sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Adeus 2010! Seja bem vindo 2011!!!

Sendo quem sou, não poderia deixar o ano partir sem meditar, sem fazer minha retrospectiva pessoal, sem refletir no que 2010 significou para mim...
Sei que por mais que eu escreva as palavras não dão conta das transformações pelas quais passei neste ano.
Em 2010 eu acordei e me posicionei, isto quer dizer que eu ousei me arriscar, a sair da minha zona de conforto mental... Por ter tomado esta atitude, aqueles sentimentos fortes que eu reprimia explodiram com força total. Com esta atitude, eles que atuavam no subterrâneo da minha mente foram convidados a dar as caras, embora vivendo tudo isso, meus medos não me impediram de seguir em frente. Aprendi que crescer não é apenas dominar o medo e a insegurança e sim desafiá-los.
Já basta de falar daquilo que não tenho, que ainda não vivo, como se falar por si só invocasse o objeto de desejo. Mais do que falar, é preciso agir, é preciso mudar, eu me tornei consciente desta verdade.
Este foi um ano em que tive coragem e mais consciência, aprendi que estas duas virtudes nunca andam separadas... Tive que ver coisas que não queria ver, e sentir o que não queria sentir. Através da minha busca foram reveladas minhas fortes características narcisistas, meu egoísmo, minha baixa tolerância à frustração e o medo de errar como razão da minha improdutividade. Além disso, percebi um ego frágil debaixo da minha máscara de perfeição, e também fortes desejos de impressionar os outros.
Neste ano fui capaz de suportar muitas dores, entre elas as dores do crescimento, mergulhando naqueles conflitos que parecem intermináveis. Nos sonhos, meu inconsciente apontava a necessidade de assumir a responsabilidade de arrumar meu mundo interior e resolver meus conflitos fundamentais, pois, eu ainda mantinha uma atitude passiva com relação às minhas crises. Então, por essas e outras tive que mergulhar também em minha dor psicossomática: A dor na cervical. Sua onipresença me obrigou a entender sua função e sua obstinação. Enxerguei uma outra possibilidade de lidar com ela, passei a aceitá-la e percebi que eu estava recriando uma dinâmica destrutiva vivida na minha infância. Minha dor também significava era uma ferida de guerra, da luta que eu vinha travando pela minha própria sobrevivência, pois ninguém passa incólume por uma guerra, sem adquirir uma ferida ou cicatriz. Além disso, entendi esta minha dor como uma mensagem que eu mandava para mim mesma implorando para que eu mudasse. E para a minha felicidade algo dentro de mim mudou...
Sempre vi em na literatura ou em filmes, pilotos de aviões ou comandantes de navios que quando entravam em alguma tempestade ou turbulência solicitavam à tripulação para se livrar dos pesos inúteis, daquela bagagem que antes essencial, se tornara um peso que dificultava a manutenção da estabilidade dos meios de locomoção. Lançar fora os pesos nos filmes era um procedimento essencial para manter a vida de todos a salvo e a integridade da embarcação ou do aeroplano para enfim dar prosseguimento a viagem. Posso dizer que neste ano joguei muitos pesos fora para ter uma viagem mais leve e mais tranqüila mesmo enfrentando turbulências. Entendi que as turbulências, tempestades são inevitáveis, mas que os pesos podem ser descartáveis.
Posso também dizer que, depois de tanto tempo falando e desejando o novo em minha vida, neste ano me preparei para ele. Entendi que só podemos receber o novo depois de deixar o que é velho, e por isso me sinto preparada para tudo que a vida tem para me oferecer neste ano que se aproxima. O lugar onde assisto tornou-se pequeno demais para mim, minha alma clama por uma oportunidade de realização. Este desejo da minha alma me consome e é este que tem me orientado até então. Consumida por este desejo só penso nesta nova Paula que está prestes a nascer. Clamo a Deus que substitua meu lamento por festa.
Por tudo isso, fica claro que os desafios continuam, pois ainda há muito o que se fazer, há ainda muita coisa debaixo do tapete. Não obstante, é urgente e necessário aprender a confiar e a compartilhar.

Paula

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Emergentes entre o sonho realizado e a frustração

Depois da compra de bens, a classe C agora almeja a inclusão social, que passa pela escolha da profissãoEla é a grande novidade no cenário econômico e demográfico do país: já é maior fatia da população, pode decidir uma eleição sozinha, responde por quase metade do consumo nacional e compra eletrônicos, carro e até a casa própria. Mas ao mesmo tempo em que festeja esse boom de consumo, a nova classe média brasileira ainda sonha com a inclusão social, um bem que não é vendido no shopping e tem que ser adquirido aos poucos, num prazo ainda maior que o dos financiamentos de mercado. Esta é a principal conclusão da pesquisa “Sonhos da Nova Classe Média”, um estudo qualitativo realizado em São Paulo com pessoas que ganham entre R$ 1.126 a R$ 4.854 por mês.
— Não adianta ter dinheiro para freqüentar o Leblon ou o Jardins, em São Paulo, porque o linguajar é diferente, ele não estudou numa boa escola. Foram 500 anos de um país dividido entre a casa grande e a senzala — diz Andre Toretta, publicitário e sócio-diretor da Ponte Estratégia, consultoria especializada em estudos sobre a classe C.
A pesquisa incluiu o convívio com os entrevistados e identificou duas outras grandes categorias de sonhos: o da realização pessoal e o de consumo.Os sonhos de realização pessoal estão ligados fundamentalmente à profissão. Mas, ao mesmo tempo em que avança o acesso aos cursos de nível superior, ainda é um privilégio escolher a profissão.— Esse universitário da classe C primeiro vê qual universidade tem perto de casa, depois quanto custa e, por último, ele olha que curso tem. Ele não faz o curso que quer, faz o que é possível — diz Torreta.Que o diga a auxiliar financeira Elizabeth Mendonça Costa, 32 anos, que sonhava ser fisioterapeuta, mas acabou se matriculando em ciências contábeis.
— A faculdade de fisioterapia custava R$ 1.150 por mês e a de ciências contábeis, R$ 475. Não adiantava optar pelo sonho e não conseguir manter — diz ela, enquanto festeja outras conquistas, como a TV de 50 polegadas, o laptop e a geladeira que serve cerveja sem abrir a porta.De sua ainda extensa lista de sonhos, Elizabeth destaca a formatura e o fim do que ela chama de “discriminação”: — Infelizmente, na nossa sociedade há muita discriminação, principalmente do pobre contra outro pobre. Fui com meu irmão comprar o carro e o vendedor nem me deu atenção. Chamei um outro e falei logo: a gente vai comprar um carro zero. Aí o primeiro vendedor disse que ele estava me atendendo, mas eu não quis mais comprar com ele.Isso é pior do que racismo.O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), vê nas conclusões da pesquisa um reflexo da desigualdade.
— Esse sonho de inclusão social é um sonho de pertencer.O país gerou um potencial de consumo, de geração de renda, mas temos problemas relacionais, porque temos desigualdade, inclusive dentro de um mesmo grupo.Neri explica que a nova classe média é heterogênea e, nas pontas, inclui a renda média da Bélgica e da Índia. Por isso, diz, o desafio é agora é avançar nas questões coletivas.
— A gente já deu os pobres ao mercado. Agora falta dar maneiras de as pessoas alavancarem seus sonhos.

Nice de Paula
Jornal O Globo 10/10/2010 - Economia

Me deparei com este texto num Concurso, a sensação foi de ter me olhado no espelho!
Espero que em 2011 eu e todos que me lêem tenham seus sonhos realizados.
Paula
Paula

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Divagando...


Nascemos dentro da coletividade, mas na verdade estamos sozinhos...
Às vezes o limite entre a sanidade e a loucura estará na forma como administramos esta solidão tão pessoal e intransferível.
Quem muda não muda apenas para si mesmo.
Diferenciar-se é um preço alto que se paga,
Porque se tornar diferente é denunciar as tramas ocultas nas quais estamos envolvidos.
Os orientais gostam de pensar que toda crise é uma oportunidade.
Oportunidade esta que devemos saber aproveitar,
Pois é esta visão que definirá se uma crise é um evento passageiro,
Ou se ela se tornará crônica a ponto de paralisar a vida.
Não vou mentir, minhas sombras ainda me assustam.
Delas ainda me defendo,
Delas ainda fujo...
Porém, também sinto por elas uma atração irresistível.
Minhas sombras são insistentes, sedutoras me instigam batendo à minha porta,
E vão se impondo através de meus sonhos.
Na verdade, a mensagem que elas trazem é de reconciliação.
E reconciliação traz paz.
Esta forma fragmentada de viver é a origem de muitos dos nossos conflitos.
Por isso, às vezes não entendo porque resistimos às mensagens de paz que nos envia a alma.
Talvez seja porque não sabemos agir de forma diferente de tudo que nos foi ensinado.
Muitas vezes, até se tenta ser diferente, mas é como estar numa piscina e só molhar os pés.
Não somos o que acreditamos ser.
Não sou o que eu acredito ser.
Para saber realmente quem sou é preciso interpretar as pistas,
Como acontece em uma investigação policial.
Em nosso cotidiano, nas coisas que acreditamos serem tão banais,
Estão os motivos de ser quem somos e agir como agimos.
Tudo está aqui bem debaixo do nosso nariz, basta saber interpretar as pistas.
Na verdade, tudo é bem mais simples do que imaginamos,
Contudo, nossos olhos sempre estão embaçados demais por nossas fantasias para que possamos ver.
Ao contrário de uma investigação policial, a autodescoberta não tem como objetivo encontrar um culpado para nossa desventura, e então condená-lo, encarcerá-lo como muitas vezes gostaríamos de fazer.
O objetivo desta viagem é encontrar e libertar quem culpamos,
julgamos, condenamos e aprisionamos.
Talvez estes fragmentos do meu ser que aprisiono com tanta veemência e que julgo como desprezíveis, vulgares, idiotas, sejam afetos que ressignificados possam reorientar minha vida e me levar a lugares que jamais imaginei chegar...
Entretanto, viver assim tem sido uma luta.

