KARINA KLINGER
Mau humor pode ser doença --e grave! Um transtorno mental que se manifesta por meio de uma rabugice que parece eterna. Lembra muito o estado de espírito do Hardy Har Har, a hiena de desenho animado famosa por viver resmungando "Oh dia, oh céu, oh vida, oh azar".Distimia é o nome dessa doença. Reconhecida pela medicina nos anos 80, é uma forma crônica de depressão, com sintomas mais leves. "Enquanto a pessoa com depressão grave fica paralisada, quem tem distimia continua tocando a vida, mas está sempre reclamando", diz o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas (HC).O distímico só enxerga o lado negativo do mundo e não sente prazer em nada. A diferença entre ele e o resto dos mal-humorados é que os últimos reclamam de um problema, mas param diante da resolução. O distímico reclama até se ganha na loteria. "Não fica feliz, porque começa a pensar em coisas negativas, como ser alvo de assalto ou de seqüestro", diz o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Se você conhece alguém assim, abra os olhos da pessoa, porque raramente o distímico pede ajuda. Ele não se enxerga. "Para a maioria dos pacientes, o mau humor constante é um traço de sua personalidade. A desculpa pela rabugice recai sempre no ambiente ao seu redor, o que inclui o tempo, o chefe ou a sogra, por exemplo", diz Nardi.O bancário João (nome fictício), 40, diagnosticado oito anos atrás, confirma: "Eu achava que era algo que vinha desde a infância, que fazia parte da minha educação. Quando o médico disse o que eu tinha, foi como tirar um peso das costas".Dele e da mulher também, a secretária Helena (nome fictício). "Ele sempre arranjava algum motivo para reclamar. A torneira da cozinha quebrava, e ele via aquilo como se fosse o fim do mundo. Eu vivia em tensão. Fazia de tudo para poupá-lo do dia-a-dia, mesmo assim ele encontrava algo para reclamar", conta ela. A situação piorou quando a intolerância passou a mirar os filhos. "Fomos procurar ajuda, mas demorou anos para alguém acertar o diagnóstico."Esse transtorno mental atinge, pelo menos, 180 milhões de pessoas no mundo, que, quando não tratadas, tendem a se isolar. "Levantar da cama era um martírio. No chuveiro, já começava a me angustiar. Pensava nas horas em que ia ficar na marginal, no papo monótono dos colegas de trabalho e no dia que vinha pela frente, cheio de decepções. Nada tinha graça", conta a executiva Fernanda (nome fictício), 37.A doença não deve ser subestimada, pois o portador corre um risco 30% maior de desenvolver quadros depressivos graves. "Sem contar que também pode levar as pessoas ao consumo de álcool ou outras drogas, pois elas se iludem achando que assim acabam com a irritação", alerta Nardi.O mau humor é herdado e, em geral, manifesta-se na adolescência, desencadeado por um acontecimento marcante. Porém, como essa fase da vida já é, de modo geral, conturbada, há dificuldade de identificar a doença.Aliás, quem tem distimia costuma procurar ajuda só quando ela já evoluiu para um quadro depressivo grave. "O desconhecimento prevalece nos primeiros anos. Essas pessoas aprendem a funcionar irritadas. Acham que, por ser um traço de personalidade, o problema é imutável. Um erro freqüente", alerta Bernik.Foi o caso de Maria Lucia (nome fictício), funcionária pública, que descobriu a distimia quando foi procurar ajuda psiquiátrica, há três anos. "Eu pensava que era depressão, não sabia da existência do transtorno. Sempre desconfiei do meu comportamento. Era conhecida por dar shows de mau humor, falar alto, ofender as pessoas; meu marido tinha até medo de mim", diz ela.Maria, 53, tem certeza de que a sua doença é de família. "Minha mãe e minhas irmãs têm o mesmo problema. Recentemente, conversando com seus maridos, cheguei à conclusão de que a impaciência é uma característica familiar. Minha irmã caçula, aliás, já está procurando ajuda", conta.O mau humor patológico não precisa ser eterno. "Poucos sabem que a distimia pode ser tratada com a ajuda de medicamentos antidepressivos associados à terapia, cuja base é a psicologia cognitiva", diz o psiquiatra José Alberto Del Porto, da Unifesp.Segundo a psicóloga Mariângela Gentil Savoia, que atende distímicos no HC, a terapia leva o paciente a vivenciar suas aflições. "O objetivo é ensinar uma nova forma de pensamento. Se ele não suporta sair de casa, sintoma comum na distimia, forçamos os passeios. A idéia é que ele aprenda a sentir prazer novamente", diz Savoia.Já as causas, como ocorre na depressão, estão em um possível desequilíbrio químico que envolve uma série de neurotransmissores em regiões do cérebro que comandam o humor, como o sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal. "Daí a eficácia dos antidepressivos, cuja função é restabelecer esse equilíbrio químico", diz o psiquiatra Diogo Lara, da PUC-RS.Para certificar-se de que a rabugice é mesmo patológica, os sintomas devem persistir por, no mínimo, dois anos. Se a pessoa for mulher, as chances de haver distimia dobram --a variação hormonal do organismo feminino explica a desvantagem.E, se o mau humor patológico tem remédio, o mau humor "natural" também. Vários fatores interferem no humor. O cheiro, por exemplo, que é capaz de abrir o sorriso no rosto de um trombudo. E mais: ao contrário do que se pensa, o humor melhora com a idade!
