sábado, 2 de julho de 2011

Julho: abrindo o baú de memórias


Julho chegou ontem e trouxe consigo mais um aniversário. Mesmo que eu não chegue até ao dia 13, julho já trouxe meu aniversário!
Julho chegou trazendo nevoeiro. Eu adoro nevoeiros! O nevoeiro de ontem me lembrou Saracuruna... Férias do meio do ano, casa da minha avó... Fiquei tentando recuperar na névoa e na memória o cheiro destas coisas, mas não consegui... Lembrei do bolo maravilhoso que minha avó fazia e da minha paixão por eles até hoje... Até hoje eu adoro bolos, principalmente os que lembram os bolos da minha avó. Quando estudei em escola particular levava bolo todos os dias para a escola, tinha dia que enjoava levar todos os dias a mesma coisa enquanto as outras crianças levavam biscoitos ou então levavam dinheiro e compravam coisas na cantina. Ah, as coisas da cantina, refrigerante, batata frita, proveta, salgadinhos, quanto eu desejava isso... Hoje agradeço a Deus por comer bolo todos os dias, não aprendi a ter hábitos alimentares tão devastadores quanto meus colegas... É verdade há males que vem para bem e sempre há dois lados de uma mesma coisa... Mas como era sedutor... Tinha a barraca de doces da dona Marli, ahhh...
Rubem Alves fala bastante da sua infância em Minas, Ziraldo também fala da sua feliz infância... Minha infância feliz foi na casa da minha avó Eunice. Apesar dela ser “canguinha”, pão dura, eu adorava ir para Saracuruna, dormir na cama junto com ela, ouvir o galo cantando, acordar bem cedinho para bater perna com ela, catar pacotes de café pilão no lixão para trocar por livros de receitas... Comer sua comida nem sempre tão maravilhosa, mas com aquele tempero diferente, inconfundível, posso até sentir o gosto de louro sempre tão presente em seus pratos. Agradeço a Deus por ter tido avó, duas avós que na minha concepção foram maravilhosas para mim e que marcaram minha vida. Uma avó já se foi há 07 anos, hoje a saudade dói menos, às vezes, parece que ela nunca existiu, mas aí ela aparece rindo, gorda e feliz nos meus sonhos. Minha avó Eunice está velha, aquele mundo que era a casa dela está todo resumido num quartinho na casa da minha mãe. Reconheço ali muitos cheiros de antigamente, mas parece que muita coisa também deixou de existir... Minha avó não cozinha mais, não faz bolo, não faz nada... Mas o bolo que faço, o faço pensando nela, e a sopa de feijão também! A debilidade, ou melhor, a fragilidade atual da minha avó, é uma outra história, hoje dentro de mim competem duas visões dela, a de hoje e a de antigamente. Será que eu posso manter as minhas doces lembranças da infância sem prejuízo da mulher adulta? Ás vezes quanto a gente cresce embrutece... Crescimento não é sinônimo de embrutecimento, mas para meu coração às vezes parece que é, alguém me contou isso e eu acreditei, e hoje é difícil desacreditar, por isso, eu luto, eu tenho que lutar para não ficar embrutecida. Por hoje, não ficar embrutecida é manter contato com essas minhas doces lembranças. Assim como nunca esquecerei aquela foto que tirei no colo do meu pai na praça de Magé quando tinha cinco anos, que ele passava óleo na minha canela no frio para não ficar russa (sou preta né...), que ele penteava meus cabelos com mais delicadeza que minha mãe, que foi ele que me deu meu primeiro baton e o meu primeiro conjunto de calcinha e sutien. Isso tudo é meu e foi assim que essas pessoas passaram pela minha vida.
È, julho chegou trazendo tudo isso! LEMBRANÇAS. Um baú de memórias que a gente vai abrindo quando sente saudades...

2 comentários:

Jussara Barbosa disse...

Adorei! Claro que ri muito!!!rsrsrsrs
Nossos sentidos participam da história através das memória: Cheiros, gostos, músicas, imagens...isso é muito bom, sinal de que tudo está funcionando bem e prova disso é a sanidade misturada com humor, paixão e saudade ao contar essa história tão gostosa.
Agora uma pergunta: Porque parece que sua vó não existiu? Fiquei curiosa kkkk
Bjs

Ligia disse...

Paula, cresci ouvindo que lembrar o passado é saudosismo, e é algo ruim. Nunca achei isso, mas quando você fala de embrutecimento, entendo perfeitamente o que aquelas pessoas queriam me dizer - elas embruteceram e não podem ou não conseguem sentir saudades de um tempo bom. É claro que também entendo que não é saudável vivermos no passado, mas lembranças fazem parte de nós, e por que não recordar o que vivemos? Apesar de nunca ter tido avó, mergulhei um pouco na minha infância ao ler suas lembranças.