Paula 24.11.10

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A gula


Só de pensar, minha boca se encheu d’água. Me vi comendo um bombom suíço, bem devagarzinho – aquele chocolate macio, recheado de licor, uma cereja vermelha dentro. Quantos prazeres se encontram num único bombom! É preciso ir devagar como em tudo que tem a ver com prazer. É grosseria enfiar o bombom inteiro na boca e comê-lo como porco. Primeiro é o prazer de tirar-lhe a roupa. A carne mulata vai se mostrando aos poucos, sugerindo... Depois vem o perfume, que atiça as glândulas salivares a secretarem seus sucos. A seguir, as delícias do gosto. Os dentes entram carinhosamente na carne macia que vão se abrindo, a ponta da língua testando a cereja guardada na concavidade escura cheia de licor. Mais uma mordidinha e o licor escorre, e a língua tem que trabalhar depressa para não perder nada... O gosto deve ficar rodando na boca, movido pela língua, misturando-se com nossos fluidos, excitando as papilas gustativas. Mas, depois de algumas rodada, o prazer do gosto pede uma realização maior. O gosto não é o bastante. Fosse bastante, bastaria cuspir o bombom depois de esgotados os prazeres do gosto e não haveria o perigo de engordar. Mas não. O prazer do gosto exige um outro para se sentir completo – é preciso engolir. O bombom, transformado numa pasta líquida, abandona a boca, lugar do gosto, e vai escorregando, deslizando, penetrando o esôfago até descansar no estômago. Esse prazer nada tem a ver com o gosto. É puramente tátil, o prazer da plenitude – o bombom penetra, enche a gente.
Ah! Que coisa refinada e deliciosa, especialmente agora que os bombons suíços me foram proibidos por causa da diabetes. O que provavelmente, não é o seu caso. Sem sofrer de diabetes, você pode se entregar, ainda que por breves momentos, aos prazeres da gula. A gula é um demônio saboroso, o que a torna especialmente perigosa. Eu, diabético, posso ser tentado. Mas não caio na tentação. A gula jamais me pegará. Quero viver. Muitas virtudes nada mais não que transformações de nossos medos.
A psicanálise reconhece uma curiosa dança dos prazeres – eles são capazes de abandonar seus locais de origem e se alojar num outro, que não é naturalmente seu. Fiquei a pensar se a gula não é um desses casos, um deslocamento dos prazeres sexuais para a boca. Porque no prazer sexual acontece assim mesmo: não bastam os prazeres vestibulares, é preciso penetrar. Serão boca, esôfago e estômago substitutos para os órgãos sexuais femininos?
Uma coisa é certa: é mais fácil ter prazer com a boca que ter prazer sexual. Os prazeres da gula estão sob controle de atos voluntários. Minha vontade domina todas as partes do ato de comer. Mas os prazeres sexuais são mais complicados. Aí a decisão cerebral não manda. Não acontece de você ter o bombom, querer comê-lo e não conseguir. Com sexo acontece. Que frustração! Que fome! Os prazeres do sexo podem levar à gravidez. Os prazeres da gula levam inevitavelmente à obesidade. A obesidade é uma gravidez sem esperança, que nunca vai parir, vai só crescer.
Prazer precisa de intermitência. Como no sexo. Depois do orgasmo, o corpo está satisfeito. É preciso esperar um tempo para que ele queira de novo. O prazer continuado deixa de ser prazer, transforma-se em dor. Pois é isso que o demônio da gula faz com quem se entrega a ela. Tudo começa com o prazer do bombom. Depois de muitos bombons, o corpo já não come mais pelo prazer dos bombons. O prazer já não está no gosto. Está no engolir.
O obeso não quer ser obeso. Tudo é complicado para ele – passar na borboleto do ônibus, sentar na poltrona do avião, amarrar os sapatos, comprar roupas, transar. Não gosta de se ver no espelho. Não gosta do jeito como os outros o olham. Sabe que a obesidade é feia, que faz mal à saúde, causa infarto, pressão alto, diabetes. Quer ser magro, elegante, bonito. Sabe que para ficar magro é preciso parar de comer.
Mas, lá pelas duas horas da madrugada, hora de solidão (os demônios amam as horas de solidão!), o demônio lhe fala sobre os bombons... Ele não está com fome. É o demônio que suplica, com voz chorosa: “Estou com vontade de comer uns bombons...”
Porém não há bombons no apartamento. Ele comeu todos enquanto via televisão. Pensa em se vestir e ir ao supermercado. Mas faz frio. Lembra-se então de que na cozinha há bolachas e leite condensado. Vai até aa cozinha, abre uma lata de leite condensado, lambuza as bolachas e vai devorando, enquanto o leite escorre pelos dedos. Mas ele não permite que o doce se perca – lambe os dedos, enfiando-os um a um na boca. Pena que os dedos não possam ser comidos... Ele não faz mais distinção entre bombons suíços e leite condensado com bolachas. Quem se entrega ao demônio da gula perde a capacidade de degustar. O prazer de degustar é substituído pelo prazer de se empanturrar.
Terminada a orgia da gula, alguns, como ato de penitência, se ajoelham contritamente diante do altar – a privada. Enfiam então o dedo na goela e vomitam o que comeram. É seu jeito de pedir perdão.



Rubem Alves
Sobre Demônios e Pecados

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SILÊNCIO


O silêncio é o espaço onde as palavras nascem e começam a se mover.
Por vezes, as palavras porque as dizemos.
Dependem de nossa vontade de pensar, de falar, de escrever: pássaros engaiolados.
Mas no silêncio ocorre uma metamorfose.
As palavras se tornam selvagens, livres.
Elas tomam a iniciativa.
E só nos resta ver e ouvir.
Elas vêm como emissárias de um outro mundo,
Um mundo que não havíamos visitado antes.
Não, talvez o tenhamos visitado.
Talvez tenhamos nascido nele.
Mas foi esquecido quando o brilho dos reflexos nos fez esquecer nossas origens.
Cada poema é um testemunho desse mundo perdido.

Rubem Alves
Do universo à jabuticaba

Palavras


A todo o momento somos bombardeados com palavras.
Elas são muitas e esbarram em nós apressadas,
A maioria sem pedir licença.
Estas palavras são de diferentes tipos e diferentes sons,
Sem falar nas imagens que traduzimos e expressamos em palavras.
Todos nós portamos palavras enunciando-as ao mundo.
Que palavras são estas que falo?
Como falo?
Hoje digo que as palavras que porto destroem,
Minhas palavras inquietam, sacodem, desorganizam, bagunçam, implodem!
Pois são palavras que nasceram do silêncio,
Do escuro que desvendou meus verdadeiros desejos.
Por isso, as palavras subvertem, transgridem...
Às vezes precisam machucar para curar,
Para conscientizar.
As palavras sempre exigem uma resposta, uma tomada de posição.
As palavras são os alicerces de toda construção,
Pois são as palavras que tudo criam e que tudo transformam.
Estou prenhe de palavras,
E pronta para liberá-las ao mundo.
Palavras não são apenas palavras, jogadas ao vento...
Palavras são a própria vida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sussurros da madrugada


Tenho medo, muito medo.
Por isso, aperto tua mão com tanta força.
Mas sua presença não faz o medo partir,
Nem o desconforto desaparecer.
Eu não sei mais o que fazer...
Mas quando eu começo a ler as entrelinhas,
E paro de te fazer perguntas que você não entende,
A verdade começa a aparecer.
Olhar no espelho é embaraçoso,
E na maioria das vezes,
O que acreditamos que é nossa imagem real,
Na verdade é uma figura distorcida que vimos num espelho embaçado.
Quantas vezes interroguei a quem não devia interrogar,
E não interroguei quem deveria.
Foi então que descobri que sou humana,
E o quanto me enganei.
Eu acho que estava enganada a respeito de tudo...

Enganada sobre mim, sobre os outros, sobre a vida,
Quando fui tomada pela incerteza, me senti muito ameaçada.
O chão desapareceu de debaixo dos meus pés,

E eu comecei a tremer!
A insegurança apareceu tentando preencher o vazio deixado pelas certezas,
Que desabaram...
As fantasias aprisionam,
Mas dizer a elas que não são mais necessárias não é uma tarefa das mais agradáveis.
É como abandonar um vício qualquer,
Há sempre a crise de abstinência.
O vazio berrando para ser preenchido,
Não se ouve mais nada a não ser o corpo gritando,
Dando ordens para ser amarrado outra vez.
Apesar de viver tudo isso,
Creio que depois de uma noite difícil sempre vem uma bela manhã,
Trazendo consigo inúmeras possibilidades de um lindo recomeço.
Vou enumerar apenas algumas delas: consciência, verdade, liberdade, amadurecimento, felicidade...

