domingo, 10 de julho de 2016

Sobre Transgredir a ordem TRANSGREDIR... Substantivo FEMININO! Transgride quem é rebelde, Quem não se enquadra, Transgredir na comunidade onde fui criada tem um quê de negativo... É o pecado, o desvio, o erro, tudo o que não é aconselhado... Para muitos assim como eu, transgredir é a única via para uma existência repleta de significados, mas quando se atravessa esta via, o que aparece de imediato não é o prazer e a alegria advindos de ter feito uma escolha importante, única, inovadora ou diferente das demais, o que chega é uma dor profunda, ou uma dor latejante, é a culpa, entre outros sentimentos desagradáveis, porque a via chamada TRANSGRESSÃO nos leva para cada vez mais longe dos lugares que conhecemos. Transgredir dá medo, na verdade apavora, mas é necessário para atingirmos nossa potência de vida! Eu sou uma garota, sou uma mulher muito brigona... Consequentemente transgressora! Demorei a descobrir, a entender e a aceitar que eu era assim!! Transgredir não tem outro sentido que não seja positivo para mim. Tive que transgredir para forjar a mulher que sou e para conquistar as pessoas, os espaços e as possibilidades que hoje tenho... Que para alguns pode não ser nada, mas foi o que EU conquistei, e dei muito duro para isso!! E briguei muito... Nem sempre quero brigar, na maioria das vezes não quero brigar, acho que as coisas deveriam ser mais fáceis, menos penosas, menos duras, menos desgastantes... Mas transgredir se torna urgente, transgredir se torna necessário, e aí eu vou lá e brigo! E venço! Parece fácil, mas não é... Principalmente quando sua luta assume um caráter íntimo... Quando tem que se lutar com quem está ao seu lado, Quando tem que se lutar com o que está dentro de você. Quando se tem que destruir aqueles conceitos essenciais que sustentam sua cosmovisão, ou se desfazer de modos operacionais que funcionaram a tanto tempo e que já não bastam mais Ou ainda dizer adeus àquela muleta preciosa e valiosa que por tanto tempo te acompanhou... Vejo que há pessoas assim como eu, que tem medo, que se apavoram diante de sua própria força... Mas aí a TRANGRESSÃO nos coloca diante de nós mesmos e de nosso destino e de todo o nosso potencial! Já não dá mais para voltar atrás E a vida se torna uma transgressão após a outra... Viva a vida! Viva a transgressão! Parabéns para mim!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Reflexões de uma mulher negra ao completar 30 anos