Seja Bem Vindo ao Blog Transgredindo a Ordem!!!
Este espaço foi criado porque sou um ser social e não há sentido na expressão que não é compartilhada para agraciar as pessoas seja pela identificação, seja pela orientação, pela inspiração ou pela contemplação.
Sou uma pessoa que escreve porque sente antes mesmo de pensar, e através da escrita procura elaborar suas experiências humanas com toda intensidade que ser humano exige... Sentir, dar-me conta do que sinto e expressar por si só é bem mais do que apenas sobreviver!!!
Sou uma pessoa que escreve porque sente antes mesmo de pensar, e através da escrita procura elaborar suas experiências humanas com toda intensidade que ser humano exige... Sentir, dar-me conta do que sinto e expressar por si só é bem mais do que apenas sobreviver!!!
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Sobre Pessimismo e Pessimistas
Atire a primeira pedra quem nunca curtiu uma fossa, ficou de bode durante alguns dias, semanas ou até meses? Até o mais otimista dos otimistas têm seus revezes que o tiram do alto, pois ninguém é positivo, otimista o tempo todo.
Quero falar aqui não do pessimismo ocasional do qual todos já foram vítimas, mas do pessimismo crônico, pois eu acho desagradável ter que conviver com pessoas lamurientas, que sempre vêem o lado negativo das coisas, que são viciadas em reclamar da vida e esperam sempre o pior de tudo e de todos. Mais desagradável ainda é quando elas insistem em afirmar que seu sofrimento é pior do que o dos outros, parece até que quanto mais sofrem, melhor fica para elas... Não sei bem o que sinto por causa do comportamento dessas pessoas, se pena ou raiva! Dá vontade de sacudir e dizer: Se enxerga!! Acorda pra vida!!!!
Há quem pense que podemos mudar, influenciar, ou até salvar os casos de pessimismo crônico, eu não concordo com isso, não acredito que possamos salvar alguém desse tipo de patologia, bem como de nenhum outro. É bem verdade que estamos no mundo para ajudar e influenciar positivamente as pessoas, mas em muitos casos de pessimismo, a pessoa não quer mudar, nem ser realmente ajudada, pois seu pessimismo é a forma escolhida por ela de se relacionar com o mundo, seu derrotismo é uma forma de atrair as atenções para si. Como “lhe faltam bons atributos”, ele espera misericórdia e a compaixão dos outros sempre reclamando de tudo, falando de si o tempo todo e monopolizando as conversas com seus problemas.
Não quero afirmar que não acredito na mudança das pessoas, pelo contrário, acredito na mudança de qualquer pessoa por pior que seja, desde que ela queira e assuma a responsabilidade pela sua própria vida. Também sei por experiência própria que mudar hábitos e comportamentos enraizados leva tempo e não é tão fácil como muitas vezes imaginamos. Para qualquer pessoa iniciar um processo de mudança é necessário assumir a responsabilidade pelos seus próprios problemas... Para o pessimista assumir sua responsabilidade na solução de seus problemas é bastante difícil, pois ele mesmo não faz nada para mudar porque para ele o problema está sempre no outro, nos outros, nas circunstâncias... O pessimista afirma que sempre é infernizado pelos outros ou por algo que está fora dele e não consegue perceber como inferniza e chateia os outros, como intoxica o ambiente com seu baixo astral, com suas críticas, com suas lamúrias e reclamações, com sua falta de leveza e alegria. Não subestime os poderes de um pessimista, ele infelizmente tem poder para acabar com sua festa, interagir com uma pessoa dessas é uma luta, pois o tempo todo tenho que estar armada com um escudo para não ser atingida pelas flechas de baixo astral, agonia e tristeza ou então tenho que entrar numa redoma de vidro à prova de som para me proteger destas músicas macabras cujas influencias são mortais.
