lindo! E a beleza do saco nos enganou. Uma relação amorosa, para ser duradoura, tem de ser uma relação de brincar. Ela dura enquanto os dois brincam. Um gosta de brincar com bilboquê ou de ouvir música sertaneja, enquanto o outro detesta bilboquê e prefere ouvir música clássica... Aí o jeito é brincar sozinho. O Outro, quando aparece, é um desmancha-prazeres... Pergunta que os parceiros deveriam se fazer: “Temos prazer em brincar juntos? Ficamos felizes só em pensar que vamos brincar juntos?“ Se a resposta for negativa é melhor ir procurar outro saco...

Rubem Alves

Transgressão por palavras

Transgredir o cotidiano com violenta suavidade de palavras
E plurificar os significadosas relações
as noites e os dias.
Transgredir o cotidiano compassos reais,
sentindo forte necessidade de mudança (violenta e por pluralidades)
que nos alimenta o nosso lado mais que humano.
Trangressão por palavras...
enquanto a noite surge e o café esfria.

Ricardo Pereira

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SENHOR, PRECISO DESESPERADAMENTE MUDAR DE VIDA

“Quem faz anos de terapia às vezes se desespera porque já entendeu as razões que a levam a um tipo de comportamento destrutivo. Mas entender não é o suficiente. Mudar é o processo mais difícil na vida, especialmente mudar o funcionamento da mente desde que nascemos...”
Eliane Brum

Eu vou um pouco mais além, pois acredito que nossa mente é condicionada, formada, alimentada, antes mesmo de nos tornarmos zigotos, embriões, por isso, meu grito desesperado:
Senhor, preciso desesperadamente mudar de vida!
Não uma mudança repentina, radical, mas uma mudança que combine com meu ritmo, que não me violente, isto é, que a mudança seja lenta e gradual!

Esse clamor acima não é de uma pessoa que luta contra vícios como drogas, alcoolismo, tabagismo, compulsão sexual, jogatina entre outros. Mesmo sem viver estas crises especificamente, meu clamor é tão sofrido quanto, pois preciso desesperadamente aprender a viver.
Para mim a existência e a presença de Deus se tornam evidentes quando uma pessoa é capaz de mudar não apenas o seu comportamento, mas sua forma de pensar e de ver a vida.
Preciso mudar e isso não é fácil, e mais difícil ainda é que não vou mudar para ninguém apenas para mim mesma, já chegou a hora de crescer e deixar definitivamente muita coisa, muitos pesos, muitos fantasmas que ainda me acompanham pra trás.
Realmente eu entendo racionalmente muitos processos por quais eu vivo, mas chegou a hora de ir além disso.
Se Deus me visitasse e me perguntasse o que eu gostaria de mudar, eu lhe diria em primeiro lugar que gostaria de mudar meus olhos, meu olhar... Não vejo o suficiente, tenho uma espécie de cegueira, meu olhar é embaçado, limitado, curto e eu gostaria muito que isso mudasse. Eu acho que só a mudança da visão por si só já causaria uma revolução em minha vida, eu até me olharia de outra maneira, veria uma mulher em vez de uma menina, uma mulher rica em vez de uma mulher pobre e quando falo em mulher rica não falo apenas em termos financeiros, mas de alguém que tem muito pra dar em todos os sentidos e que não precisa ficar se economizando. Eu veria como a felicidade sempre esteve ao meu lado, e veria profundamente como sou bonita e especial. Eu veria que não há tempo a perder porque a vida é curta e não sabemos o que pode nos suceder no dia de amanhã, ao mesmo tempo em que veria que há coisas que podem esperar sim e ainda outras que precisamos aceitar porque não vão mudar nunca.
Eu veria muitas coisas ruins, desagradáveis, veria com profundidade o coração humano, o sofrimento alheio e também veria com profundidade o meu coração o que naturalmente me faria sofrer, mas creio que já amadureci a ponto de não ser consumida nem pela minha dor, nem pela dor de ninguém. É preciso ver tristeza, pobreza, dor, desordem, confusão, solidão, loucura, escuridão, pavor, com muita clareza a fim de se tomar uma atitude inovadora frente a tudo isso. Neste momento eu me lembro de pessoas que vivem à margem da sociedade envoltas no manto da pobreza, da impossibilidade, que não tem sequer a oportunidade de se descobrirem humanas porque seus instintos mais primitivos as dominam, fico pensando em como seria se elas pudessem ser transformadas em pessoas de verdade. Elas não são transformadas porque lhes é vedado ver aquilo que verdadeiramente são. É interessante para aqueles que as dominam mantê-las como animais, mostrá-las como animais, fazer com que se sintam como animais porque enquanto pessoas, elas seriam livres e transformariam suas próprias vidas, suas casas, seu o bairro, sua vila, sua cidade... Enfim, abalariam a hierarquia social. Quantas vezes não nos sentimos melhores que elas, mas o nosso drama é o mesmo drama. O manto da pobreza, da impossibilidade, da dor cobrem meus olhos de tal forma que não enxergo a vida como ela é, suas reais possibilidades, não me enxergo como sou, o que realmente posso vir a ser, não enxergo os outros como são e então concluo que a vida possui apenas uma perspectiva: sobrevida e cativeiro de ditames que sequer existem.
CHEGA!!! A pouca visão que tenho já foi suficiente para realizar tanta coisa, é isso mesmo! Apesar de ter uma visão turva, pequena, limitada consegui conquistar muita coisa, mas sinto que é preciso ir mais além... Sinto que preciso ir além de mim mesma, além dos meus limites (no bom sentido), mas ainda não enxergo muita coisa, por isso, gostaria de convidar o Todo Poderoso para uma conferência. Não, conferência não! Conferência é algo muito formal. Quero convidá-lo para um café e depois de fazer tanta cerimônia e Ele enfim ir direto ao assunto e me perguntar porque o chamei, lhe direi que por hoje tenho apenas um desejo: que Ele dilate, amplie, mude minha vida a partir do meu olhar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Coisas que estou pensando perto do meu aniversário