Chego aos 30 anos como uma pessoa que tem consciência de si mesma e que está começando a ter consciência dos outros e do mundo. Ter consciência dos outros e do mundo é muito doloroso, mas necessário se quiser ter uma existência que valha a pena. Diante da dor da consciência que nos força a nos posicionarmos diante de nós mesmos e do mundo, a ignorância pode parecer uma benção. Na verdade tal ignorância revela nosso estado de imaturidade o nosso despreparo para a vida. Viver é escolher. Viver é escolher? Fazemos escolhas minuto após minuto, Às vezes não temos condições de fazermos as melhores escolhas, Em outras vezes, mesmos com as melhores escolhas algumas boas e desejáveis portas estarão temporária ou definitivamente fechadas, E em outras muitas vezes não fazemos as melhores escolhas porque nos foram impostas as piores, e por não conseguirmos superar tais adversidades, não conseguimos fazer diferente do imposto. Viver é escolher, e penso que a vida pode ser divida em duas fases: a fase em que vivemos sob o domínio das escolhas que outros fazem por nós e a fase em que fazemos nossas próprias escolhas. Eu não escolhi nascer, não escolhi nascer onde nasci, na família em que nasci ,no momento em que nasci... Foram escolhas que fizeram por mim. Também não escolhi minhas primeiras escolas, nem a igreja que frequentei na infância... Também fizeram tudo por mim... Não sei nem dizer que escolhi minha profissão, meu marido, meus amigos, pois hoje, vejo em minhas escolhas profissionais, conjugais e até a eleição dos amigos, a poderosa influência da família, da classe social, da cultura, da religião, enfim, da sociedade como um todo. Afinal de contas, o que são escolhas? Será que somos realmente capazes de escolher por conta própria? O que é a subjetividade senão um elemento sócio-histórico e cultural? Minhas escolhas são fruto do meu tempo. Logo, eu sou fruto do meu tempo. Para me entender, há de se entender as questões do meu tempo! Ainda assim, acredito que mesmo influenciados pelo tempo a liberdade existe, podemos sim escrever e liderar nossa própria história, mas só à medida que tomamos consciência dos nossos limites, isto é, do que realmente somos e do que podemos ou não fazer... Aos 30 anos, sou uma mulher negra e pobre. Amo ser mulher, mas a cor da minha pele é um estigma que carrego no meu corpo e que também faz marcas indeléveis na minha alma, este fato aliado a outro que é ser pobre torna a minha vida muito difícil. Meus pais são pessoas muito inteligentes. Devo a eles muito da minha capacidade de sonhar e pensar, porém, lamento que suas vidas fossem limitadas por questões que em muitas vezes estão fora do nosso alcance. Eles não foram muito longe porque são negros e pobres no Brasil. Suas famílias não pensavam em nada mais além do que sobrevivência. Só a sobrevivência existia no horizonte destas famílias porque não lhes era permitido sonhar com mais do que isso. A realidade era tão dura e seca que o desejo não podia germinar em terra imprópria para o cultivo. Eu sonho com mais do que isso, não quero que a necessidade de sobrevivência determine as minhas escolhas... Eu tenho grandes sonhos, mas a sobrevivência ainda é um peso para mim. Ela é um peso que me impede de voar em alguns momentos. Ela me traz pro chão, me põe freios e não me deixa seguir adiante... Nada disso é justo! Há momentos em que me submeto passivamente como se entregasse os pontos, em outros eu consigo transcender esta realidade. E esta é a luta da minha vida. Não creio que Deus criou ou que de alguma forma favoreceu estas condições históricas lamentáveis que permeiam minha existência e de tantos outros e outras aqui no Brasil e no mundo; Não acredito que Deus colocou uns para mandar e outros para obedecer, muito menos uns para oprimir e outros para serem oprimidos. Acredito muito nos princípios de liberdade, autonomia e responsabilidade que Deus deu aos homens. Gosto de pensar num Deus que gosta de justiça, igualdade e que gosta daquilo que a maioria não dá o mínimo valor e fazer destas coisas instrumentos para revolucionar a existência alheia. Este é o retrato que pinto de mim mesma aos 30 anos. Paula 12.07.2007

domingo, 19 de julho de 2015

Você sabe o que significa UBUNTU??

“O UBUNTU não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está a serviço do progresso de minha comunidade? Isso é o mais importante na vida. E se uma pessoa conseguir viver assim terá atingido algo muito importante e admirável” Nelson Mandela
Há duas maneiras de olhar para si mesmo. Uma é pequena, reducionista, escravizante e egoísta. A outra é grande, libertadora, transcendental, humana ... É, mais uma vez chego a conclusão de que nos enxergar como humanos que somos nos liberta! Nos liberta para além de nossa mediocridade nos colocando em contato com o outro, os outros. Há pessoas que vivem isoladas e infelizes em gaiolas construídas por si mesmas, e que jamais encontraram alguém, muito menos a si mesmas, Jamais tocaram e foram tocadas, vivem na mais fria escuridão... Eu tive um sonho, e nele eu era liberta desta forma de existir e sentir. No sonho eu estava ao lado de um irmão, mas não conseguia perceber que ele tinha fome. Então, outra irmã surgia e o alimentava. Por meio deste gesto fui confrontada com meu egoísmo e chorei ao perceber o quão cega eu estava. Nós somos humanos por meio de outros humanos.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pensando em 2014 II

Os anos passam, E ela continua naquela vidinha. Apesar das aparências, tudo continua no mesmo lugar. “Todo o dia ela faz tudo sempre igual...” é o seu lema. Como é confortável e seguro ser previsível... Mas no subterrâneo onde nossas verdades gritam, Posso imaginar a violência com a qual sua alma se agita. Porque eu sei o quanto arde em seu peito o desejo de voar e sentir o sol em seu rosto, Em seu corpo, em suas asas... Pois é, ela possui asas. Deformadas pela atrofia, mas são asas. Estão amarradas, assim como seus pés, pernas, mãos, braços, Corpo, pensamentos, inclusive aquelas emoções desencadeadoras de mudanças. Tudo está amarrado, paralisado, imobilizado! E os anos tem passado furiosos, Cronos vai nos devorando lentamente, Transformando-nos em algo melhor ou pior Os seus movimentos são pífios, eu apenas a vejo caminhando em pequenos círculos, Passando pelas mesmas fórmulas, usando as mesmas estratégias, Os mesmos gestos, mudando talvez algumas palavras... Os cenários tem mudado, mas tudo continua no mesmo lugar. E ela prefere que seja assim. Angustiante, temível é o novo, o imprevisível, o impensado, o incontrolável, É isso que ela não pode suportar, E então a cada dia ela oferece seu corpo como sacrifício vivo... Assim como no passado se ofereciam virgens para acalmar os deuses e impedir que alguma praga ou desgraça acometesse um povoado. Sua energia vital tem sido usada para preservar tudo no mesmo lugar, em vez de servir ao propósito de destruição e produção do caos. Eu assisto a tudo isso e não sou indiferente, muito embora eu quisesse ser. Ainda conservo minha esperança, mas agora percebo com mais clareza que as pessoas não mudam como acho ou como gostaria que mudassem, E assim mesmo com profunda tristeza tenho que respeitá-las.