Monólogo no submundo da culpa


A culpa só reverbera em quem se identifica com ela.
Por isso mesmo recebo calada o veredicto de culpada.
Eu nem sempre escapo ilesa de quem pensa que sabe o que é melhor para nós.
Transgredir apesar da culpa, apesar das censuras tem seu preço.
Aproveito-me do meu poder de transgressão para falar mesmo amordaçada.
Não tenho eu direito à defesa?
Que palavras disse eu que se tornaram tão insuportáveis de ouvir,
A ponto de você me manter calada?
Penso que concordar com o que lhe mostrei seria muito mais que seu orgulho poderia suportar,
Mas eu também acredito que lá no íntimo você sabe a verdade.
Por isso, reveste-me de culpa,
Por isso, julga-me condena-me, aterroriza-me,
Para que eu nunca mais desacate sua autoridade e lhe digas mentiras outra vez.
Você adotou o silêncio como discurso e este pretendia ser apenas ausência de palavras,
Mas eu prefiro acreditar que o silêncio pode ser ensurdecedor,
Acredito que o silêncio tem a minha voz, dizendo de novo e de novo
Aquilo que você não quer ouvir.
Não fui eu quem te roubou a paz, foi você mesma,
Pois a culpa só reverbera em quem se identifica com ela.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um Corpo que Fala


“A revolta de Agnes não se manifestou jamais às claras. Ela cai doente”.

Quando eu era criança vivia doente... Não era nenhuma doença crônica, mas eu era uma criança que tinha uma saúde frágil. Diz a minha mãe que minha avó Margarida sempre pensava que eu morreria de uma hora para outra. Na verdade, eu tinha alguns problemas respiratórios e doenças normais de criança... Hoje eu tenho uma doença chamada dor crônica e ela sim fala de toda uma história que me corpo carrega.
Acredito que nossas doenças revelam quem somos e como lidamos com o mundo.
É algo como diga-me sua doença e te direi quem tu és... Não quero dizer com isso, que esta afirmação atinge em cheio todas as pessoas, aconteceu comigo e pode não ter acontecido com você. Mas uma coisa é fato: nossas crenças, pensamentos e sentimentos transformam nosso corpo através de reações químicas comandadas pelo cérebro. Em outras palavras, como disse Salomão, nós somos integralmente o que pensamos.
Penso que a doença é uma forma radical de dizer que precisamos mudar. Ela é um grito, um últimato que a vida dá após inúmeras tentativas frustradas de nos fazer entender a necessidade de sermos flexíveis.
Eu expresso pouco minhas emoções, desde cedo aprendi a silenciá-las, escondê-las debaixo do tapete do cotidiano. Expressar pouco minhas emoções, não significa que elas não existam, nem que elas sejam fracas. Eu as expresso pouco e as aprisiono em meu corpo, aí elas explodem, explodem meu corpo em forma de doença. O termo técnico para este fenômeno chama-se somatização. Não pense que falando assim faço apologia ao descontrole emocional, à impulsividade e às expressões emocionais desordenadas, nada disso, estou apenas pensando numa maneira de não usar a doença para expressar minhas emoções.
Concluí que para não deixar a doença falar por mim, é preciso uma reprogramação mental, que não é um processo simples. Este requer que crenças, pensamentos e certos estilos de vida sejam abandonados, mesmo que gradativamente, o que representa morte, luto, sofrimento. Mas a doença também produz um tipo de sofrimento, só que é um sofrimento desnecessário, improdutivo, que não produz nada além de desespero e confusão. A cura de muitas de nossas doenças passa pelo sofrimento. Mais uma vez quero reiterar que não faço apologia do sadomasoquismo, o que quero afirmar é que não há crescimento sem dor, sem amputações, sem cortes, sem raspar feridas inflamadas para que possam sangrar. Não há crescimento sem olhar para o espelho, e olhar para este nem sempre é uma tarefa agradável. Afirmar todas estas coisas numa cultura hedonista soa um tanto quanto sórdido, porém, não há outra forma de manter a lucidez num mundo onde somos literalmente obrigados a esconder nossas angústias tão próprias à natureza humana debaixo do tapete do consumo.
Tenho pensado muito nas crianças e na espontaneidade que as caracteriza. Adoro a espontaneidade das crianças, principalmente quando através desta elas nos fazem corar. Adoro a espontaneidade das crianças porque é exatamente esta uma das qualidades que preciso desenvolver para ter saúde.
Em casa, na escola e nas outras instituições sociais destruímos muitas características humanas através de um processo de coisificação, de desumanização, e é claro que pagaremos um preço enquanto indivíduos e sociedade. Ensinamos as crianças a serem dissimuladas, as ensinamos a ficar sentadas várias horas numa mesma posição, e elas aprendem muito bem a lição, não falando o que realmente sentem, cristalizando posturas e aprendendo a ser acomodados e imóveis.
Hoje mais do que nunca eu olho a educação e me reconheço nela.
A Educação é o meu grito de protesto, e penso que assim que ela tem que ser, um protesto contra a desigualdade, contra tudo o que nos desumaniza.
A educação tem que nos instrumentalizar para a crítica, para a transgressão, para a subversão.
É com o corpo que se educa.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mantendo o controle emocional


O Controle Emocional é a habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adaptando-os conforme a situação e expressando-os de maneira saudável para si e para o grupo no qual está inserido. O equilíbrio entre razão e emoção é o caminho mais adequado. Os excessos costumam trazer consequências prejudiciais às pessoas. A razão excessiva faz com que o sujeito vivencie e expresse pouco suas emoções, absorvendo para si toda a carga emotiva. A pessoa mais sensível, que explicita seus sentimentos com facilidade, age por impulso e gera situações sociais desconfortáveis. O conhecimento das emoções e sentimentos do sujeito, bem como, dos limites suportados é um primeiro passo para a busca do equilíbrio emocional. Lidar com a emoção e a razão em proporções que levam o sujeito a colocar-se de modo saudável diante das circunstâncias vividas poderá trazer um modo de vida estruturado, adequado à sociedade e, principalmente, saudável para si mesmo. Uma pessoa que é tomada pelas emoções, agindo de modo impulsivo, geralmente, envolve-se em relacionamentos conflituosos, perde oportunidades de trabalho, arrepende-se de suas atitudes, gerando tumulto em sua vida e na dos próximos. Por outro lado, um sujeito que reprime suas emoções, não necessariamente estará utilizando só a razão para resolver suas questões. As emoções podem afetar suas decisões e posicionamentos diante da vida, porém os sentimentos não são expressos. A falta de manifestação das emoções e dos pensamentos provoca dificuldades na comunicação com outras pessoas, decisões e atitudes pouco efetivas, dificuldades nos relacionamentos pessoais e sociais, e principalmente, a possibilidade de somatização da carga emotiva.
Essa nova geração de jovens adultos, de modo geral, foram crianças que expressaram mais suas emoções e seus desejos, o que é benéfico, pois puderam vivenciar sentimentos e entrar mais em contato consigo mesmo. Tiveram oportunidades de serem autênticos. Porém, tiveram essa experiência com pouca capacidade de um adulto em impor limites, e até mesmo, saber lidar com suas próprias emoções diante das situações difíceis.É uma geração que sabe lidar pouco com suas frustrações, mas que possui potencial para adquirir equilíbrio emocional, se assim se propuserem a buscá-lo. Lidar com frustrações é sofrido e angustiante Diante dessa dificuldade, muitos acreditam que o caminho é eliminar a emoção da vida. Mas, esquecem que, na tentativa de eliminar a emoção, além de não vivenciar frustrações, tristezas, angústias, ansiedades, também não se vive amor, carinho, alegria, felicidade, conquistas. Porém, também as frustrações, sentimentos de injustiça podem atuar de um modo positivo, gerando força para mudanças de situações desagradáveis e sofredoras. A sociedade está buscando um ideal de sujeito que não é humano.
A emoção, como também a razão, faz parte do homem e de como ele se manifesta na vida, cada qual com sua singularidade. As diferenças enriquecem a vida e as pessoas, que podem aprender a viver com mais flexibilidade e se adequarem melhor às suas necessidades. A medida do descontrole emocional é aquela que prejudica a sociedade e o sujeito. Se uma pessoa não consegue lidar com a frustração do trânsito e tem ataques de fúria, dirigindo de modo imprudente e cometendo crimes, coloca a sociedade em risco. O sujeito que não consegue lidar com a discordância de seu pensamento, e perde seu trabalho por um comportamento impulsivo, coloca a si mesmo em risco. Nesses casos, é necessária a busca de ajuda profissional. Uma terapia poderá trazer benefícios ao lidar melhor com suas emoções e sentimentos.