Isso mesmo, influências mortais! De tanto falar coisas ruins, sentir coisas ruins, pensar coisas ruins e acreditar em coisas ruins o pessimista gera doenças que vão se manifestar em seu corpo. Invariavelmente os tipos pessimistas desenvolvem problemas cardíacos, depressão, baixa imunidade e muitos deles vivem com uma saúde precária, enfim, neste afã de celebrar mais o mal do que o bem, os pessimistas literalmente vivem menos.
Além disso, o pessimista é solitário ou tem relações sociais problemáticas, vivendo de poucos amigos que o suportam por graça e misericórdia por que todos se cansam da sua falta de habilidade de se colocar no lugar dos outros, de se colocar como líder de sofrimentos pessoais, familiares e profissionais, de exagerar tudo o que sentem para atrair atenção e de sempre exaltar o pior de tudo e todos.
Se você é otimista, ou tem o humor equilibrado, por favor, não caia nesta armadilha, pois existem pessoas que possuem uma tendência muito forte para o pessimismo, mas ninguém está livre dele, qualquer um pode desenvolver esta doença após um trauma, uma perda ou uma desilusão qualquer.
Para quem é pessimista ainda há tempo de mudar, mas só se você quiser...
Abs
Paula
Quero falar aqui não do pessimismo ocasional do qual todos já foram vítimas, mas do pessimismo crônico, pois eu acho desagradável ter que conviver com pessoas lamurientas, que sempre vêem o lado negativo das coisas, que são viciadas em reclamar da vida e esperam sempre o pior de tudo e de todos. Mais desagradável ainda é quando elas insistem em afirmar que seu sofrimento é pior do que o dos outros, parece até que quanto mais sofrem, melhor fica para elas... Não sei bem o que sinto por causa do comportamento dessas pessoas, se pena ou raiva! Dá vontade de sacudir e dizer: Se enxerga!! Acorda pra vida!!!!
Há quem pense que podemos mudar, influenciar, ou até salvar os casos de pessimismo crônico, eu não concordo com isso, não acredito que possamos salvar alguém desse tipo de patologia, bem como de nenhum outro. É bem verdade que estamos no mundo para ajudar e influenciar positivamente as pessoas, mas em muitos casos de pessimismo, a pessoa não quer mudar, nem ser realmente ajudada, pois seu pessimismo é a forma escolhida por ela de se relacionar com o mundo, seu derrotismo é uma forma de atrair as atenções para si. Como “lhe faltam bons atributos”, ele espera misericórdia e a compaixão dos outros sempre reclamando de tudo, falando de si o tempo todo e monopolizando as conversas com seus problemas.
Não quero afirmar que não acredito na mudança das pessoas, pelo contrário, acredito na mudança de qualquer pessoa por pior que seja, desde que ela queira e assuma a responsabilidade pela sua própria vida. Também sei por experiência própria que mudar hábitos e comportamentos enraizados leva tempo e não é tão fácil como muitas vezes imaginamos. Para qualquer pessoa iniciar um processo de mudança é necessário assumir a responsabilidade pelos seus próprios problemas... Para o pessimista assumir sua responsabilidade na solução de seus problemas é bastante difícil, pois ele mesmo não faz nada para mudar porque para ele o problema está sempre no outro, nos outros, nas circunstâncias... O pessimista afirma que sempre é infernizado pelos outros ou por algo que está fora dele e não consegue perceber como inferniza e chateia os outros, como intoxica o ambiente com seu baixo astral, com suas críticas, com suas lamúrias e reclamações, com sua falta de leveza e alegria. Não subestime os poderes de um pessimista, ele infelizmente tem poder para acabar com sua festa, interagir com uma pessoa dessas é uma luta, pois o tempo todo tenho que estar armada com um escudo para não ser atingida pelas flechas de baixo astral, agonia e tristeza ou então tenho que entrar numa redoma de vidro à prova de som para me proteger destas músicas macabras cujas influencias são mortais.