"...Viver é lutar diariamente com o medo. Talvez esse seja o sentido da lenda de São Jorge, lutando com o dragão. O dragão não morre nunca. E a batalha se repete, a cada dia (...) A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.
O medo não é uma perturbação psicológica. Ela é parte de nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar.Quem por causa do medo se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, apenas quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: "Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará." Viver a vida aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é a ausência do medo. É viver, a despeito do medo." Rubem Alves

Faltam poucos dias para o meu aniversário e é nesta época é comum eu parar para pensar. Pensar às vezes não é muito agradável, mas necessário...
Parar para pensar nem sempre é um gesto espontâneo, mas é urgente, é uma demanda que precisa ser atendida.
Como já disse uma grande pensadora: "pensar é transgredir", logo, para dar sentido a nossa existência, em muitas ocasiões precisamos transgredir e subverter aquilo que vem com força de determinação, nos obrigando a escolher caminhos que não são os nossos, a nos conformar com movimentos que nos machucam, que nos apequenam diante das diversas possibilidades que temos pra viver o que somos.
Pensar, apesar de ser difícil e muitas vezes anti-natural é próprio do humano, percebo que o movimento da contemporaneidade tem nos levado a cada dia, cada ano, a cada vez mais nos desumanizar, a arrancar de nós o que temos de mais precioso e nos tornar máquinas: máquinas de trabalhar, máquinas de parir, máquinas de fazer sexo, máquinas consumidoras, máquinas comercializáveis...
Fico transtornada ao perceber que o ser humano anda casa vez mais alienado de si mesmo, alienado na natureza, alienado de seu próprio vazio existencial que o leva a criar, a produzir arte, a pensar, a sentir, a buscar o seu Criador.
Para lidar com sua alienação, o humano tem silenciado suas emoções através de medicamentos, drogas legais e ilegais, através do abuso de alimentos, do consumismo desenfreado, todas estas estratégias infelizes que aceleram sua degradação e aprofundam a alienação.
É neste mundo que eu vivo, a princípio não escolhi viver nele pois ningúem pede para nascer, mas estou escolhendo como viver nele.
Eu mesmo lido com o desafio da não-alienação todos os dias, parece algo óbvio, mas não é tão simples olhar-me no espelho e enxergar o ser humano que sou... Somos tantas coisas que deixamos de ser humanos, deixamos de ser complexos, criativos, autonomos, deixamos de ser nós mesmos e tudo isso por quê? Para quê? Para quem? Longe de fazer apologia ao egoísmo, penso que não podemos viver em função de outros, nem de pai, mãe, filhos, maridos, esposas, irmãos, organizações, empregos, isso não leva ninguém a lugar nenhum... Só pode doar-se para outros aquele que já se possui.
Digo isso porque confundimos altruísmo com simbiose, existem muitas pessoas que mesmo com 20, 30, 40, 50, 60, 70 anos procuram sentido para sua existência em alo exterior a elas, como se quisessem manter com pessoas e Instituições o mesmo vínculo simbiótico, o mesmo cordão que existia entre elas e suas mães no período da gestação. Os anos passam e elas não sabem se comportar de outra maneira, o que é muito triste, pois estas pessoas tem sua existência atrofiada pelo medo de abandonar seus ninhos quentes e confortáveis.
Não posso dizer que não sou desse jeito, não posso dizer que não fui assim, a cada dia tenho descoberto que não sou melhor do que ninguém, sou apenas humana e como humana também me apresentou com inúmeros dilemas existenciais, dilemas estes que procuro tratar através de penosas reflexões (rsrsrsrs), e foi através da reflexão que descobri que preciso mudar minha forma de pensar, descobri que quero me possuir para me doar ao mundo de forma impactante e significativa.
Sinto que é exatamente este o meu desafio para o próximo ano, é este desejo que me move atualmente.
Eu já deveria ter aprendido a lição de que o que procuro intensamente longe de mim na verdade está mais perto do que eu ousaria imaginar... Aquilo que procurei fora de mim, na verdade estava bem perto, estava dentro de mim mesma o tempo todo. Meu desafio é tomar posse de mim mesma, para enfim doar-me, consolidando assim meu projeto existencial...
Bom, eu acho que é isso...
Julho 2009