Claudia Finamore

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Manifesto dos Brancos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Este texto é um manifesto escrito e subscrito por brancos que compõem a comunidade escolar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele é uma retumbante admissão pública, por nossa parte, de que vivemos em um contexto de exclusão estrutural de negros e indígenas dos benefícios e espaços de cidadania produzidos por nossa sociedade e onde, ao mesmo tempo, é produzida uma teia de privilégios a nós brancos, que torna completamente desigual e desumana nossa convivência. Somos opressores, exploradores e privilegiados mesmo quando não queremos ser. O racismo não é um "problema dos negros", mas também dos brancos. É pelo reconhecimento destes privilégios que marcam toda nossa existência, mesmo que nós brancos não os enxerguemos cotidianamente, que exigimos a imediata aprovação de Ações afirmativas de Reparação às populações negras e indígenas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
No Brasil vivemos em um estado de racismo estrutural. Já é comprovado que raça é um conceito biologicamente inadmissível, só existe raça humana e pronto. Mas socialmente, nos vemos e construímos nossa realidade diária em cima de concepções raciais. Portanto, raça é uma realidade sociológica. Não é uma questão de que eu ou você sejamos pessoalmente preconceituosos. Mas é só olhar para qualquer pesquisa que veremos como existe um processo de atração e exclusão de pessoas para estes ou aqueles espaços sociais, dependendo de sua cor. Não é à toa que não temos quase médicos negros, embora eles sejam a maioria nas filas dos postos de saúde; que quase não vemos jornalistas negros, mas estes são expostos diariamente em páginas policiais; que não temos quase professores negros, especialmente em posições com melhores salários, e vemos alunos negros apenas em escolas públicas enquanto, na universidade pública quase só encontramos brancos.
A situação dos indígenas não é diferente, quando eles ainda sofrem lutando pelo direito mínimo de ter suas terras e aldeias, mesmo isso lhes é surrupiado pelos brancos. Vamos parar com esta falácia de dizer que não aceitamos cotas raciais na universidade, porque não queremos ser racistas: se vivemos no Brasil, se fomos criados nesta cultura, se construímos nossas vidas dentro deste conjunto de relações onde a raça é um elemento determinante, somos todos racistas! Não fujamos da realidade. Não usemos a falsa desculpa de que não queremos criar divisões entre raças no Brasil. Nossa sociedade poderia ser mais dividida racialmente do que já é hoje?
O estudo de Marcelo Paixão intitulado "Racismo, pobreza e violência", compara o IDH dos brancos e dos negros dentro do Brasil. O IDH tenta medir a qualidade de vida das populações, combinando os três fatores que, por abranger, cada qual, uma imensa variedade de outros, seriam os essenciais para a medição: renda por habitante, escolaridade e expectativa de vida. Na última versão do IDH, de 2002, o Brasil ocupa o 73º lugar entre 173 países avaliados, mesmo possuindo todas as riquezas nacionais e sendo o 11º país mais desenvolvido economicamente no mundo. Porém, entre 1992 e 2001, enquanto em geral o número de pobres ficou 5 milhões menor, o dos pretos e pardos ficou 500 mil maior. [Consideram-se brancos 53,7% dos brasileiros; pretos ou pardos, 44,7%, que chamaremos, hora em diante de negros]. O estudo mostra que Brasil dos brancos seria, na média o 44º do mundo em matéria de desenvolvimento humano, ao passo que o Brasil dos negros estaria no 104º lugar!!!
Nada disso é novidade, porém, para quem aceita viver com os olhos minimamente abertos. Temos que reconhecer que vivemos num sistema estruturalmente racista, que se reproduz em cima de mecanismos constantes de exclusão e exploração dos negros e de privilégios naturalizados aos brancos. Em um sistema racista, pessoas brancas se beneficiam do racismo, mesmo que não tenham intenções de serem racistas. Nós brancos não precisamos enxergar o racismo estrutural porque não sofremos diariamente diversos processos de exclusão e tratamento negativamente diferencial por causa de nossa raça. Nossa raça (e seus privilégios) são tornados invisíveis dia-a-dia. Este sistema de privilégios invisíveis a nós brancos é que nos põe em vantagens a todo instante, por toda nossa vida, em todas as situações, e que destroça qualquer tentativa de pensarmos que estamos onde estamos apenas por méritos pessoais. Que mérito puro pode ter qualquer branco de estar no lugar confortável em que se encontra hoje, mesmo que tenha saído da pobreza, dentro de um sistema que lhe privilegiou apenas por ser branco, ao mesmo tempo em que prejudicou outros tantos apenas por serem negros?
Vamos apresentar uma breve listinha de circunstâncias em nossas vidas que expõem nossos privilégios de brancos e que, embora não percebêssemos, embora os víssemos apenas como relações naturais para nós, por sermos pessoas normais e "de bem", foram decisivas para nos trazer onde estamos (e por não serem vivenciados também por negros e indígenas, seu resultado é fazer com que seja tão desproporcional o número destas populações dentro da UFRGS, por exemplo): 1) Sempre pude estar seguro de que a cor da minha pele não faria as pessoas me tratarem diferentemente na escola, no ônibus, nas lojas, etc; 2) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca os prejudicou em termos das busca ou da manutenção de um emprego; 3) Estou seguro de que a cor da pele dos meus pais nunca fez com que seu salário fosse mais baixo que o de outra pessoa cumprindo sua mesma função; 4) Posso ligar a televisão e ver pessoas de minha raça em grande número e muitas em posições sociais confortáveis e que me dão perspectivas para o futuro; 5) Na escola, aprendi diversas coisas inventadas, descobertas, grandes heróis e grandes obras feitas por pessoas da minha raça; 6) A maior parte do tempo, na escola, estudei sobre a história dos meus antepassados e, por saber de onde eu vim, tenho mais segurança de quem sou e pra onde posso ir; 7) Nunca precisei ouvir que no meu estado não existiam pessoas da minha raça; 8) Nunca tive medo de ser abordado por um policial motivado especialmente pela cor da minha pele; 9) Já fiz coisas erradas e mesmo ilegais por necessidade, e nunca tive medo que minha raça fosse um elemento que reforçasse minha possível condenação; 10) Posso ir numa livraria e perder a conta de quantos escritores de minha raça posso encontrar, retratando minha realidade, assim como em qualquer loja e encontrar diversos produtos que respeitam minha cultura; 11) Nunca sofri com brincadeiras ofensivas por causa de minha raça; 12) Meus pais nunca precisaram me atender para aliviar meu sofrimento por este tipo de "brincadeira"; 13) Sempre tive professores da minha raça; 14) Nunca me senti minoria em termos da minha raça, em nenhuma situação; 15) Todas as pessoas bem sucedidas que eu conheci até hoje eram da mesma raça que eu; 16) Posso falar com a boca cheia e ficar tranqüilo de que ninguém relacionará isso com minha raça; 17) Posso fazer o que eu quiser, errar o quanto quiser, falar o que eu quiser, sem que ninguém ligue isso a minha raça; 18) Nunca, em alguma conversa em grupo, fui forçado a falar em nome de minha raça, carregando nas costas o peso de representar 45% da população brasileira; 19) Sempre pude abrir revistas e jornais, desde minha infância, e estar seguro de ver muitas pessoas parecidas comigo; 20) Sempre estive seguro de que a cor da minha pele não seria um elemento prejudicial a mim em nenhuma entrevista para emprego ou estágio; 21) Se eu declarar que "o que está em jogo é uma questão racial" não serei acusado de estar tentando defender meu interesse pessoal; 22) Se eu precisar de algum tratamento medico tenho convicção de que a cor da minha pele não fará com que meu tratamento sofra dificuldades; 23) Posso fazer minhas atividades seguro de que não experienciarei sentimentos de rejeição a minha raça.
Esta realidade destroça meu mito pessoal de meritocracia. Minha vida não foi o que eu sozinho fiz dela. Muitas portas me foram abertas baseadas na minha raça, assim como fechadas a outras pessoas. A opção de falar ou não em privilégios dos brancos já é um privilegio de brancos. Se o racismo, e os privilégios dos brancos são estruturais, as ações contra o racismo devem ser também estruturais. Racismo não é preconceito: racismo é preconceito mais poder. Se não forçarmos mudanças nas relações e posições de poder em nossa sociedade, estaremos reproduzindo o racismo que recebemos. E agora chegou a hora de a universidade dizer publicamente: vai ou não vai "cortar na própria pele" o racismo que até hoje ajudou a reproduzir, estabelecendo imediatamente Cotas no seu próximo vestibular? Se mantivermos o vestibular "cego às desigualdades raciais" estaremos, na verdade, mantendo nossos olhos fechados para as desigualdades raciais que nós mesmos ajudamos a reproduzir sociedade afora.
Nós, brancos da universidade que assinamos esta carta já nos posicionamos: exigimos cortar em nossa própria pele os privilégios que até hoje nos sustentaram. Cotas na UFRGS já!

Adestramento Cristão




Ariovaldo Jr

Crente é um bicho estranho. Você grita “AMÉM?” e ele responde gritando o mesmo. Se perguntar pela segunda vez, ele responderá mais alto. Se no meio do louvor você gritar “pule na presença do Senhorrrrrrrr”, então eles pulam. Se você dançar de modo estranho, verá correspondência imediata nas pessoas.Sua linguagem é facilmente influenciável por jargões. Basta pegar qualquer expressão bíblica cujo significado seja obscuro para a maioria, e pronto! Também colam as expressões inventadas que possuem aparência de espiritual, como por exemplo “ato profético”. Difícil de crer que nem existe esta expressão na Bíblia né?Facilmente também estereotipamos outras coisas que fazem do crente um ser quase alienígena: os lugares que frequenta, o conteúdo de suas conversas e a aversão às coisas “do mundo”.Pena quem os crentes não são condicionados a obedecer a todo tipo de “comando”. Parece que o adestramento a que foram submetidos possui limitações. Nem todos aceitam sugestionamentos que os levem a renunciar a seus interesses; ou dividirem suas posses com os necessitados; ou mesmo disponibilizar tempo para aqueles que estão abandonados em asilos, orfanatos e nas ruas.Ah… antes que eu me esqueça, quero deixar claro que amo os crentes. E exatamente por ser um deles é que me incomodo tanto com estas coisas incompreensíveis que aceitamos passivamente em nossa conduta.Posso ouvir (ler) um “Amém” nos comentários?! rs

