sábado, 3 de setembro de 2011

A mártir

Cheia de amarras, ela se recusa a ceder lugar à vida...

Desconhece os seus mistérios, as suas maravilhas.

Investe seu precioso tempo embalando, alimentando, fortalecendo sua dor.

Este é seu principal motivo para viver, uma perda que não consegue superar, resolver...

Não percebe como é tão centrada em si mesma,

Nem como seu mundo é sem graça, monocromático.

Pois eu digo que para mim já basta, não quero um peso morto em meus ombros!

Não quero receber influências de mulheres cronicamente tristes!

Que vão se arrastando pela vida sem o mínimo de dignidade.

Não me entendam mal, não estou sendo cruel, apenas impondo limites.

Eu tenho este direito e este dever.

Será que você não entende que a tristeza é um fenômeno passageiro?

Deixe-a ir!

Descubra o lado festivo da vida,

Imponha limites à sua dor, não se entregue a ela!

Talvez ela não entenda o que quero dizer, está apaixonada demais,

Ocupada demais mantendo este romance com seu próprio sofrimento.

Ela já decidiu que quer ser mártir.

Só me resta dizer que as risadas se vão,

Que o calor do contato produzido pela amizade se vai,

Que as possibilidades de intimidade e crescimento se vão,
Que vida se vai,

Justamente porque ela não permite que quem deva partir se vá.
Então querida, um beijo e adeus.





Um comentário:

Ligia disse...

Sensacional! Abaixo o romance com o sofrimento! Não se trata de fingir que ele não existe, mas de não superestimá-lo, alimentando-o como um "Tamagoshi".
Fazendo uso da expressão símbolo do Liberalismo Econômico: "Laissez faire, laissez aller, laissez passer" - "deixai fazer, deixai ir, deixai passar", precisamos deixar partir e passar SIM o que nos aprisiona e gera tristeza crônica; e nos deixar fazer o que nos permite uma vida mais digna!