Isso mesmo, influências mortais! De tanto falar coisas ruins, sentir coisas ruins, pensar coisas ruins e acreditar em coisas ruins o pessimista gera doenças que vão se manifestar em seu corpo. Invariavelmente os tipos pessimistas desenvolvem problemas cardíacos, depressão, baixa imunidade e muitos deles vivem com uma saúde precária, enfim, neste afã de celebrar mais o mal do que o bem, os pessimistas literalmente vivem menos.
Além disso, o pessimista é solitário ou tem relações sociais problemáticas, vivendo de poucos amigos que o suportam por graça e misericórdia por que todos se cansam da sua falta de habilidade de se colocar no lugar dos outros, de se colocar como líder de sofrimentos pessoais, familiares e profissionais, de exagerar tudo o que sentem para atrair atenção e de sempre exaltar o pior de tudo e todos.
Se você é otimista, ou tem o humor equilibrado, por favor, não caia nesta armadilha, pois existem pessoas que possuem uma tendência muito forte para o pessimismo, mas ninguém está livre dele, qualquer um pode desenvolver esta doença após um trauma, uma perda ou uma desilusão qualquer.
Para quem é pessimista ainda há tempo de mudar, mas só se você quiser...
Abs
Paula
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
“Conhece-te a ti mesmo”
Em busca do meu verdadeiro eu
Ontem à noite era aproximadamente 20:30 quando meu marido me convidou para tomar banho e dormir. Eu olhei bem para ele e disse: - Dormir??? E pensei, mas há tantas coisas para fazer... Mas que coisas são essas? Na verdade nenhuma, pois por causa da crise da coluna, já bastam as 10 horas diárias de trabalho em frente ao computador, logo, visando minha recuperação eu não devo usar computador, nem ficar na Internet e também não era dia de cozinhar. Então que coisas eu teria para fazer além de dormir? Disse a meu marido que minha necessidade de descanso não era similar à dele que realmente estava cansado, mas enfim, depois de assistir mais um pouquinho de TV, fui procurar cama, ainda um tanto quanto resistente.
Quando acordei hoje percebi que foi a melhor coisa que fiz e reconheci que dou menos descanso que necessário ao meu corpo... Percebi que descansar é bom e que preciso descansar mais. Foram necessários dois anos para que eu percebesse isso por mim mesma.
Eu nunca tinha me visto como uma pessoa elétrica, agitada e resistente. Lembro-me de quando fazia RPG e a Taíssa me dizia sempre que eu era uma pessoa que estava ligada no 220, por mais que eu tentasse, não conseguia me enxergar daquela maneira... Mas hoje me vejo assim... Gosto de agitação, de agenda cheia, muitas atividades, nenhum tempo para respirar... Para quê? Não sei, talvez eu busque valor, significado, sentido para minha vida nas muitas coisas que faço, ou talvez eu queira provar para alguém ou para mim mesma que sou útil, sou boa, que sou responsável, como alguém que quer mostrar ao patrão que pode dar conta do serviço.
A nossa busca é legítima, mas as estratégias que usamos muitas vezes são equivocadas...
O desejo, a sede, a busca, o vazio existem, são reais, mas encher minha agenda não significa preencher meu vazio, encontrar o que procuro, saciar minha sede e realizar meus desejos, pelo contrário, encher minha agenda de modo que eu não tenha tempo sequer de respirar só vai me afastar mais daquilo que realmente necessito, procuro, anseio e desejo.
Na última quarta-feira, feriado, também vivi um desses momentos em que simplesmente quis descansar, percebi que foi a melhor coisa que pude fazer...
Cresci num ambiente onde meu principal modelo não valorizava, muito menos priorizava o descanso.
Não repousamos somente por obrigação, repousamos porque precisamos descansar.
A Bíblia fala que até Deus valorizou o descanso, o repouso, mas eu não dei a mínima para isso... Por não me atentar para este detalhe que faz toda a diferença, meu corpo começou a dar sinais de desgaste e começou a berrar como louco. Ainda não interpreto bem minhas demandas, mas digamos que estou começando a querer entender o que minha alma e meu corpo dizem.
Falei anteriormente de desejo, busca, vazio... Ainda não sei discriminar este desejo, esta busca e este vazio... Ainda não sei o que quero, do mesmo modo que não sabia que o que eu precisava de verdade era descansar, mas posso dizer que de uma coisa sei: Conhecemos nossas prioridades, aquilo que é essencial para nós quando nos conhecemos de verdade.