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tudo junto e misturado


Há quem diga que no Brasil não existe preconceito de cunho racial, afinal somos todos misturados e por isso convivemos pacificamente em meio nossas diferenças. No meu Brasil não há convivência pacífica, nem a inexistência de preconceito racial.
Não estou com isso querendo negar a existência de uma forte miscigenação existente em nosso país, a miscigenação é um fato aqui no Brasil, assim como em outros, muitos outros países, estou dizendo que a forma com que ás vezes lidamos com a miscigenação que é controvertida. Somos brasileiros sim, mas como eu mesma ouvi nesta semana, no seio de nosso país há várias nações representadas e o que nos ensinaram no afã de formar uma identidade legitimamente brasileira foi apagar as diferenças existentes entre nós, e pior, hierarquizar estas diferenças. Inicialmente, o Brasil foi constituído pelos variados grupos indígenas que já habitavam neste lugar quando os portugueses chegaram, dos próprios portugueses, e através do tráfico negreiro foi a vez dos africanos, também oriundos de diversos locais do imenso continente africano. Isso sem falar dos alemães, dos japoneses, dos italianos que foram chegando depois... O que estou dizendo com isso? Onde há diferença, há conflito, há choques e a forma como as elites brasileiras arranjaram para minimizar este conflito, foi tentar amalgamar todo este povo a fim de criar uma identidade 100% nacional. A falácia de uma identidade brasileira pretenciosamente morena ou mestiça não dá conta dos conflitos interétnicos existentes em nossa terra, pois, mesmo brasileiros, mesmo habitando um mesmo espaço e falando uma mesma língua, as diferenças persistem e a forma de hierarquizá-las também. Posso ver isso a todo instante, na escola, na igreja, na rua, como hoje mesmo quando presenciei um fato que me levou a escrever sobre isso.
Tomei um ônibus para chegar ao trabalho, este ônibus estava cheio, claro! Quem toma um ônibus às 06:30 da manhã não pode esperar outra coisa... Eu estava de pé bem no fundo do ônibus quando vi um homem de mais ou menos 40 anos se levantar daqueles últimos bancos do ônibus, ele passou por mim e logo depois começou a baixaria: uma mulher um pouco mais velha que o homem, alegou que este pisou em seu pé, ele respondeu dizendo que não tinha sido por querer, pois o ônibus estava cheio. (Vamos combinar que os cariocas da zona norte ultimamente estão bem mal-educados, não cumprimentam as pessoas, não pedem licença para chegar ou sair dos lugares os ônibus, para passar entre as pessoas e quando esbarram em alguém não pedem desculpas mesmo!). E a mulher queria briga mesmo, pois mesmo sob os protestos do cara dizendo que foi sem-querer, ela continuou discutindo com o cara! O homem desceu no jacaré e ela então disse: “Só podia mesmo descer aí, oh no Jacaré. É um bandido!”. São nestas situações de conflito que o preconceito e o racismo aparecem, como apareceu claramente nas palavras daquela mulher, ela teve muito cuidado ao não chamar o cara com suas palavras, de negro safado, negro fedido ou negro qualquer outra coisa, mas subliminarmente o preconceito racial estava evidente, o golpe desferido por aquela senhora de pele clara foi muito maior do que um pisão no pé. Ser negro no Brasil, no Rio de janeiro, infelizmente ainda está associado a ser favelado e bandido. Mudar o nome de favela para comunidade não mudou o sentimento que nutrimos por estes lugares, por estes bolsões de miséria onde a presença da população negra é bem maior comparada a outros grupos. Lembrei-me de um outro fato acontecido no início da semana passada quando a polícia covardemente matou um jovem (negro, diga-se de passagem) trabalhador numa operação num dos morros da cidade, alegando que este jovem era bandido. Parece que há um consenso em julgar estas pessoas que moram nas comunidades como bandidos, vagabundos ou qualquer outra coisa que justifique matá-los através da nossa indiferença, da ausência de políticas que realmente deixem de lado o apelo populista e tratem a desigualdade na raiz.
A desigualdade, o preconceito começa no nosso olhar. Ele está presente permeando todas as nossas relações, ele contamina nosso olhar para o negro, para a população indígena, para os nordestinos e para todos os outros grupos desvalorizados socialmente. Ainda permanece em nosso imaginário aquela pretensão de sermos a imagem e semelhança de nossos “criadores” europeus. Ainda não caiu a ficha de que os criadores tão reverenciados são na verdade colonizadores e que é preciso nos aceitar tal qual como somos descolonizando nosso olhar. Juntos e misturados sim! Mas diferentes e não desiguais e porque diferentes, merecemos igual respeito, igual dignidade, porque somos todos brasileiros, somos todos humanos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Por que sou Educadora I


Ressignificar uma história é contar esta mesma história de outras maneiras.

Aquele que quer ensinar deve antes de tudo saber aprender.



Aprendi a gostar de histórias com a minha avó Margarida... Quando penso em histórias, em contá-las ou em ouvi-las é nela em quem eu penso. Minha avó era uma exímia contadora de histórias e eu adorava sentar aos seus pés e ouvi-la falar. Ela não contava as histórias clássicas de chapeuzinho vermelho ou de outros livros infantis, mas contava as histórias da sua própria vida. Ela falava de sua meninice, da separação dos seus pais, da admiração que nutria pela sua mãe, minha bisavó que nunca cheguei a conhecer... Falava dos seus dois noivados e de que nunca havia imaginado se casar com um homem branco. Porém, as histórias que mais me fascinavam eram as da sua conversão ao cristianismo e das suas experiências com Deus.
Cada vez que ouvia minha avó contando suas histórias, eu decidia aqui dentro de mim que seria como ela, uma contadora de histórias... Havia histórias que ela contava repetidas vezes, eram os mesmos sonhos, as mesmas percepções, os mesmos personagens, mas eu não me cansava de escutar. Muitas características que possuo, herdei dela tais como, a sensibilidade para questões espirituais, o temperamento melancólico, a necessidade de quietude e recolhimento e o desejo de transmitir valores através das minhas histórias.
Foi aos pés de Margarida que nasceu a educadora que sou hoje.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Escolhas II


Depois de uma noite bem dormida ou não, o que temos que fazer?
Escolhas...
Ser humano é ser capaz de escolher.
E escolher é uma questão de poder .
Legal, né?!
Nada disso!
Toda escolha é dramática em maior ou menor grau.
Até escolher as coisas relativas ao domínio do prazer como o que vamos comer,
Quando comer são complicadas.
Lembro-me de uma reportagem que li no início desta semana,
Que falava de uma mãe inglesa que teve que escolher entre dois filhos.
Um acidente, dois filhos e apenas uma chance de salvar apenas um deles...
Há escolhas urgentes e necessárias que partem para sempre nossos corações,
Isso me leva a pensar nas conseqüências das escolhas que fazemos.
Algumas delas tem conseqüências irreversíveis porque existe um tempo chamado passado e uma vez passado, não podemos mais voltar atrás,
Mas outras conseqüências se revelam mais flexíveis ...
Por tudo isso, escolher é angustiante...
Dentre várias possibilidades, só podemos ficar com uma,
E quando optamos por uma dentre todas as possibilidades,
Matamos todas as outras.
Como conviver com isso?!
Este é um dilema demasiadamente humano!
Fugir ou lutar?
Calar ou falar?
Sorrir ou Chorar?
Odiar ou Amar?
Fechar ou Abrir?
Adoçar ou Amargar?
Fritar ou Ensopar?
Esconder ou Revelar?
Saber ou Ignorar?
Quanto peso em nossas costas,
Que ninguém há de retirar, ninguém!
Muitas vezes desejamos ter um outro que escolha por nós.
É a saudade que temos da infância onde os pais decidiam nosso destino,
E então muitos inconformados pela expulsão do paraíso da infância,
Se refugiam em líderes religiosos, gurus, chefes, ou em qualquer outro que decida por eles.
Permitir que outros escolham por nós também é uma escolha.
Em dados momentos são escolhas a cegueira intelectual e a emocional.
Em muitos casos ter limites não é uma escolha,
Mas a forma como lidaremos com eles sim.
Entender que a capacidade de escolher reside em nós mesmos,
É algo que se adquire com a maturidade.
Muitas vezes não somos capazes de escolher e escolher bem,
Porque desconhecemos nossas motivações mais íntimas,
Perdemos o poder de escolher quando o inconsciente nos comanda.
Outra interface da escolha é que ninguém escolhe só para si,
Apesar de única e intransferível,
Nossas escolhas sempre afetam a vida daqueles que estão ao nosso redor,
Pais, filhos, irmãos, colegas de trabalho, vizinhos, amigos...
O que torna ainda maior nossa responsabilidade,
Pois é sempre importante lembrar que cada escolha é uma renúncia!
Hoje,
Eu escolhi estar como estou,
Ser como sou,
Produção social, claro,
Mas fruto de escolhas que fiz e faço neste instante.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ausculta


Eu estendi minha mão tentando te tocar,
Mas você passou por mim e não viu.
Eu me esforcei lutando por seu amor,
Mas você não entendeu.
Eu tentei alcançar,
Mas não consegui segurar.
E você nem deu atenção.
Não conseguir o que você queria,
Destruiu meu coração.
E depois de tudo isso,
Vi-me tendo que sozinha levantar-me do chão.
Uma casa vazia, fria, sem mobília...
Não era isso que você queria,
Muito menos eu.
Mas agora não vou abrir a portar para te deixar entrar.
O que eu quero é me vingar!
Vou fazer você chorar como chorei,
Amargar como amarguei,
E não me culpe por essa solidão,
Por favor, não me envolva em sua desmedida confusão !
Só agora percebo que há uma camada branca em teus olhos,
Que te impede de ver qualquer coisa...
Não consegues olhar no espelho e jamais enxergou qualquer outro.
Por isso, vou soltar o que nunca consegui segurar...
Minhas mãos tentaram esconder o buraco que transpassava teu peito,
Mas elas eram pequenas demais...
Então, não insista me pedindo para te fazer sorrir,
Porque isso é pesado demais para mim...
Ainda assim sou capaz de resolver minhas próprias questões.
Quando percebo que meu sorriso é mais largo que o seu,
Ainda me dói, por pensar que há um tempo atrás estaria disposta a me sacrificar por você.
Mas isso não é amor,
Isso não é viver,
É sobreviver às custas de uma fantasia suicida.
Para vivermos bem, cada qual em seu lugar,
Há de se cortar, dividir, separar as bagagens.
Colocar de lados distintos o que me pertence e o que pertence só a você.
Fazendo assim, acabaremos bem!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Reflexões de uma narcisista em recuperação.

