quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Negra ou Morena?


"Vá em busca do seu povo. Ame-o.
Aprenda com ele.
Comece com aquilo que ele sabe.
Construa sobre aquilo que ele tem."
Rwame N’Krumah

Não tem pra onde correr, sou negra, negra de verdade!
Identificar-me como negra num país como o Brasil que dá ênfase à hibridização, à mestiçagem é um desafio. Muitas vezes é quase que sair no tapa com quem me interpela!
A ênfase na hibridização, na fábula de que aqui não há negros, brancos, amarelos e/ou vermelhos e que somos todos misturados, é um entrave à construção e ao fortalecimento de uma identidade negra, se alguém porventura se assume como negro e diz ter orgulho de sê-lo corre o risco de ser taxado de racista ao inverso.
Penso (é claro bem alicerçada nos teóricos das Ciências Sociais tais como o MUNANGA e o DAMATTA) que a mestiçagem é um mito que serve para mascarar a forte hierarquização sócio-racial na qual foi e está instituída a nossa célebre sociedade brasileira. Daí a dificuldade para estabelecer e fortalecer uma identidade negra.
Assim sendo, não existem negros, ou se existem são apenas minoria como apontam os censos, somos “com muito orgulho” moreninhos e moreninhas.
Por isso, ser negro no Brasil é fazer uma opção, não basta nascer negro, é preciso tornar-se negro. Ser negro é ir além das características fenotípicas e identificar-se social e culturalmente com um grupo que possui as mesmas origens e uma contribuição cultural própria.
Um negro se descobre como tal em pelo menos três situações:

1) Quando sofre discriminação por causa da cor da sua pele – Embora muitos de nós tentemos não ser discriminados apelando para o bom comportamento, outros tendo um poder aquisitivo acima da média e ainda outros estudando muito além que a maioria. Nos esforçamos para sermos negros especiais e então passarmos por brancos a fim de evitar a discriminação, em muitos casos funciona, e como! Mas nem sempre, viu?!

2) Quando se olha no espelho e reconhece o cabelo crespo, os lábios grossos, talvez um nariz largo e pouco achatado... É bom lembrar que a estética negra é uma estética diferente da estética dominante que é a branca, preferencialmente branca européia, enaltecendo as criaturas louras de olhos claros. Meu cabelo não é ruim em relação ao cabelo dos brancos, ele é diferente, é crespo, ou melhor, crespíssimo (como li numa revista há anos atrás), afirmar que meu cabelo é ruim, é afirmar que ele é inferior, pior que o cabelo do não-negro e isso não é verdade (mas vai enfiar isso na cabeça de negros e de brancos também!).


3) Quando se reconhece nas culturas negras existentes, digo culturas negras porque não existe apenas uma cultura negra como matriz da sociedade brasileira, penso que não é preciso ser praticante de candomblé, nem passista de escola de samba para produzir cultura negra e expressar-se como negro.

Realmente, o Brasil é um dos países mais híbridos do mundo, isso não dá pra negar, em minha família há portugueses, índios e negros em sua composição, mas não há como deixar de me posicionar, ser negro além de tudo que foi dito é uma postura política, e é esta minha opção. Muitos podem me chamar de moreninha, mulatinha, mas para mim (e esta também é a forma de me apresentar) eu sou é NEGRA!!!

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