A força que está por trás do movimento do tempo é um lamento que não pode ser consolado”. Judith Viorst

Todos nós temos um mesmo tempo.
Cada um de nós tem o seu próprio tempo.
O tempo passa e não podemos detê-lo
Para desgosto de alguns...

O tempo exige mudanças
Mudar é a forma que temos de nos harmonizar com o tempo.
O tempo não quer ser inimigo de ninguém, apenas um aliado.
Tenho que fazer as pazes com o tempo e com as suas exigências que são justas.
(Apesar de discordarmos no que se refere à justiça).

Ouça o que seu tempo tem a dizer,
Mas não peça a ele que pare, isso é inútil.
O tempo cumpre fielmente sua função,
Então, por mais que queiramos, ele não pára!
É impossível parar o tempo
É impossível segurá-lo nas mãos, aprisioná-lo ou mantê-lo em cativeiro.

Ouça que o seu tempo tem a dizer,
Ele dirá para que você siga o seu curso,
Ele dirá para que você o siga,
Ele dirá para que não tenha medo do que vier descobrir.
Ele dirá que você suportará o que encontrar pela frente.
Ele mesmo nos prepara se o assumirmos como nosso tempo.
Ás vezes sou dominada pelo meu tempo e não o domino, isso é mau!
O tempo só pode ser meu aliado, se tomo posse dele e o uso a meu favor.
Isto é, se me posiciono corretamente diante dele e se ouço o que ele tem a dizer.
Tomar posse do tempo nada tem a ver com aprisioná-lo ou retê-lo, mas vivê-lo...
Tomar posse do tempo é sorver cada minuto do que quer que seja que a vida colocou diante de nós.
Tomar posse do tempo não é fugir dele, ludibriá-lo, mas abraçá-lo.

Não sei tomar posse do meu tempo
Não sei ouvi-lo, estou sempre com a cabeça em outro lugar,
Quem sabe, em outro tempo que não é o meu...
Meu tempo se chama presente, este é o único tempo que possuo de fato.
E tudo o que não é presente, não me pertence, nem está sob o meu domínio.
Tudo o que não é presente, mas que quero reter, é o que perdi, é o que já não tenho mais.
Há uma perda no meu presente.
Tenho investido minhas energias em chorar e tentar recuperar o que perdi
Ou Talvez eu esteja me ocupando com coisas que jamais terei
Há uma perda em meu passado.
O presente diz que eu as perdi, mas eu não acho justo e de alguma maneira eu continuo reivindicando-as, sinto que em busca da justiça também tenho me tornado injusta como a vida.
Posso viver apesar das injustiças causadas pela vida?
Não há quem possa impedir as feridas, mas há como olhar com ternura para as minhas cicatrizes.
E para isso posso usar o tempo como meu aliado.
O tempo se torna meu inimigo quando vivo o presente com o coração retido no passado, no afã de evitar as feridas, a dor, a decepção, a frustração...
Tudo isso é inútil, não posso parar o tempo para tentar recuperar o que se perdeu.
Existem coisas que jamais são recuperadas, por mais que queiramos ou lutemos.
Não há como voltar no tempo.