Pensando em 2014 II

Os anos passam, E ela continua naquela vidinha. Apesar das aparências, tudo continua no mesmo lugar. “Todo o dia ela faz tudo sempre igual...” é o seu lema. Como é confortável e seguro ser previsível... Mas no subterrâneo onde nossas verdades gritam, Posso imaginar a violência com a qual sua alma se agita. Porque eu sei o quanto arde em seu peito o desejo de voar e sentir o sol em seu rosto, Em seu corpo, em suas asas... Pois é, ela possui asas. Deformadas pela atrofia, mas são asas. Estão amarradas, assim como seus pés, pernas, mãos, braços, Corpo, pensamentos, inclusive aquelas emoções desencadeadoras de mudanças. Tudo está amarrado, paralisado, imobilizado! E os anos tem passado furiosos, Cronos vai nos devorando lentamente, Transformando-nos em algo melhor ou pior Os seus movimentos são pífios, eu apenas a vejo caminhando em pequenos círculos, Passando pelas mesmas fórmulas, usando as mesmas estratégias, Os mesmos gestos, mudando talvez algumas palavras... Os cenários tem mudado, mas tudo continua no mesmo lugar. E ela prefere que seja assim. Angustiante, temível é o novo, o imprevisível, o impensado, o incontrolável, É isso que ela não pode suportar, E então a cada dia ela oferece seu corpo como sacrifício vivo... Assim como no passado se ofereciam virgens para acalmar os deuses e impedir que alguma praga ou desgraça acometesse um povoado. Sua energia vital tem sido usada para preservar tudo no mesmo lugar, em vez de servir ao propósito de destruição e produção do caos. Eu assisto a tudo isso e não sou indiferente, muito embora eu quisesse ser. Ainda conservo minha esperança, mas agora percebo com mais clareza que as pessoas não mudam como acho ou como gostaria que mudassem, E assim mesmo com profunda tristeza tenho que respeitá-las.

Pensando em 2014

Quando você pensar, de onde ela tirou isso, a quem ela descreve? Lembre-se: estou descrevendo a mim mesma, Aquela parte de mim que vejo nas outras pessoas. Minha visão é tão míope que às vezes, não enxergo nada além de mim mesma nos outros...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Eis o que vejo...

Eis o que vejo: Eu vejo um rio, Uma canoa se move sobre ele. Me vejo dentro da canoa, E a correnteza me levando pra longe de tudo que conheço, Me aproximando de um mundo que desconheço, Sinto medo, Meu coração aperta e geme, Então eu choro, um choro profundo e comprido que parece mais alívio do que dor. Ainda chorando me ponho de pé e resignada aceito meu destino. Porque na vida para não há chegadas antes das despedidas. Eis o que vejo: Eu vejo um rio, Uma canoa, sem mapa, nem destino. Apenas um rio e um grande projeto de travessia. Meu peito se angustia e pergunta: Onde? Quando? Porquê? Como? Mas as respostas não vem, só as perguntas... Talvez este seja o propósito de toda existência. Eis o que vejo: Eu vejo um rio, E do outro lado vejo aqueles que se foram Vejo aqueles cujo rio delas me separou Produzindo em mim um corte, uma ferida, uma ruptura, Que hoje já cicatrizou... Não se pode controlar o rio, Os caminhos feitos pela canoa não são para serem entendidos com a mente, Apenas vividos com o coração e por ele elaborados, E enfim, quando conseguimos faze-lo, Não existem obstáculos que nos impeçam de viver uma etapa superior em nossa jornada. Eis o que vejo!