A transgressão me mantém sã, mas,
Há em mim uma ferida narcísica que é difícil curar...
Esta ferida me impede de ser livre, leve e espontânea.
E o outro me mostra uma verdade que meus olhos não podem suportar, mas,
Minha ferida está exposta e não posso deixar de olhar.
Dela explodem medo, ansiedade, insegurança,
Ódio, desprezo, intolerância, indiferença.
Todos protagonistas de um circo de horrores,
Que querem transformar minha trajetória numa infeliz estadia na casa fantasma.
Diante desse quadro, vejo que tudo o que é diferente de mim, isto é, o outro, que é amigo, parceiro, como um inimigo mortal a quem se precisa ferir para sobreviver, para se fortalecer.
O outro com sua espontaneidade e com seu poder de surpreender-me se torna uma ameaça.
Mas este mesmo outro já disse a que veio,
Ele está fora do controle, não tem script e não se sujeita a meus mandos e desmandos.
Eu acho que lá no fundo o que desejo é ser como ele...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Copiando o Perissé: Biblioterapia e controle

Li um post no blog do Gabriel Perissé que tem muito a ver com a minha prática de vida e com o meu momento atual:

Biblioterapia e controle

A leitura guiada pelo intuito terapêutico oferece um tipo de controle sobre a situação que nada tem a ver com o controle abusivo, e ineficaz, e ilusório, que queremos ter sobre a realidade. A biblioterapia oferece um controle relativo, porque sempre relativos são os controles saudáveis.
Controle, a palavra, tem a ver com rôle, em francês, "lista", "rol". Observando o rol, fazendo uma lista, não me sinto sequestrado pela situação. Ao menos tomo consciência do que há ao meu redor. Não fico submerso, envolvido a tal ponto pelas águas da dor ou da preocupação que não possa respirar, pensar, agir.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A celebração da mudança



“ O tempo passa, os acontecimentos se sucedem e você, um dia, nota que não é mais a mesma pessoa – Seus sentimentos mudaram, suas idéias mudaram, seu mundo mudou.” Ivan Martins

Julho é o mês do meu aniversário e ele está bem no fim, sem que eu tivesse tempo para fazer uma reflexão sobre a minha vida. A hora é agora, pois, não gosto de deixar de fazer um balanço da minha vida nos meus aniversários. Quando olho para trás, percebo que sou uma pessoa muito diferente comparando há tempos atrás e sou feliz por esta constatação. Reinventar-me foi uma questão de sobrevivência, vou mais alem, foi uma questão de saúde física e psíquica.
O ser humano é por essência um ser dinâmico, logo, mudar faz parte da sua “natureza”, mas todos nós sabemos que não é assim que acontece no mundo real. Há pessoas, famílias que estão congeladas no tempo e no espaço, cristalizadas em papéis que não servem para mais nada além de fazer com que elas sejam infelizes e incompetentes para amar. Olhando de fora, tal realidade parece fruto da insensatez, mas “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Insensatez também faz parte da nossa “natureza”, e em muitas vezes, sem perceber ou querer opta-se pela insensatez em vez de optar-se pela felicidade.
Comecei a pintar meu retrato atual quando saí de casa em 1998, foi ali que eu comecei a mudar e a desconhecer-me tal como eu era. Ao chegar naquele outro contexto, a primeira coisa que decidi foi criar um personagem completamente diferente daquele vivido em minha terra natal. Quando falo em criar um personagem, não estou falando metaforicamente... E também não estou falando que usei de má fé, pois todos nós criamos personagens para sobreviver ante as exigências externas (sociais) e pessoais (internas) e isso é bom, necessário, saudável. Conheço algumas pessoas que desde cedo tiveram que se virar no mundo sozinhas porque não tiveram suporte da família, nem de qualquer outra pessoa, ou grupo, mas que apesar disso, venceram. Estas pessoas tiveram que inventar um personagem, alguém que pudesse dar conta dos grandes desafios que tinham à frente. É sempre assim que acontece quando chegamos num espaço que é novo para nós, temos que inventar um personagem para nos adaptar à nova realidade, que ainda é desconhecida. Lidar com o desconhecido, desperta nossa capacidade criativa, pois diante do novo, temos que inventar e nos reinventar.
Sem a pressão do conhecido e dos conhecidos, eu permitir-me ser muitas coisas, eu permiti-me ser uma pessoa alegre, amiga, leal, devotada, alguém com muita sede de vida!!! Alguém que eu gostaria muito de ser, mas que até então não era. Aquela nova realidade contribuiu para que meu personagem se fortalecesse, e então eu tornei-me aquilo que tinha imaginado. Com isso, os passos que não consegui dar em quatro anos, dei em meses, em 1, 2 anos. Lembro-me também que nada foi tão fácil, às vezes, fantasmas insistiam em me assombrar naquela nova realidade. Sabe qual é a função dos fantasmas? Imobilizar é a principal delas, além de assombrar, trazer medo, inquietação, culpa. Os fantasmas não querem que sejamos felizes. Diz a teoria espírita que os fantasmas são pessoas mortas com problemas pendentes, entretanto, eu digo que quando fantasmas aparecem para nós e lutamos com eles, somos nós vivos que temos problemas pendentes. Estes fantasmas que me assombravam eram personagens dos quais eu não conseguia me despedir e houve um dia enfim que entendi que não precisava mais deles e então deixei-os partir.
Depois de quatro anos, chegou o dia em que o novo se tornou velho e precisei me reinventar novamente, desta vez tive mais dificuldades e como tive dificuldades! Foram muitos fantasmas me assombrando, houve momentos em que dei mais ouvidos aos fantasmas do que qualquer outra pessoa, eu parecia um zumbi, uma morta-viva... E enfim, depois de muito sofrer conseguir me reinventar mais uma vez e outro ciclo terminou, ufa!!
Na verdade, sou várias pessoas em uma só, sem sofrer com transtorno de múltiplas personalidades, claro! Rubem Alves, afirma que em nossa casa, isto é, em nosso corpo habitam muitos hóspedes, eu gosto de pensar que estes hóspedes que abrigamos são os muitos personagens que inventamos e reinventamos ao longo da vida.
Quando me olho e me sinto neste tempo chamado hoje, sinto que há coisas do passado que preciso resgatar tais como: força, tenacidade, alegria, prazer, o frescor das manhas, o banho de praia á noite, o beijo molhado, o namoro sem vergonha que ignora quem esteja passando pela rua, enfim, um tesão bem grande pela vida! Eu sinto que preciso trazer urgentemente estes personagens para este tempo. Preciso também costurar outros, porquê não a chefe? A que não é operária, a que tem mais tempo livre só para fazer o que gosta, a mestranda, a intelectual, a que sai de si e dá de si mesma ao mundo, a que não tem medo, a que respira fundo, a que dorme em paz, a que não precisa da dor para dar voz às suas emoções, a saudável, a irremediavelmente feliz e por que não a mãe? Diante de tudo isso, resta-me dizer que entre o passado que se foi e o futuro que será, vejo que a prioridade hoje é mais uma vez me reinventar.





* Coloquei natureza entre aspas porque acredito que temos uma essência, mas natureza somos nós que fazemos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

“Somos quem podemos ser... Sonhos que podemos ter..."

A Canção dos Homens

“Quando uma mulher, que certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a ‘canção da criança’.

Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.

Logo, quando a criança começa a sua educação, o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.

Quando chega o momento do seu casamento, a pessoa escuta a sua canção.

Finalmente quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, igual como em seu nascimento, cantam a canção para acompanhá-lo na ‘viagem’.

Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.

Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor. Então lhe cantam a sua canção.

A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo, é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.

Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos sem necessidade de prejudicar ninguém.

Teus amigos conhecem a ‘tua canção’ e a cantam quando a esqueces.

Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais.

Eles recordam tua beleza quando te sentes feio; tua totalidade quando estás quebrado; tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.”



Tolba Phanem

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DEUS, sim eu acredito!!!




Existem pessoas que não acreditam em Deus, mas eu prefiro acreditar. Fui ensinada assim e mais tarde eu mesma fiz esta opção. Lembro de Deus nos momentos tristes e nos momentos alegres. Hoje estou vivendo uma situação chata. Estou com uma doença que insiste em permanecer no meu corpo após 3 anos de tratamento. É obvio que me sinto frustrada, chateada! E por isso nesta semana, estou pedindo a Deus direção para o próximo passo. Talvez eu tenha até que entrar na faca (Ufa!). Nestes momentos desafiadores é confortante acreditar e lembrar que há um Deus que cuida de nós...


As palavras abaixo são de Israel Belo de Azevedo Pastor Batista e Blogueiro do Jornal Extra:




Deus sinaliza a sua presença


São muito os sinais da presença de Deus para conosco.


Ele sinaliza sua presença quando nos prepara para a luta.


Ele sinaliza sua presença quando permite que sejamos afiados pelo ferro.


Ele sinaliza sua presença quando evita que trafeguemos pela território dos nossos inimigos*.


Ele sinaliza sua presença quando nos livra das dificuldades e quando não nos livra.


Ele sinaliza sua presença quando nos põe em marcha, seja nos oásis, seja nos desertos.


Ele sinaliza sua presença quando nos põe em marcha, seja nos oásis, seja nos desertos.


Ele sinaliza sua presença quando nos manda para o deserto e nos deixa lá por um tempo.


Ele sinaliza sua presença quando nos sopra ao coração como discernir o certo do errado.


Ele sinaliza sua presença quando nos dá força para vida, embora já não tenhamos nenhuma.


Ele sinaliza sua presença quando evita que enfrentemos dificuldades maiores do que as que podemos superar.