Paula
06/02/2008

Resposta do Ricardo a Sobre Seres Humanos e Máquinas

Necessidade de qualquer coisa

À Paula, grande amiga

Mergulhei algumas vezes nos silêncios do meu interior
Para que tudo aquilo
Que eu percebia – enquanto silêncio e calmaria
Se transformasse

E metáforas baldias nasceram...
Criações que não pude incorporar ao meu corrido dia-a-dia
Velozes transformações
Que sacudiram minhas lembranças

Imagens árcades e românticas
De momentos tais que não me pertencem mais ficaram lá atrás
Pois
Na vastidão destes atuais enredos não me sinto como antes

Antes
A vida parecia simples e bucólica – sem precedentes
E não havia nenhuma necessidade
De ser mais que qualquer coisa

Agora
Mergulho no delírio insensato de me “coisificar”
Numa máquina de transformações inoperantes
... como se a vida pudesse ser industrializada.

Mergulhei no vastíssimo campo dos meus silêncios interiores
E percebi a grande necessidade de
Olhar novamente o horizonte com
Humanidade

Rigope, 28/10/2008.

Sobre seres humanos e máquinas

Rio, 26.10.2008



I
Quero poder mergulhar no silêncio...
Preciso mergulhar no silêncio de minh’alma e me encontrar...
Mergulhar no silêncio de minh’alma e descansar.
Depois de ser sacudida durante horas e dias por ritmos frenéticos e músicas nervosas, preciso do silêncio para me reconfigurar, para recarregar as baterias e me lembrar de que não sou uma máquina.
Seres humanos não são máquinas, mas a cada dia que passa, estamos mais desumanizados, isto é, mecanizados.
Seres humanos não são coisas que se usam e depois são descartadas porque se tornam inúteis, mas estamos cada vez mais banais, alienados de nossa própria essência.
A espécie humana está se degenerando, se auto-destruindo quando realiza incursões em que pensa atingir apenas o outro, e é ilusão pensar que isso não me inclui.
Escrever, pensar, sentir, emocionar-se, contemplar, dialogar (e não monologar) são armas para vencer tal degeneração, de resistir ser submerso pelo caos em que o ser o humano está.
Por isso, mergulho no silêncio de minha alma e descanso...
Antigamente eram chamados de heróis aqueles que realizavam atos foram do comum, tarefas extraordinárias ou feitos sobrenaturais.
Neste tempo, os heróis são aqueles que não se esqueceram de quem são: apenas seres humanos.


II
Desde crianças nos ensinam que devemos ser conformados, submissos, subservientes...
Não devemos perguntar, questionar, duvidar...
Desde pequenos nos ensinam que não devemos ser curiosos, humanos, apenas peças cumprindo sua função dentro de uma grande fábrica chamada sociedade.
Espera-se que as peças nunca tenham defeito e algumas atendem a essa expectativa. Existem as peças que logo começam a ranger, mas é só por um oleozinho e elas voltam ao “normal”.
E existem peças que já foram feitas para dar defeito, isso mesmo, foram feitas para dar defeito, pois não existe manutenção sem peças defeituosas. As peças defeituosas também têm sua função, elas explicam porque a fábrica não é um paraíso e a produção não é cem por cento. São os bodes expiatórios do sistema fabril
Existem peças que nunca se encaixam em lugar nenhum...
Pobres peças, inventadas, nomeadas, escolhidas, classificadas, para justificar o mau andamento da fábrica.
Desde pequenos aprendemos que cada peça tem seu lugar determinado, e que ao mesmo tempo ela pode ser o que quiser, idéia esta que é uma falácia, pois se cada peça pode ser o que ela quiser, como cada uma tem seu lugar determinado?
Aprendemos também que peças importantes e de valor são as que não rangem, nem dão defeito e se encaixam perfeitamente em seu lugar... Como ser uma peça de valor quando se é acondicionado em ambientes inadequados, de forma inadequada, de modo que a vida útil desta peça estará comprometida por conta da sua má conservação e inevitavelmente ela rangerá e dará defeito a curto ou médio prazo?
São peças que são classificadas como inúteis, mas são as que mais dão lucro para a fábrica.
Desde pequenos aprendemos que nada pode ameaçar o funcionamento desta máquina, desta grande fábrica chamada sociedade.
Por isso, não podemos perguntar, questionar, ser livres para expressar o que sinceramente pensamos. Estas pequenas atitudes já seriam suficientes para abalar esta grande estrutura.
Tenho consciência do quão poderosas são as influências sociais, mas luto para não ser uma peça descrita, classificada, nomeada pelo sistema para executar determinada função.
Existem outras possibilidades, eu sei que há, neste momento elas são mais produto da fé, ideais ou um sonho utópico, mas há poder para criar outros caminhos, uma outra identidade. A educação só cumpre sua missão quando é instrumento para revelar o que realmente somos e nos libertar para viver o que existe de melhor, nossa tão pretensa humanidade...

