quinta-feira, 21 de abril de 2011

Que choro é esse??


Hoje pela manhã em meu trabalho quando acompanhava crianças de uma creche a uma visita ao Jardim Zoológico, notei que uma criança chorava enquanto as demais estavam alegres ou apreensivas pelo que estava por vir. Enquanto ela chorava, eu quase podia sentir aquela angústia que a tomava solicitando urgentemente a presença da mãe.

Diante deste quadro, tentei imaginar o que estava acontecendo, por que justamente hoje ela estava a chorar, logo ela que estava acostumada a se despedir da mãe todas as manhãs? Seria um mau presságio? Seria um mau trato ou alguma palavra atravessada na creche? Teria ela presenciado alguma cena violenta em sua casa na noite anterior? Quero acreditar que não foi nada disso, mas apenas um daqueles dias em que é difícil nos levantar de nossa cama para ir à escola ou, ao trabalho e nos separar daqueles que tanto amamos. É a mesma angústia, o mesmo incomodo que todos sentem vez ou outra, só que a criança chora e se aborrece com facilidade por que ainda não tem recursos para lidar com sentimentos tão fortes. Às vezes, mesmo adultas há muitas pessoas que não possuem habilidades para lidar com suas emoções.

Num primeiro momento, pode parecer frieza, mas mesmo morrendo de vontade de acabar com aquele chorinho, não pude supervaloriza-lo. É claro que quem convive com crianças em casa ou trabalhando deve ficar atento a toda variação emocional que esta apresente, mas reitero que há atitudes que não podem ser supervalorizadas, sob pena de desequilibrar a criança. A forma como o adulto lida ou interpreta as emoções da criança vai ser um espelho constitutivo de sua personalidade, um elemento que será decisivo para que ela lide com suas próprias emoções no seu futuro. Este futuro, talvez não seja tão distante como tendemos a imaginar, às vezes, basta que se passem alguns minutos para que ele chegue.

sábado, 9 de abril de 2011

Apenas feliz!


Sinto-me tão feliz apenas porque respiro novos ares e contemplo outros horizontes.
O que vejo, o chão que piso, está longe de ser um lugar seguro e/ou perfeito, mas é onde meu coração se agita, palpita, se mexe, enlouquece! Neste lugar eu tenho prazer!
Sinto-me feliz porque finalmente a liberdade não é mais um sonho, e sim uma realidade que posso tocar com minhas mãos!
Sinto-me feliz porque a cada passo que dou posso enxergar mais longe, em oposição à quando somente meio passo me bastaria a fim de ver mais além, e no entanto, eu não conseguia porque meus pés presos me mantinham numa mesma posição, ou seria em uma mesma situação?
Estou feliz porque já não me encontro mais imobilizada, paralizada, engressada, cristalizada... Um dia acordei suspensa em uma posição mais alta e ela é mais alta do que eu mesma.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Esquecimento


“Nós humanos para renascer, temos de esquecer – abandonar a casca velha para que a nova apareça -, as cascas vazias das cigarras presas aos troncos das árvores são um passado subterrâneo que teve de ser abandonado para que o ser voante nascesse. A educação é um processo de sucessivas demãos de tinta sobre o corpo: cascas. O esquecimento e a desaprendizagem são sucessivas raspagens em busca do esquecido (...)
As culturas e os saberes se sedimentam sobre o corpo – e é como se camadas de materiais estranhos lhe fossem acrescentadas: a craca de moluscos que gruda no casco dos barcos, as demãos de tinta com que a superfície vai sendo pintada... Enquanto nos lembramos e sabemos os saberes, o corpo dorme no esquecimento(...)
Álvaro de Campos num lamento, disse que ele era o intervalo entre os desejos dele e aquilo que os desejos dos outros haviam feito dele. Será isso a educação? O processo pelo qual as gerações mais velhas vão jogando as redes de seus desejos, sob a forma de palavras, sobre as gerações mais novas? A educação vai cobrindo nossa pele com sucessivas camadas de tinta. É preciso que a tinta seja raspada para que o corpo ressuscite. Desaprender e esquecer é raspar a tinta. Raspando-se a tinta volta-se ao corpo tal como ele era antes de ser enfeitiçado por palavras.”

Rubem Alves - Variações sobre o prazer p. 55, 56.