Ele sinaliza sua presença quando nos ensina a viver num mundo hostil que nos diz que melhor é o fácil, o rápido e o forte, para que não acreditemos que é melhor o fácil, o rápido e o forte.




*território dos nossos inimigos = minha paráfrase para terra dos filisteus.

sábado, 26 de junho de 2010

Com o que você sonha quando está dormindo??


Os sonhos são mensagens enigmáticas cheias de códigos secretos que enviamos para nós mesmos.

Os sonhos muitas vezes lembram os filmes e os protagonistas somos nós, mesmo que uma outra face assuma nosso lugar. Nos sonhos falamos o que não temos coragem de falar. Agimos como não temos coragem de agir. Sentimos o que não nos permitimos sentir.

Nossos sonhos revelam nossa verdadeira essência escondida debaixo das máscaras do dia-a-dia. Eles revelam a verdade que está estampada debaixo de nossos narizes mas de que tanto fugimos.

Os sonhos nos inspiram a desafiar a fragilidade dos papéis que representamos na vida.

Os sonhos são uma conexão com o nosso lado misterioso, com o nosso insconciente que nos governa sem que percebamos o quão ele é poderoso...

Os sonhos, assim como a arte tem uma função comum: despertar em nós emoções/pulsões que estão adormecidas, mas que moram em nós, em nossa alma, em nosso corpo...

Eu acho que é por isso que dormir é tão importante, acordamos refeitos em todos os sentidos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Diz a verdade... Eu sou uma gata!!!

Se eu pudesse resumir minhas férias em uma palavra seria: preguiça. Eu até tinha uns projetos em que tinha que agir, me movimentar, mas o meu corpo, minha mente, minha disposição estavam em marcha lenta. Decidi não lutar contra isso a despeito de ser certo ou errado. É claro que senti uma pontinha de culpa, mas não deixei a bicha me influenciar não. Vivi umas férias deliciosamente preguiçosas.Voltei de férias esta semana e ainda me sinto tão preguiçosa... Se eu pudesse não faria mais nada da vida... Claro que existem as coisas que ainda quero alcançar na vida, mas agora eu não quero correr e sim me arrastar. Não é me arrastar porque me sinto pesada de cansaço, mas arrastar meus pés pela vida sem pressa, sem correria, deixando a vida acontecer, quase que deixando a vida me levar.
Estou tão preguiçosa que não consigo nem mesmo filosofar sobre este meu estado de espírito, nesta semana quando li meu mestre Rubem Alves descrevendo a filosofia do gato, soube muito bem do que ele estava falando, aliás, vi nos seus escritos uma tradução de tudo o que eu estava sentindo. Por isso, transcrevo aqui alguns fragmentos da Filosofia do gato de Rubem Alves:
“Camus observou que o caracteriza os seres humanos é a sua recusa em ser o que são. Eles não estão felizes com o que são. Querem ser outros, diferentes. Por isso, somos neuróticos, revolucionários e artistas. Do sentimento de revolta surgem as criações que nos fazem grandes. Mas nesse momento eu não quero ser grande. Quero simplesmente ter a saúde de corpo e de alma que tem o meu gato. Ele está feliz em sua condição de gato. Não pensa em criações que o farão grande.
Deitado ao lado do aquecedor (que manhã mais fria!), ele se entrega sem pensar, às delícias do calor macio. Nesse momento ele é um monge budista: nenhum desejo o perturba. Desejos são perturbações na tranqüilidade da alma. Ter um desejo é estar infeliz: falta-me uma coisa, por isso desejo... Mas para o meu gato nada falta. Ele é um ser completo. Por isso ele pode entregar-se ao sabor do momento presente sem desejar nada. E esse “entregar-se ao momento presente sem desejar nada” tem o nome de preguiça. Preguiça é a virtude dos seres que estão em paz com a vida”.

domingo, 6 de junho de 2010

Pensando Sobre a Vida


O que digo aqui parece óbvio, mas não tão óbvio quando se é humano, complexo e paradoxal...



I
As feridas fazem parte da vida, por isso não devem ser ignoradas e precisam de atenção e cuidado para que possam sarar.
Em muitos casos não sabemos o que fazer com nossas feridas, ou as ignoramos ou as valorizamos demais, lançando-as em rosto alheio toda vez em que fazemos contato com outros. Muitos já não sabem falar de mais nada além de suas feridas. Suas almas encontram-se cancerosas, sem esperança, quase mortas...
Muitos só sabem que ainda estão vivos por causa da dor que lhes atormentam noite e dia.
E eu digo, meu Deus, quanta escuridão! A vida não é apenas isso, não é apenas um rastro de dor e destruição, vamos abrir uma janela e deixar o sol entrar e iluminar esta casa!

O sol nasce e está no mesmo lugar todos os dias, mas só o vê quem abre a janela.

II
É inútil querer mudar os outros, talvez esta seja a maior das minhas frustrações...
Eu gostaria de mudar muitas realidades, muitos rostos, muitos corações, mas não posso! Eu não tenho este poder!
E ironicamente esta é a minha maior liberdade! A possibilidade da minha felicidade só existe porque me descobri destituída deste poder.

III
Não é nos outros que devemos encontrar respostas para o que está sem explicação e sim em nós mesmos.
Em alguns momentos só o que encontraremos será vazio e perplexidade, não é necessário ter medo do vazio, é preciso vivê-lo como aquele silêncio gostoso em que gozam as pessoas que se querem bem.
Existem vazios que nunca serão preenchidos a não ser com a paz da ignorância, isto se chama confiança ou fé!

IV
O autoconhecimento não precisa ser uma tortura, embora em alguns momentos ele seja realmente muito doloroso.
Não é à toa que fugimos da verdade através das projeções, das racionalizações, e etc. Olhar para dentro de si exige coragem, amor próprio e respeito.
O autoconhecimento não é para os fracos, é apenas para aqueles que estão dispostos a romper com a frágil personalidade que foi forjada na família, na escola e quem sabe igreja ou outra instituição durante a infância e a adolescência, pois há de se questionar todos os valores e princípios incultidos durante estas fases. O que for bom, preserva-se e o que foi destrutivo descarta-se. Parece simples, mas não é, em muitas vezes nossa mente está fundamentada em bases destrutivas e abandoná-las e perder parte do eu. Perder parte do eu é um prenúncio da própria morte.
Mas perder parte do eu é o que nos possibilita uma nova vida, assim como acontece com a borboleta, que perde o casulo para ganhar os ares. Penso que precisamos manter esta perspectiva até mesmo quando uma tragédia pessoal nos abate, pois se soubermos como fazê-lo sempre ganharemos algo com as perdas.

V
Demorou, mas não resisto mais a idéia de ser livre.
Ser livre é ser justa e ser dona apenas das minhas escolhas.

terça-feira, 25 de maio de 2010


“Quem passa pela dor costuma ficar em silêncio”.

“Escrever ajuda o sofredor a expurgar sua dor”.

Faz tempo que não escrevo no blog e nem em lugar nenhum. Não quero deixar o blog abandonado, pois quando iniciei este blog tinha a intenção de fazer da escrita uma prática quase diária... Mas a verdade é que só escrevo em surtos.
Observar esta minha realidade me fez pensar no que realmente me faz escrever. Posso afirmar que escrever para mim significa sobretudo expurgar minha dor, denunciar o que me fere, o que me incomoda, o que me machuca. Escrevo também quando estou ansiosa, pois escrever me acalma... Não tenho escrito porque não estou sofrendo, estou fora de qualquer crise aguda ou crônica da alma, ou seja, o sofrimento não inunda minha alma como há algum tempo atrás.
Quando olho para trás, percebo que aquela fase carregada realmente passou. Se foram as nuvens plúmbeas, a tempestade, a enxurrada de dor, a devastação. Me sinto leve, bem leve, consigo até respirar melhor... Finalmente estou livre para elaborar projetos de paz e felicidade e viver melhor.
A nossa vida não transcorre numa linearidade, pelo contrário, ela é cíclica, fatos que vivemos ontem se apresentarão novamente para nós em algum lugar do futuro. A forma como lidamos com estes fatos no passado definirão como os receberemos no futuro. Creio que em minha alma, na alma de todos existe um espaço, um quarto destinado à dor, ao sofrimento. O que aconteceu comigo, é que o meu quarto do sofrimento estava tão abarrotado, que explodiu, supurou como uma úlcera e inundou tudo o que estava pela frente. Águas jorrando com uma força violenta, implodindo o meu corpo... Caos era só o que se via pela frente. Toda minha visão e meus humores foram tingidos de cinza chumbo.
O quarto continua lá, mas o conteúdo dele está minimizado... Foi elaborado, digerido, processado... E hoje quando olho para este mesmo mar, para este rio, para estas águas, tudo parece muito tranqüilo, finalmente a bonança chegou!
Hoje falando do sofrimento, falo do alto de uma maturidade que me impressiona, mas quando a dor vem, sempre o sentimento primeiro é o daquela menina que fui e que ainda mora em mim... Desconfio da dor, ela me ameaça, não quero nem vê-la, muito menos aceita-la. E será sempre assim, o que muda é que não é a menina que fala por último, nem a que fala mais alto.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Do livro: " A águia e a galinha" Uma metáfora da condição humana - Leonardo Boff





"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um
pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote
de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e
ração própria para galinhas, embora a águia fosse o rei/rainha de todos
os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de
um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha.
Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras,
apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois
tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará
como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia,
ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não
à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava
distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo ciscando grãos. E
pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia
será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão,
pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá
sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma
última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo.
Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos
homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das
montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não
à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida.
Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na
direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade
solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico
kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a
voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou...
até confundir-se com o azul do firmamento..."



