terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Curandeiro, ó

Gosto muito da Elisa Lucinda, e posto aqui neste blog, uma crônica que ela me mandou para pensar nesta semana. Compartilho então com vocês o Curandeiro.





Curandeiro, ó

Há uns bons anos inclui na minha rotina, a sessões de massagens, geralmente orientais, como complementares de outras iniciativas que visam minha saúde geral. É mesmo fundamental parar e olhar para si, seja por um processo psico-analítico, seja pela pratica de yoga, malhação e, melhor ainda, tudo isso junto. Costuma-se separar, drasticamente , o corpo da mente. Numa festa, conheci uma terapeuta corporal que me disse assim: “agora vou só cuidar da mente, quero abandonar o corpo, estou fazendo psicologia, sabe?” Ora? Então aonde é que fica a mente?Fora do corpo? Ora, esta dicotomia já não atende nossa demanda de um ser integral, cuja psico-somática condição expõe tal conceito à muitas fragilidades. Se uma coisa é mental ou psíquica não significa que ocorra fora de nós, num espaço etéreo lá longe do ser, no inatingível. Penso que uma intimidade sobre nosso corpo e seus acontecimentos é peça fundamental de autoconhecimento. Como já disse aqui, sinto falta de uma cultura ou uma educação reflexiva que nos faça perceber porque estamos ficando tortos, corcundas, encurtados, endurecidos, flácidos, frágeis, estagnados, incapazes de um pulo ou um agachamento simples. Pode ser porque fomos abandonados na infância, mimados talvez ou qualquer outro freudiano motivo, mas a representação corporal geralmente traz noticias importantes de nós. Dores e outros males podem ir do famoso complexo de Édipo a uma simples má postura no trabalho ou os dois ao mesmo tempo. Por tudo isso, aqui agradeço a esses profissionais (os de verdade), que têm sido tão imprescindíveis à nossa vida. Tenho ficado muito impressionada com as descobertas às quais, tal pratica pode nos levar e fiz até um poema para agradecer ao shiatsu, a acumpultura e à sensibilidade de Murilo Reis, este com quem faço minhas semanais sessões. Que, através destes simples versos, leitores que tal “arte” desconheciam despertem para esta qualidade de vida e, os que desta ciência vivem, com responsabilidade e competência, se sintam aqui considerados.

O curandeiro era estudioso, atento ao corpo e suas distintas palavras.

No joelho que doía e não dobrava sem que eu sentisse,

batera seu martelinho de sete pontas querendo espalhar a dor,

almejando desconcentrá-la do ponto.

Passadas as batidas e desfeito o quebranto

o bonito homem de cabelos bem cortados , olhos vivos e antepassados,

escuta o pulso , vê para que lado está correndo o rio

e qual a velocidade de sua correnteza.

Com as mãos e a escuta, ausculta o processo.

Depois, com precisão, destreza e toque de delicadeza,

cravou-lhe na cara da dor uma agulha certeira.

Era assim a coragem do doutor, era de oriental beleza o seu saber.

Com a coreografia das mãos vai deixando

coluna em ordem, harmonia entre ossos, músculos e órgãos,

pescoço devidamente estalado, alongadas e desamontoadas as costelas,

que é como o curandeiro estica o tempo pra mim, para você , para nós, para a terra.

Como energia viva em conserva o moço ensina a fazer da vida reserva,

fonte, poção mágica de um organismo vibrante e em movimento,

e também um templo de respiração e pausa com cada coisa em seu momento.

Das palavras que ele deixa na lira da estrada,

entendi que somos sozinhos mas não estamos sós na manada

É este o meu enredo. Agora, graças a mim e a este curador guerreiro,

sem dor, escrevo no chão dobrando os joelhos.

Indaguei ao homem de sua cura o segredo.

Conhece-te a ti mesmo, ele me disse: não tenha medo.

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