segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Monólogo no submundo da culpa


A culpa só reverbera em quem se identifica com ela.
Por isso mesmo recebo calada o veredicto de culpada.
Eu nem sempre escapo ilesa de quem pensa que sabe o que é melhor para nós.
Transgredir apesar da culpa, apesar das censuras tem seu preço.
Aproveito-me do meu poder de transgressão para falar mesmo amordaçada.
Não tenho eu direito à defesa?
Que palavras disse eu que se tornaram tão insuportáveis de ouvir,
A ponto de você me manter calada?
Penso que concordar com o que lhe mostrei seria muito mais que seu orgulho poderia suportar,
Mas eu também acredito que lá no íntimo você sabe a verdade.
Por isso, reveste-me de culpa,
Por isso, julga-me condena-me, aterroriza-me,
Para que eu nunca mais desacate sua autoridade e lhe digas mentiras outra vez.
Você adotou o silêncio como discurso e este pretendia ser apenas ausência de palavras,
Mas eu prefiro acreditar que o silêncio pode ser ensurdecedor,
Acredito que o silêncio tem a minha voz, dizendo de novo e de novo
Aquilo que você não quer ouvir.
Não fui eu quem te roubou a paz, foi você mesma,
Pois a culpa só reverbera em quem se identifica com ela.

Um comentário:

Ligia disse...

Que fantasma é esse que me paralisa e me enlouquece?
Achei brilhante a frase: "Pois a culpa só reverbera em quem se identifica com ela". Descobri que a reverberação da minha mente tem intimidade demais comigo, e que preciso colocá-la em seu devido lugar.