quinta-feira, 29 de julho de 2010

A celebração da mudança



“ O tempo passa, os acontecimentos se sucedem e você, um dia, nota que não é mais a mesma pessoa – Seus sentimentos mudaram, suas idéias mudaram, seu mundo mudou.” Ivan Martins

Julho é o mês do meu aniversário e ele está bem no fim, sem que eu tivesse tempo para fazer uma reflexão sobre a minha vida. A hora é agora, pois, não gosto de deixar de fazer um balanço da minha vida nos meus aniversários. Quando olho para trás, percebo que sou uma pessoa muito diferente comparando há tempos atrás e sou feliz por esta constatação. Reinventar-me foi uma questão de sobrevivência, vou mais alem, foi uma questão de saúde física e psíquica.
O ser humano é por essência um ser dinâmico, logo, mudar faz parte da sua “natureza”, mas todos nós sabemos que não é assim que acontece no mundo real. Há pessoas, famílias que estão congeladas no tempo e no espaço, cristalizadas em papéis que não servem para mais nada além de fazer com que elas sejam infelizes e incompetentes para amar. Olhando de fora, tal realidade parece fruto da insensatez, mas “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Insensatez também faz parte da nossa “natureza”, e em muitas vezes, sem perceber ou querer opta-se pela insensatez em vez de optar-se pela felicidade.
Comecei a pintar meu retrato atual quando saí de casa em 1998, foi ali que eu comecei a mudar e a desconhecer-me tal como eu era. Ao chegar naquele outro contexto, a primeira coisa que decidi foi criar um personagem completamente diferente daquele vivido em minha terra natal. Quando falo em criar um personagem, não estou falando metaforicamente... E também não estou falando que usei de má fé, pois todos nós criamos personagens para sobreviver ante as exigências externas (sociais) e pessoais (internas) e isso é bom, necessário, saudável. Conheço algumas pessoas que desde cedo tiveram que se virar no mundo sozinhas porque não tiveram suporte da família, nem de qualquer outra pessoa, ou grupo, mas que apesar disso, venceram. Estas pessoas tiveram que inventar um personagem, alguém que pudesse dar conta dos grandes desafios que tinham à frente. É sempre assim que acontece quando chegamos num espaço que é novo para nós, temos que inventar um personagem para nos adaptar à nova realidade, que ainda é desconhecida. Lidar com o desconhecido, desperta nossa capacidade criativa, pois diante do novo, temos que inventar e nos reinventar.
Sem a pressão do conhecido e dos conhecidos, eu permitir-me ser muitas coisas, eu permiti-me ser uma pessoa alegre, amiga, leal, devotada, alguém com muita sede de vida!!! Alguém que eu gostaria muito de ser, mas que até então não era. Aquela nova realidade contribuiu para que meu personagem se fortalecesse, e então eu tornei-me aquilo que tinha imaginado. Com isso, os passos que não consegui dar em quatro anos, dei em meses, em 1, 2 anos. Lembro-me também que nada foi tão fácil, às vezes, fantasmas insistiam em me assombrar naquela nova realidade. Sabe qual é a função dos fantasmas? Imobilizar é a principal delas, além de assombrar, trazer medo, inquietação, culpa. Os fantasmas não querem que sejamos felizes. Diz a teoria espírita que os fantasmas são pessoas mortas com problemas pendentes, entretanto, eu digo que quando fantasmas aparecem para nós e lutamos com eles, somos nós vivos que temos problemas pendentes. Estes fantasmas que me assombravam eram personagens dos quais eu não conseguia me despedir e houve um dia enfim que entendi que não precisava mais deles e então deixei-os partir.
Depois de quatro anos, chegou o dia em que o novo se tornou velho e precisei me reinventar novamente, desta vez tive mais dificuldades e como tive dificuldades! Foram muitos fantasmas me assombrando, houve momentos em que dei mais ouvidos aos fantasmas do que qualquer outra pessoa, eu parecia um zumbi, uma morta-viva... E enfim, depois de muito sofrer conseguir me reinventar mais uma vez e outro ciclo terminou, ufa!!
Na verdade, sou várias pessoas em uma só, sem sofrer com transtorno de múltiplas personalidades, claro! Rubem Alves, afirma que em nossa casa, isto é, em nosso corpo habitam muitos hóspedes, eu gosto de pensar que estes hóspedes que abrigamos são os muitos personagens que inventamos e reinventamos ao longo da vida.
Quando me olho e me sinto neste tempo chamado hoje, sinto que há coisas do passado que preciso resgatar tais como: força, tenacidade, alegria, prazer, o frescor das manhas, o banho de praia á noite, o beijo molhado, o namoro sem vergonha que ignora quem esteja passando pela rua, enfim, um tesão bem grande pela vida! Eu sinto que preciso trazer urgentemente estes personagens para este tempo. Preciso também costurar outros, porquê não a chefe? A que não é operária, a que tem mais tempo livre só para fazer o que gosta, a mestranda, a intelectual, a que sai de si e dá de si mesma ao mundo, a que não tem medo, a que respira fundo, a que dorme em paz, a que não precisa da dor para dar voz às suas emoções, a saudável, a irremediavelmente feliz e por que não a mãe? Diante de tudo isso, resta-me dizer que entre o passado que se foi e o futuro que será, vejo que a prioridade hoje é mais uma vez me reinventar.





* Coloquei natureza entre aspas porque acredito que temos uma essência, mas natureza somos nós que fazemos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paula, Paula, sempre lendo meu interior! O que dizer? Nada. Só contemplar o meu eu exposto em suas palavras. Dizem que os cientistas estão tentando descobrir como ler as mentes das pessoas, quero ver lerem a alma. Isso já há pessoas que fazem, e eles ainda não descobriram.