Ser humano é ser paradoxal...

Rio, 10.05.2008.

“(...) Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos”. Lia Luft

Sou um ser cindido em duas partes.
Não diria que uma delas é boa e a outra é má.
Seria uma explicação muito simplista para algo que é por demais complexo.
Uma parte de mim quer olhar para dentro e outra para fora.
Uma parte de mim valoriza o que eu sou e a outra o que eu faço.
Uma parte de mim quer auscultar as batidas do meu coração e a outra se preocupa somente com minha aparência diante dos outros.
Parece que na maior parte do tempo olho para fora e com os dedos em riste para me defender melhor.
É difícil olhar para dentro e me desfazer das fantasias que criei para me defender das minhas verdades.
Na verdade, é isto que tem doído mais do que qualquer outra coisa.
Tenho que arrancar partes de mim mesma que não me servem mais, mas que me são muito caras.
Minhas verdades são difíceis, são muito difíceis, duras, penosas.
Tenho muitos desejos bons, mas coloco muito pouco deles em prática.
É, eu sou assim!
Muitas vezes tenho a impressão de que seria mais fácil ser uma alienígena, uma pessoa muito diferente, especial, que não pertencesse a este mundo, mas pra dizer a verdade, eu sou muito comum, muito igual a todo mundo: preguiçosa, mentirosa, egoísta, interesseira e com uma carga muito potente de auto-destruição, além da paranóia que eu tenho de perder o controle e viver num estado caótico.
Quem é que disse que perder o controle é caótico?!
O caos muitas vezes nos ajuda a reoganizar nossa casa.
Não estou dizendo estas coisas para me depreciar, apenas estou tentando ser um pouco mais verdadeira comigo mesma.
Quero muito ser feliz e a felicidade está muito perto de mim, mas sempre faço questão me afastar dela ou afastá-la de mim. Confundo felicidade com perfeição. Nada mais equivocado, pois felicidade nada tem a ver com perfeição, que tem a ver com paranóia! Confundo felicidade com algo que não existe.
Não entendo o que é ser feliz... Ser feliz na verdade é exigir pouco de si mesmo, o que é bem diferente de ser uma pessoa acomodada. Ser feliz não é transgredir seus próprios limites... Ser feliz é ter paz na consciência... Ser feliz é a consciência de que não somos poderosos, mas que fazemos o possível. E o problema está aí, porque simplesmente não aceito o que é possível, mas quero mais! De repente, não acredito que não pode ser tão simples assim...
A felicidade não é nada estática, mas dinâmica e muda de acordo com o contexto.
Ser feliz é perder, entregar, deixar, abrir mão, desistir, soltar...
A felicidade está ao meu ao alcance é uma possibilidade muito real, mas não me vejo investindo nela.
Falo da minha mãe, mas eu também gosto de me responsabilizar por coisas e por pessoas que não deveria, também gosto de carregar pesos, angústias que me afastam do que a vida tem de melhor.
Porque a felicidade me ameaça, porque a felicidade é o desconhecido.
A Felicidade não é familiar.
É mais fácil lidar só com o meu desejo de ser feliz do que ser feliz de fato, porque ser feliz transcende os meus desejos, ser feliz de fato é maior do que minha obsessão pelo controle.
Para ser feliz preciso me responsabilizar pela minha tristeza, minha solidão e pela minha angústia e não mantê-las em cativeiro para usá-las como trunfo em qualquer jogo desta vida.