quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Emergentes entre o sonho realizado e a frustração

Depois da compra de bens, a classe C agora almeja a inclusão social, que passa pela escolha da profissãoEla é a grande novidade no cenário econômico e demográfico do país: já é maior fatia da população, pode decidir uma eleição sozinha, responde por quase metade do consumo nacional e compra eletrônicos, carro e até a casa própria. Mas ao mesmo tempo em que festeja esse boom de consumo, a nova classe média brasileira ainda sonha com a inclusão social, um bem que não é vendido no shopping e tem que ser adquirido aos poucos, num prazo ainda maior que o dos financiamentos de mercado. Esta é a principal conclusão da pesquisa “Sonhos da Nova Classe Média”, um estudo qualitativo realizado em São Paulo com pessoas que ganham entre R$ 1.126 a R$ 4.854 por mês.
— Não adianta ter dinheiro para freqüentar o Leblon ou o Jardins, em São Paulo, porque o linguajar é diferente, ele não estudou numa boa escola. Foram 500 anos de um país dividido entre a casa grande e a senzala — diz Andre Toretta, publicitário e sócio-diretor da Ponte Estratégia, consultoria especializada em estudos sobre a classe C.
A pesquisa incluiu o convívio com os entrevistados e identificou duas outras grandes categorias de sonhos: o da realização pessoal e o de consumo.Os sonhos de realização pessoal estão ligados fundamentalmente à profissão. Mas, ao mesmo tempo em que avança o acesso aos cursos de nível superior, ainda é um privilégio escolher a profissão.— Esse universitário da classe C primeiro vê qual universidade tem perto de casa, depois quanto custa e, por último, ele olha que curso tem. Ele não faz o curso que quer, faz o que é possível — diz Torreta.Que o diga a auxiliar financeira Elizabeth Mendonça Costa, 32 anos, que sonhava ser fisioterapeuta, mas acabou se matriculando em ciências contábeis.
— A faculdade de fisioterapia custava R$ 1.150 por mês e a de ciências contábeis, R$ 475. Não adiantava optar pelo sonho e não conseguir manter — diz ela, enquanto festeja outras conquistas, como a TV de 50 polegadas, o laptop e a geladeira que serve cerveja sem abrir a porta.De sua ainda extensa lista de sonhos, Elizabeth destaca a formatura e o fim do que ela chama de “discriminação”: — Infelizmente, na nossa sociedade há muita discriminação, principalmente do pobre contra outro pobre. Fui com meu irmão comprar o carro e o vendedor nem me deu atenção. Chamei um outro e falei logo: a gente vai comprar um carro zero. Aí o primeiro vendedor disse que ele estava me atendendo, mas eu não quis mais comprar com ele.Isso é pior do que racismo.O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), vê nas conclusões da pesquisa um reflexo da desigualdade.
— Esse sonho de inclusão social é um sonho de pertencer.O país gerou um potencial de consumo, de geração de renda, mas temos problemas relacionais, porque temos desigualdade, inclusive dentro de um mesmo grupo.Neri explica que a nova classe média é heterogênea e, nas pontas, inclui a renda média da Bélgica e da Índia. Por isso, diz, o desafio é agora é avançar nas questões coletivas.
— A gente já deu os pobres ao mercado. Agora falta dar maneiras de as pessoas alavancarem seus sonhos.

Nice de Paula
Jornal O Globo 10/10/2010 - Economia

Me deparei com este texto num Concurso, a sensação foi de ter me olhado no espelho!
Espero que em 2011 eu e todos que me lêem tenham seus sonhos realizados.
Paula
Paula

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