Sempre fui atraída para temas como autoconhecimento e sempre achei que me conhecia bastante. Não poderia estar mais enganada... Lembro-me de uma conversa com uma amiga há muitos anos atrás que me disse que eu deveria ser mais honesta comigo mesma. Na época eu não tinha condições de entender o que ela queria me dizer, mas hoje entendo que quando não nos conhecemos de verdade causamos muitos problemas para nós mesmos e para os muitos outros que convivem conosco.
Autoconhecimento tem a ver com a disposição que temos para encontrar a verdade sobre nós mesmos e conseqüentemente a verdade sobre os outros... Na realidade nem sempre estamos dispostos, aliás, lutamos para manter ocultas nossas verdadeiras intenções e motivações.
Autoconhecimento tem a ver com coragem para sofrer desilusões que conhecer a verdade ocasiona.
Autoconhecimento tem a ver com abandonar um ego falso, frágil, mas persistente, construído a fim de nos manter encarcerados em um ou mais sistemas adoecidos e partir para a autonomia, para a liberdade de escolher viver nossa própria vida.
No fim, autoconhecimento traz paz, serenidade, vigor, águas tranqüilas, refrigério, renovação, mas só no fim... No início, ou no meio para mim significou águas turbulentas, turvas, bravias, tempestades, dor, muita dor, cacos quebrados, laços rompidos, feridas expostas, tensão, aperto, angústia, perplexidade... Mas acho que esta fase já passou...
Não tenho vergonha de dizer aos 32 anos que não sei quem eu sou, que tenho dúvidas acerca da minha real identidade, mas sinto que aos poucos, bem aos poucos, tenho deixado de me identificar com a mulher maravilha.
Paula 26.01.10
Ontem à noite era aproximadamente 20:30 quando meu marido me convidou para tomar banho e dormir. Eu olhei bem para ele e disse: - Dormir??? E pensei, mas há tantas coisas para fazer... Mas que coisas são essas? Na verdade nenhuma, pois por causa da crise da coluna, já bastam as 10 horas diárias de trabalho em frente ao computador, logo, visando minha recuperação eu não devo usar computador, nem ficar na Internet e também não era dia de cozinhar. Então que coisas eu teria para fazer além de dormir? Disse a meu marido que minha necessidade de descanso não era similar à dele que realmente estava cansado, mas enfim, depois de assistir mais um pouquinho de TV, fui procurar cama, ainda um tanto quanto resistente.
Quando acordei hoje percebi que foi a melhor coisa que fiz e reconheci que dou menos descanso que necessário ao meu corpo... Percebi que descansar é bom e que preciso descansar mais. Foram necessários dois anos para que eu percebesse isso por mim mesma.
Eu nunca tinha me visto como uma pessoa elétrica, agitada e resistente. Lembro-me de quando fazia RPG e a Taíssa me dizia sempre que eu era uma pessoa que estava ligada no 220, por mais que eu tentasse, não conseguia me enxergar daquela maneira... Mas hoje me vejo assim... Gosto de agitação, de agenda cheia, muitas atividades, nenhum tempo para respirar... Para quê? Não sei, talvez eu busque valor, significado, sentido para minha vida nas muitas coisas que faço, ou talvez eu queira provar para alguém ou para mim mesma que sou útil, sou boa, que sou responsável, como alguém que quer mostrar ao patrão que pode dar conta do serviço.
A nossa busca é legítima, mas as estratégias que usamos muitas vezes são equivocadas...
O desejo, a sede, a busca, o vazio existem, são reais, mas encher minha agenda não significa preencher meu vazio, encontrar o que procuro, saciar minha sede e realizar meus desejos, pelo contrário, encher minha agenda de modo que eu não tenha tempo sequer de respirar só vai me afastar mais daquilo que realmente necessito, procuro, anseio e desejo.
Na última quarta-feira, feriado, também vivi um desses momentos em que simplesmente quis descansar, percebi que foi a melhor coisa que pude fazer...
Cresci num ambiente onde meu principal modelo não valorizava, muito menos priorizava o descanso.
Não repousamos somente por obrigação, repousamos porque precisamos descansar.
