terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ser humano é ser paradoxal...

Rio, 10.05.2008.

“(...) Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos”. Lia Luft

Sou um ser cindido em duas partes.
Não diria que uma delas é boa e a outra é má.
Seria uma explicação muito simplista para algo que é por demais complexo.
Uma parte de mim quer olhar para dentro e outra para fora.
Uma parte de mim valoriza o que eu sou e a outra o que eu faço.
Uma parte de mim quer auscultar as batidas do meu coração e a outra se preocupa somente com minha aparência diante dos outros.
Parece que na maior parte do tempo olho para fora e com os dedos em riste para me defender melhor.
É difícil olhar para dentro e me desfazer das fantasias que criei para me defender das minhas verdades.
Na verdade, é isto que tem doído mais do que qualquer outra coisa.
Tenho que arrancar partes de mim mesma que não me servem mais, mas que me são muito caras.
Minhas verdades são difíceis, são muito difíceis, duras, penosas.
Tenho muitos desejos bons, mas coloco muito pouco deles em prática.
É, eu sou assim!
Muitas vezes tenho a impressão de que seria mais fácil ser uma alienígena, uma pessoa muito diferente, especial, que não pertencesse a este mundo, mas pra dizer a verdade, eu sou muito comum, muito igual a todo mundo: preguiçosa, mentirosa, egoísta, interesseira e com uma carga muito potente de auto-destruição, além da paranóia que eu tenho de perder o controle e viver num estado caótico.
Quem é que disse que perder o controle é caótico?!
O caos muitas vezes nos ajuda a reoganizar nossa casa.
Não estou dizendo estas coisas para me depreciar, apenas estou tentando ser um pouco mais verdadeira comigo mesma.
Quero muito ser feliz e a felicidade está muito perto de mim, mas sempre faço questão me afastar dela ou afastá-la de mim. Confundo felicidade com perfeição. Nada mais equivocado, pois felicidade nada tem a ver com perfeição, que tem a ver com paranóia! Confundo felicidade com algo que não existe.
Não entendo o que é ser feliz... Ser feliz na verdade é exigir pouco de si mesmo, o que é bem diferente de ser uma pessoa acomodada. Ser feliz não é transgredir seus próprios limites... Ser feliz é ter paz na consciência... Ser feliz é a consciência de que não somos poderosos, mas que fazemos o possível. E o problema está aí, porque simplesmente não aceito o que é possível, mas quero mais! De repente, não acredito que não pode ser tão simples assim...
A felicidade não é nada estática, mas dinâmica e muda de acordo com o contexto.
Ser feliz é perder, entregar, deixar, abrir mão, desistir, soltar...
A felicidade está ao meu ao alcance é uma possibilidade muito real, mas não me vejo investindo nela.
Falo da minha mãe, mas eu também gosto de me responsabilizar por coisas e por pessoas que não deveria, também gosto de carregar pesos, angústias que me afastam do que a vida tem de melhor.
Porque a felicidade me ameaça, porque a felicidade é o desconhecido.
A Felicidade não é familiar.
É mais fácil lidar só com o meu desejo de ser feliz do que ser feliz de fato, porque ser feliz transcende os meus desejos, ser feliz de fato é maior do que minha obsessão pelo controle.
Para ser feliz preciso me responsabilizar pela minha tristeza, minha solidão e pela minha angústia e não mantê-las em cativeiro para usá-las como trunfo em qualquer jogo desta vida.

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