sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pensando em 2014 II

Os anos passam, E ela continua naquela vidinha. Apesar das aparências, tudo continua no mesmo lugar. “Todo o dia ela faz tudo sempre igual...” é o seu lema. Como é confortável e seguro ser previsível... Mas no subterrâneo onde nossas verdades gritam, Posso imaginar a violência com a qual sua alma se agita. Porque eu sei o quanto arde em seu peito o desejo de voar e sentir o sol em seu rosto, Em seu corpo, em suas asas... Pois é, ela possui asas. Deformadas pela atrofia, mas são asas. Estão amarradas, assim como seus pés, pernas, mãos, braços, Corpo, pensamentos, inclusive aquelas emoções desencadeadoras de mudanças. Tudo está amarrado, paralisado, imobilizado! E os anos tem passado furiosos, Cronos vai nos devorando lentamente, Transformando-nos em algo melhor ou pior Os seus movimentos são pífios, eu apenas a vejo caminhando em pequenos círculos, Passando pelas mesmas fórmulas, usando as mesmas estratégias, Os mesmos gestos, mudando talvez algumas palavras... Os cenários tem mudado, mas tudo continua no mesmo lugar. E ela prefere que seja assim. Angustiante, temível é o novo, o imprevisível, o impensado, o incontrolável, É isso que ela não pode suportar, E então a cada dia ela oferece seu corpo como sacrifício vivo... Assim como no passado se ofereciam virgens para acalmar os deuses e impedir que alguma praga ou desgraça acometesse um povoado. Sua energia vital tem sido usada para preservar tudo no mesmo lugar, em vez de servir ao propósito de destruição e produção do caos. Eu assisto a tudo isso e não sou indiferente, muito embora eu quisesse ser. Ainda conservo minha esperança, mas agora percebo com mais clareza que as pessoas não mudam como acho ou como gostaria que mudassem, E assim mesmo com profunda tristeza tenho que respeitá-las.

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