EU SOU UMA ÁGUIA!!!

segunda-feira, 22 de março de 2010

“É duro olhar para os limites. Mas não fazê-lo pode ser pior”. Eliane Brum

Ontem à noite estava assistindo a uma entrevista com José Alencar, nosso vice-presidente que sofre de câncer. Um câncer agressivo que já teria levado muitos outros. Porém o que me chama a atenção na história de José Alencar , e na forma como ele enfrenta o seu câncer é a sua fé, sua coragem, sua firmeza diante de tão terrível adversidade. É claro que ele conta com tecnologia avançada, ótimos médicos, hospitais excelentes, recursos financeiros, coisas que a maioria da população nem sonha em possuir. Mas o que ainda me chama a atenção é quando ele declara que seu problema está nas mãos de Deus e que se Deus quiser levá-lo não precisa de câncer e que se não quiser levá-lo não há câncer que o leve.
Diante de tanta fé e otimismo eu me pergunto como reagiria diante de um diagnóstico de câncer. Não consigo nem imaginar... Penso que antigamente, o câncer era algo bem distante de nós, algo de que só ouvíamos falar e bem de longe, alguns até hoje não pronunciam esta maldita palavra... Já hoje não, ele está bem diante de nós, quando faço alguma anamnese ou qualquer outra entrevista médica, respondo afirmativo quando sou interrogada a respeito de casos de câncer na família.
Mas não é preciso chegar um câncer para aprender a reagir positivamente diante das adversidades, diante das perdas, diante das frustrações tão comuns aos seres humanos. Já ouvi muitos religiosos usando as seguintes palavras fora de contexto dizendo que Deus não nos dá mais do que possamos suportar, enquanto o que Paulo realmente quer dizer é que quando Deus permite que uma tentação ou provação nos assalte, promove também meios para que possamos escapar dela. Estou falando isso porque muitas vezes a vida e não Deus nos dá mais do que podemos suportar sim. A vida não é nem um pouco boazinha conosco, nem seleciona os eventos que nos atingem de acordo com nossa capacidade de resistência, ou de acordo com as potencialidades que conseguimos desenvolver. Em muitos casos somos pegos desprevenidos, despreparados, literalmente com as calças na mão e então como reagimos? Como reagimos se a estrada da vida não nos leva exatamente onde desejamos? O ideal seria nos depararmos com a morte para então começarmos a viver, mas somente os fortes enfrentam bem a morte.
Os fortes são os que enfrentam a morte de forma consciente e responsável. Eu sei que não sou uma pessoa forte. Há um pouco mais de dois anos, perceberam por mim que eu estava doente. È isso mesmo, digo que perceberam porque eu mesmo adoecida e com sintomas bastante evidentes eu não conseguia perceber. Eu dava sinais de cansaço, exaustão, estresse... Havia submetido a uma pressão absurda e achava que aquilo tudo era normal, até que parei de dormir e então realmente me convenci de que não estava bem. Ao me deparar com minha enfermidade, minha reação não foi nada boa, assim como as reações da maioria dos mortais diante de uma enfermidade costumam ser bastante delicadas. Eu não conseguia entender como contribui para produzir aquele estado mental tão conturbado. Uma doença é sempre uma oportunidade para o enfermo fazer uma reavaliação da vida e comigo também não foi diferente. Fui obrigada a reavaliar minha vida e meus relacionamentos na marra e aos poucos fui entendendo como lidava como a vida de uma forma que no mínimo era esquisita, estranha, isso para não dizer incoerente com muitos valores que eu professava.
Acredito que com exceção das deformidades genéticas, nós mesmos criamos nossas doenças. Criamos nossas doenças com nossos medos, rancores, ressentimentos, com nossa ansiedade, com aquela saudade que não sabemos o que fazer com ela, com os desejos frustrados, com nossa fúria incontrolável, com nosso ódio e até mesmo com nosso excesso de generosidade, pois, criamos doenças quando damos muito mais do que recebemos.
Meu marido sempre diz que uma das coisas que sempre chamaram sua atenção para mim são o brilho dos meus olhos e minha paixão pela vida. Eu realmente tenho muita energia, tenho esta gana, esta sede de viver, esta paixão pela vida, mas eu estava empregando esta minha energia de forma errada e isso me deixou doente.
A cura é um processo longo é que está exigindo de mim muita paciência e superar limites que talvez eu tenha imposto a mim mesma. Percebi, ou melhor, tenho percebido que não é a minha história que me limita, mas a interpretação que eu faço dela. Minha doença me forçou a olhar para mim mesma e foi muito doloroso olhar para aquela pintura. O que vi foi uma mulher atormentada, sofrida, dolorida, angustiada, machucada, perdida... Ainda é doloroso olhar para esta figura. Doloroso também foi perceber que não fui eu que pintei este quadro sozinha, mas cabia a mim a responsabilidade de preservá-la assim ou não. E é obvio que quero deixar esta mulher com um semblante mais sereno e feliz, um rosto que transmita paz. Mas só é possível saborear a paz depois de atravessar uma tempestade. Estou aprendendo bem aos poucos que talvez o mais importante não seja apenas atravessar uma tempestade, mas como atravessar uma tempestade, que são inevitáveis.
Eu atravessei esta última tempestade despreparada, perplexa, assustada, em muitos momentos eu parecia uma criança e me comportei como uma criança, isto porque eram os únicos recursos que eu possuía, mas aprendi que tinha que desenvolver outras potencialidades se quisesse avançar. Se quisesse retocar e pintar um quadro de mim mesma que fosse mais agradável de se contemplar.

Paula 22.03.10

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ninguém melhor para interpretar um sonho do que o próprio sonhador


"Sonhar significa não se prender à "lógica inflexível da mera repetição", e sim embarcar numa viagem arriscada, mas fascinante, de pensar e sentir o "novo" e querer vivê-lo no cotidiano. Todos sonhamos com o "novo". Temos direito de fazê-lo(...) O novo pode vir ou de alguma realidade não criada, diferente ou de uma meneira diferente, ou de uma maneira original de realizar as coisas que fazemos(...)

Realizar sonhos tem um preço que se paga com a fidelidade, com a constância, com o esforço, com o desejo de crescer, com a busca do mais... e uma boa dose de risco, de valentia que não mede dificuldades, de ousadia criativa(...) Os sonhors revelam aquilo que é mais humano... e divino, em nós (...) 0 que está no nosso sonho é a nossa força, a nossa possibilidade, a nossa energia de ser, a nossa originalidade, a nossa identidade".
Centro Loyola



Eu tive um sonho na semana passada.

No sonho que eu sonhei, eu me lançava....

Eu me lançava apesar de todo o medo e a insegurança que sentia!
Paula 18.03.2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

O bicho


Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.


Manuel Bandeira


27/12/1947





Nada mais atual, não é mesmo meus amigos?!!

Onde está a educação do povo carioca???


No domingo, fui ao mercado e saí de casa por volta das 9 horas da manhã. Não estava com muita vontade de permanecer no local e objetivamente coloquei minhas compras no carrinho, ao passar pela caixa eu a cumprimentei desejando-lhe um bom-dia e ela me disse que eu era a primeira pessoa a cumprimentá-la naquele dia. Já era 10 horas da manhã e ela estava ali em seu posto desde as 7 horas da manhã. Este fato reforça o que tenho percebido, é que no geral, os cariocas que já foram classificados como os mais solidários, os mais felizes do mundo estão perdendo a sua educação. Não sei se são os locais onde ando, os bairros de periferia onde convivo... Mas como o povo anda mal educado!! Dificilmente vejo as pessoas usarem obrigado se for homem ou obrigada se for mulher para agradecer um favor. Usar o por favor para fazer uma solicitação que não é uma obrigação do outro por exemplo é uma raridade. Com licença então?! Ás vezes no coletivo ouço um chiado bem baixinho ssssssss (otimista eu acho que é um com licença). Me desculpe então? nem pensar... As pessoas esbarram, pisam no teu pé, te acotovelam e nada! Como se o meu corpo fosse extensão e propriedade delas. Isso sem falar daqueles imbecis que munidos de celulares com música impõe sofrimento às pessoas que dividem o coletivo com ele. O sofrimento pode ser em forma de funk, pagode e até mesmo da mais suave das músicas evangélicas, naõ importa é a música que não quero ouvir naquele momento! Imposição é o oposto de liberdade e para mim cercear a liberdade dos outros é falta de respeito e é crime. Não basta colocar ouvir aquela porcaria só para si, há de se demonstrar para os outros o quanto são poderosos.
Além disso há quem faça da cidade uma grande lixeira, outro dia no ônibus vi uma suina, sim, eu vi uma suina no onibus, que depois de chupar seu pirulito jogou o palito no chão na maior cara dura, e ela não era uma criança em fase de socialização, pela conversa do celular ouvi que até tinha filho (coitada desta cidade é mais um porquinho para sujá-la)... Eu quase tive um infarto porque acho isso o fim! E sempre quase tenho outros infartos quando vejo gente jogar garrafa, latinha pela janela ou papéis pelo chão. O que custa segurar o lixo até ver uma papeleira ou um local apropriado para o lixo?
É... Nesta cidade maravilhosa, o respeito ao próximo é artigo raro e como isso me faz falta, pois é sempre desagradável lidar com pessoas embrutecidas. A educação ao contrário do que está posto, não se compra, nem se vende, ela é adquirida, conquistada, e é ela que nos humaniza. É triste perceber que o mesmo homem que tem feito a Tecnologia e a Ciência evoluirem para o seu próprio bem, em questões essenciais tais quais o respeito a si próprio, ao seu semelhante, o uso do bom senso e o exercício da cidadania tem cada vez mais se bestializado.