A Bíblia fala que até Deus valorizou o descanso, o repouso, mas eu não dei a mínima para isso... Por não me atentar para este detalhe que faz toda a diferença, meu corpo começou a dar sinais de desgaste e começou a berrar como louco. Ainda não interpreto bem minhas demandas, mas digamos que estou começando a querer entender o que minha alma e meu corpo dizem.
Falei anteriormente de desejo, busca, vazio... Ainda não sei discriminar este desejo, esta busca e este vazio... Ainda não sei o que quero, do mesmo modo que não sabia que o que eu precisava de verdade era descansar, mas posso dizer que de uma coisa sei: Conhecemos nossas prioridades, aquilo que é essencial para nós quando nos conhecemos de verdade.
Sempre fui atraída para temas como autoconhecimento e sempre achei que me conhecia bastante. Não poderia estar mais enganada... Lembro-me de uma conversa com uma amiga há muitos anos atrás que me disse que eu deveria ser mais honesta comigo mesma. Na época eu não tinha condições de entender o que ela queria me dizer, mas hoje entendo que quando não nos conhecemos de verdade causamos muitos problemas para nós mesmos e para os muitos outros que convivem conosco.
Autoconhecimento tem a ver com a disposição que temos para encontrar a verdade sobre nós mesmos e conseqüentemente a verdade sobre os outros... Na realidade nem sempre estamos dispostos, aliás, lutamos para manter ocultas nossas verdadeiras intenções e motivações.
Autoconhecimento tem a ver com coragem para sofrer desilusões que conhecer a verdade ocasiona.
Autoconhecimento tem a ver com abandonar um ego falso, frágil, mas persistente, construído a fim de nos manter encarcerados em um ou mais sistemas adoecidos e partir para a autonomia, para a liberdade de escolher viver nossa própria vida.
No fim, autoconhecimento traz paz, serenidade, vigor, águas tranqüilas, refrigério, renovação, mas só no fim... No início, ou no meio para mim significou águas turbulentas, turvas, bravias, tempestades, dor, muita dor, cacos quebrados, laços rompidos, feridas expostas, tensão, aperto, angústia, perplexidade... Mas acho que esta fase já passou...
Não tenho vergonha de dizer aos 32 anos que não sei quem eu sou, que tenho dúvidas acerca da minha real identidade, mas sinto que aos poucos, bem aos poucos, tenho deixado de me identificar com a mulher maravilha.
Paula 26.01.10
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
A solidão essencial
Neste meu primeiro post de 2010, quero trazer o maravilhoso Ivan Martins, da qual sou fã, colunista da Revista Época, que escreve neste texto uma das explicações mais lúcidas e coerentes sobre a relação entre homens e mulheres!!
Aos meus queridos leitores e amigos, uma deliciosa leitura!!!
A solidão essencial
O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa
Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.
Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro) jamais seremos felizes.
Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.
Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.
Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?
Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).
Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.
Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?
É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo. Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.
Lembro de ter tido, anos atrás, uma conversa muito interessante com um amigo nissei que havia morado no Japão. Éramos os dois casados e eu me queixava das dificuldades do casamento. O amigo, mais velho, respirou fundo e me disse que, no Japão, eles achavam que casamento era uma coisa muito séria para ser decidida por paixão. Se você ia passar a vida com alguém, as compatibilidades eram mais importantes que o desejo.
Na hora achei aquilo esquisito, mas hoje percebo que ele estava sugerindo apenas outra forma de olhar para a mesma situação: diante da escolha do casamento, que tipos de sentimentos são mais importantes?
Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto.
Talvez seja verdade que as pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não?
Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.
Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.
É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.
Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos. Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.
Aos meus queridos leitores e amigos, uma deliciosa leitura!!!
A solidão essencial
O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa
Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.
Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro) jamais seremos felizes.
Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.
Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.
Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?
Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).
Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.
Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?
É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo. Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.
Lembro de ter tido, anos atrás, uma conversa muito interessante com um amigo nissei que havia morado no Japão. Éramos os dois casados e eu me queixava das dificuldades do casamento. O amigo, mais velho, respirou fundo e me disse que, no Japão, eles achavam que casamento era uma coisa muito séria para ser decidida por paixão. Se você ia passar a vida com alguém, as compatibilidades eram mais importantes que o desejo.
Na hora achei aquilo esquisito, mas hoje percebo que ele estava sugerindo apenas outra forma de olhar para a mesma situação: diante da escolha do casamento, que tipos de sentimentos são mais importantes?
Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto.
Talvez seja verdade que as pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não?
Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.
Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.
É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.
Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos. Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.
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